Em entrevista concedida segunda-feira à TV France 24, a presidente
Dilma reconheceu que as esquerdas não sabem governar. E isso deve ser tomado
como recado ao PT que realiza, em Salvador, o quinto congresso dos seus 35 anos
de existência, sem saber se é governo ou se é oposição.
"Governos de
esquerda têm de ter coragem de realizar cortes de gastos quando é necessário
mudar" - disse. E em apoio a seu ponto de vista, a presidente Dilma citou
o presidente François Mitterrand que iniciou seu governo na França, em 1981,
prometendo uma administração socialista e, alguns meses depois, foi obrigado a
dar radical guinada conservadora porque teve de garantir o bom funcionamento da
economia:
"Um governo de esquerda tem de mostrar ser capaz não só de fazer
política social, mas também de fazer política macroeconômica de estabilização"
- justificara Mitterrand.
A maior parte dos
políticos do PT ainda não entendeu o que é governar nem o que é uma política de
ajuste. Por isso se põe a guerrear com a equipe econômica conduzida pelo
ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Uma sólida política de ajuste que sempre
produz efeitos colaterais dolorosos, não faz o jogo das elites, como pensam,
mas aciona mecanismos cujo objetivo é botar a economia de volta aos trilhos
para garantir a retomada do crescimento e do emprego. Sem elas não é possível
adotar políticas sociais sustentáveis.
A falta de traquejo
das esquerdas brasileiras na condução de um governo não começou do ponto em que
passou a ser necessário o saneamento das contas públicas, como sugeriu a
presidente Dilma. Começou pelas desastradas políticas anteriores que produziram
o enorme desajuste que agora se pretende corrigir.
O pressuposto que
levou ao descarrilamento foi o de que, uma vez no comando, bastaria que um
partido identificado com posições de esquerda, como pretende ser o PT, impusesse
uma vasta pauta que beneficiasse o consumo de massas para que toda a economia
passasse a funcionar em direção ao cumprimento dos direitos sociais.
O consumo foi
acionado com instrumentos fiscais e voluntaristas e, no entanto, o resultado
foi o fracasso que se viu: sucessão de PIBs mirrados e a inflação que agora
dispara em direção aos 9% ao ano.
E se, mesmo
favorecido pelos bons tempos de bonança do exterior, houve erros tão graves na
condução da política econômica é porque o PT e as administrações de esquerda
que montou não foram capazes de governar com competência suficiente para manter
a economia de pé.
Equilíbrio nas
contas públicas não é exigência dos arraiais da ortodoxia, mas condição
indispensável para definir e executar políticas, quaisquer que sejam elas.
Controle da inflação não é o jogo dos banqueiros e dos neoliberais, mas
condição indispensável para garantir o poder aquisitivo do assalariado.
E
regras claras e estáveis de investimento não são políticas que beneficiam os
donos do capital, mas condição indispensável para crescimento e criação de
empregos.
Infelizmente, não
há garantia de que o recado da presidente Dilma seja entendido ou, mesmo,
ouvido pela militância reunida em Salvador.
Fonte: OESP,
12/06/2015
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