terça-feira, 31 de julho de 2018




As transformações no campo
Dados preliminares do IBGE confirmam que se produz proporcionalmente muito mais por área plantada e por trabalhador empregado
O Estado de S.Paulo
30 Julho 2018 | 03h00
Aumento do número de tratores, maior emprego de defensivos e insumos, crescimento de mais de 50% no número de estabelecimentos que utilizam irrigação e notável busca de acesso à internet (aumento de 1.790% no total de produtores que utilizam a rede mundial de computadores) estão entre as mudanças no campo que explicam o espetacular crescimento da produção agropecuária nos últimos anos mesmo com um aumento muito mais modesto da área cultivada e a redução da mão de obra empregada. Dados preliminares do Censo Agropecuário 2017 que acabam de ser divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam que se produz proporcionalmente muito mais por área plantada e por trabalhador empregado. São esses avanços que asseguram posições cada vez mais destacadas do Brasil na produção e no comércio mundial de produtos agropecuários e saldos comerciais expressivos para o País.
O Censo identificou até agora 5.072.152 estabelecimentos agropecuários no País. Eles ocupam uma área de 350,25 milhões de hectares, extensão 5% maior do que a ocupada em 2006, quando foi realizado o censo anterior. Isso significa que a área destinada à agropecuária avançou 16,57 milhões de hectares no período, o que corresponde aos territórios de Portugal, Bélgica e Dinamarca somados.
Da área total desses estabelecimentos – que corresponde a 41% do território nacional –, 63,37 milhões de hectares eram utilizados para lavouras permanentes ou temporárias, com aumento de apenas 3% em relação à área utilizada por essas culturas em 2006. Nesse período, a produção de grãos calculada pelo IBGE saltou de 117,2 milhões para 240,6 milhões de toneladas, com aumento de mais de 100%.
A geração de inovações tecnológicas, a utilização de métodos de cultivo mais modernos, a disponibilidade de crédito no momento oportuno e em volume adequado, a presença da assistência técnica nas diversas etapas do cultivo, bem como o acesso à informação, que propicia o conhecimento mais preciso do mercado, estão entre os componentes da grande transformação do modelo de gestão dos empreendimentos rurais que assegura ganhos excepcionais de produção e produtividade.
Alguns dados do Censo Agropecuário mostram como essa transformação vem ocorrendo. Entre 2006 e 2017, o número de tratores empregados no campo cresceu 49,7%, chegando a 1,22 milhão de unidades utilizadas por 734 mil estabelecimentos. Adubos, defensivos e outros insumos químicos foram utilizados por 1,68 milhão de produtores, número 20% maior do que o constatado na pesquisa de 2006.
Exponencial foi o aumento do número de estabelecimentos agropecuários com acesso à internet (de quase 2.000%). É verdade que a base de comparação é muito baixa (75 mil estabelecimentos), pois, quando da realização do censo anterior, o uso da rede ainda era relativamente restrito. Mas, no ano passado, 1,43 milhão de estabelecimentos (ou 28% do total) disseram utilizar a internet, que lhes assegura acesso às informações disponíveis sobre técnicas, produtos e, sobretudo, condições de mercado. 
Como em outras atividades produtivas, a utilização mais intensa de tecnologia vem reduzindo a demanda por mão de obra. No ano passado, havia 15 milhões de pessoas ocupadas nos estabelecimentos agropecuários, o que significa que, em 11 anos, 1,5 milhão de pessoas – produtores, seus parentes, trabalhadores permanentes e temporários – saíram da atividade agropecuária. Isso significa que, para cada trator comprado, 4 postos de trabalho foram extintos. É o custo social da mecanização, uma tendência observada em todo o mundo. A média de ocupados por estabelecimento caiu de 3,2 pessoas em 2006 para 3 pessoas no ano passado.
O Censo Agropecuário traz também informações sobre as características do produtor e dos estabelecimentos, a condição legal das terras e do trabalho e as características da produção. Aumentou, por exemplo, a proporção de mulheres entre dirigentes de estabelecimentos agropecuários: elas eram 12,68% do total em 2006 e passaram para 18,64% no ano passado. Mas havia no campo 587,8 mil trabalhadores com até 13 anos de idade.

domingo, 8 de julho de 2018

Espírito de (java)porco...




O Javaporco e a política

No último dia 28 de junho, sob o olhar beneplácito de uma plateia sorridente, nosso Exmo. Governador França sancionou projeto de lei do deputado Tripoli que proíbe a caça no estado de São Paulo. O objeto dessa medida foi o Javaporco, único animal com previsão de abate na natureza regulamentado pelo Ibama, desde 2013.

O semblante dos presentes era sereno, típico de pessoas de bem, especialmente quando têm a absoluta certeza da atitude tomada. O ambiente exalava civilidade em contraste ao ato violento que é o abate de animais e o deputado Tripoli, em sintonia legítima com sua crença, justificava o ritual como o fim da “barbárie com a matança de animais”. Infelizmente para todos nós, um enorme erro de avaliação.

Faço aqui uma profecia fácil. O legado desta atitude corajosa do Governador França é sombrio para a agropecuária e para o cidadão Paulista.

O Javaporco é fruto da ingenuidade e irresponsabilidade humanas. Ao mesclar o Javali europeu com seu parente, o porco, potencializamos a agressividade do Javali com o peso e tamanho das raças melhoradas de suínos domésticos. É um animal agressivo, voraz, extremamente grande e forte. Não raramente encontramos animais com mais de 280 kg.

Exótico e nocivo em nosso ambiente, sem predadores naturais o prolífico Javaporco é contumaz destruidor de nascentes, mudas de árvores, plantações de milho, cana de açúcar, amendoim e de um sem número de produtos da horticultura, além de atacar o homem.

Cresce em projeção geométrica e não há paralelos na natureza de tal poder de destruição no microambiente onde vive. Ocorre que esse ambiente é exclusivamente rural e certamente o público que criou e aprovou tal lei é urbano; não o fosse, certamente não a teriam aprovado.

O erro cometido por entediados ingleses que trouxeram o Javali da Europa para caçá-lo na monótona pampa Argentina, a partir daí cruzado com o porco e disseminado na América do Sul, é agora perpetuado por essa medida que poderá trazer consequências de altíssimo custo para os cidadãos urbanos.

Estimo perdas entre 20 e 30 % de lavouras inteiras com ataques noturnos de bandos de 50 até 100 indivíduos. Voraz, o Javaporco não come o que destrói. Em plantações os pés de milho são cortados rente ao chão e as espigas levemente roídas, muitas intocadas, são perdidas. A destruição chega a 4, 5 hectares em apenas uma noite.
 
O resultado da perda de alimentos, da qualidade nas forragens e da perda de produtividade tem como consequência direta a ineficiência no setor primário e o aumento de custos nas prateleiras dos supermercados. São milhões de reais em prejuízos aos setores produtivos.

Mas e o futuro? Quando assistimos imagens de helicópteros com atiradores portando armas de longo alcance abatendo enormes bandos de javaporcos na Austrália, aliás, um país “civilizado” no padrão que busca o Governador ao abolir a caça em SP, é porque a situação já é apavorantemente crítica. Qual a chance de não repetirmos essa história aqui no Brasil com a medida do último dia 28 de junho?

Sem controle, sem predadores naturais, com enorme capacidade de procriação, alimento farto e disponível o ano todo, como é possível que alguém vislumbre solução não catastrófica para tal situação?

Além da “barbárie”, vi o deputado Tripoli comentar que os caçadores estão “abatendo outras espécies” e “soltando javaporcos para perpetuar a caça”. Onde está o pragmatismo?

Obviamente a solução é coibir os infratores e não abandonar um problema cuja consequência é outro muitas vezes mais relevante e caro para a sociedade. Difícil entender essa lógica.

Sem dizer que a medida certamente vai levar para a ilegalidade centenas de produtores familiares e médios, gente de bem, que, apavorados e inconformados, muito provavelmente não vão entregar aos porcos seu suado patrimônio.

Outra importante consequência é a futura decretação de São Paulo como livre da febre aftosa sem vacinação. Veja o risco de submeter o rebanho bovino do estado mais rico da nação ao transito livre de ungulados que, sem qualquer medida profilática, podem carregar o vírus da aftosa?  O Estado de São Paulo deve transferir risco de tal magnitude aos pecuaristas? E em progressão geométrica?

Infelizmente a medida foi ingênua ou inconsequente. Esperamos do Governador a reversão da sanção anunciada no último dia 28 de junho.

Engº Agrônomo Roberto Hugo Jank Junior, produtor rural.Vice-presidente da Associação Leite Brasil, do Fundecitrus - Fundo de Defesa da Citricultura e da Abraleite. Membro do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp - Cosag

sábado, 7 de julho de 2018

Japão usa oito vezes mais agroquímicos do que o Brasil



Campeão em longevidade, Japão usa oito vezes


 mais agroquímicos do que o Brasil


Marcos Tosi

Na proporção do uso de agroquímicos pela quantidade de terras cultivadas, Brasil fica atrás de países como Japão, Alemanha, França, Itália e Reino Unido.
A imagem de que o Brasil é o país que mais utiliza agroquímicos no mundo é desconectada da realidade e apenas alimenta mitos e inverdades sobre a segurança dos alimentos produzidos no país.

Na proporção de área cultivada, por exemplo, o Japão utiliza oito vezes mais defensivos agrícolas. É o que aponta estudo da Universidade Estadual Paulista em Botucatu (Unesp) apresentado no fórum

Diálogo: Desafio 2050 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, promovido em São Paulo pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Embrapa, Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef).

 “Dizer que somos campeões mundiais no consumo de agrotóxicos é uma abordagem simplista e até irresponsável”, diz o professor Caio Carbonari, um dos autores da pesquisa.

Segundo ele, apesar de utilizar o maior volume de defensivos (em função do tamanho continental), o Brasil está em 7º lugar na proporção com a quantidade de terras cultivadas, ficando atrás de países como Japão, Alemanha, França, Itália e Reino Unido.

E se a análise for pelo volume de alimentos produzidos, o país cai para 11º no ranking do uso de defensivos, e passam à nossa frente Argentina, Estados Unidos, Austrália e Espanha.

“Estamos numa situação bastante confortável quando olhamos os dados com a ótica mais adequada. Temos sido muito eficientes no uso da terra e dos insumos, e essa sustentabilidade só é possível por causa ciência e dos agroquímicos”, avalia o pesquisador. “A imagem que se cria do consumo de agrotóxicos no Brasil está desconectada de nossa realidade”, completa.

Mesmo os critérios de proporcionalidade não são os mais adequados para tratar do tema. A situação do Japão é emblemática disso. Na proporção de área cultivada, os japoneses utilizam oito vezes mais agroquímicos do que o Brasil.

“Não dá para apontar o dedo para o Japão e dizer que o alimento deles está contaminado, que está prejudicando as pessoas. Afinal, a gente sabe da qualidade de vida e da longevidade dos japoneses”, afirma Carbonari.

Segundo dados de 2016 da Organização Mundial de Saúde (OMS), a expectativa média de vida da população japonesa é de 83,7 anos, a mais alta do planeta. No Brasil, a média é de 75 anos.

Qual o melhor critério então para medir o uso equilibrado de agroquímicos? O índice mais adequado seria o EIQ, que vem das iniciais, em inglês, de Quociente de Impacto Ambiental, referenciado pela FAO e pela literatura científica moderna.

O EIQ leva em conta os riscos associados ao uso dos agroquímicos nas mais diversas situações, incluindo o mecanismo de ação na planta, a degradação e persistência no solo, e os níveis de toxidade e possíveis riscos de contaminação da água, dos alimentos e do próprio homem, seja o trabalhador rural, seja o consumidor final.

O trabalho de pesquisa analisou dados do uso de agroquímicos nas culturas de soja, milho, algodão e cana de açúcar entre os anos de 2002 e 2015.

Em todos os principais quesitos, houve diminuição significativa dos riscos. Para o trabalhador rural, o risco de contaminação diminuiu 54,2%, enquanto para o consumidor a queda foi de 37% e, para o meio ambiente, de 33%.

“Desde 2004 a gente vem numa tendência clara de equalizar, de estacionar o consumo de agrotóxicos no Brasil; ou seja, na contramão de toda a imagem que se construiu na sociedade brasileira”, diz Carbonari.

“Não existe crescimento exacerbado como se divulga. E se falarmos em termos de risco, estamos em situação extremamente positiva, com quedas acentuadas. Comparados com outros países, em qualquer uma dessas culturas, estamos em situação igual ou melhor”.

Para Elisabeth Nascimento, professora de toxicologia da Universidade de São Paulo, compreender a avaliação dos riscos é fundamental para mudar a percepção das pessoas.

Ela lembra que desde os anos 80 os produtores rurais vêm sendo orientados sobre como usar corretamente o que chama de “praguicidas”.

Para se manterem legalizados no mercado interno, e mesmo para exportar, os grandes produtores sabem da necessidade de seguir o receituário agronômico.

A obediência aos parâmetros é fiscalizada, entre outros, pelo Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes, do Ministério da Agricultura, e pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

“Temos de lembrar também que os defensivos não são tão baratos assim, então o produtor procura usar nas doses recomendadas”, afirma.

A pesquisadora acredita que a população deveria ser mais bem informada sobre o conceito de IDA – ou seja, de Ingestão Diária Aceitável.

“Temos hoje no país inúmeros instrumentos que podem nos dizer, com certeza, quanto podemos comer sem correr riscos. Claro que não existe risco zero e nem segurança absoluta. O que mata não é um pouco disso, um pouco daquilo, mas a exposição crônica”, argumenta.


Escorraçar marajás a vassouradas




Escorraçar marajás a vassouradas

Péricles Capanema

Jânio Quadros (1960) e Fernando Collor de Mello (1989) se elegeram despregando a bandeira do combate à corrupção. Fácil de compreender, o assunto irrita pronto, o eleitor logo se sente lesado e responde no voto. Votos de protesto, “contra tudo o que está aí”.

“Varre, varre, vassourinha / Varre, varre a bandalheira / Que o povo já tá cansado / De sofrer dessa maneira / Jânio Quadros é a esperança desse povo abandonado / Jânio Quadros é a certeza de um Brasil moralizado / Alerta, meu irmão / Vassoura, conterrâneo.”

O “caçador de marajás” calcou a mesma tecla. “Essa vidinha tão boa / Vai terminar / Olha que tá chegando o homi / caçador de marajá.” Marajá, para quem não sabe, era o funcionário público privilegiado, altos salários, estabilidade, férias garantidas e prolongadas.

Deixo o passado, volto à eleição do México no último 1º de julho. Existem pontos importantes ainda a tratar, podem ajudar a compreender a confusão da situação brasileira.

As denúncias da corrupção generalizada elegeram Andrés Manuel López Obrador (AMLO) no México, desaguou nele o voto “contra tudo o que está aí”, establishment político, conluios, roubalheira, violência. Contou ainda a promessa de acabar com a impunidade. Como no caso de Jânio e de Collor.

Três anos depois de fundado, o MORENA (Movimento de Regeneração Nacional) conquistou a Presidência da República, conseguiu maioria na Câmara e no Senado, a prefeitura da Cidade do México. Das oito eleições estaduais, venceu em quatro.

Para vencer, o MORENA quis ter aliados à direita. Uniu-se ao PES (Partido do Encontro Social), agrupação ancorada na chamada direita evangélica, conservadora em temas morais e sociais (família, aborto, casamento homossexual). Em seu primeiro discurso, o presidente eleito tranquilizou: “Não agiremos de forma arbitrária, não haverá confiscação nem expropriação de bens. Erradicar a corrupção e a impunidade será a missão principal do novo governo.” Palavras anestesiantes. Quem pode ser a favor da corrupção? Quem quer a impunidade?

Caso AMLO coloque ênfase nas medidas propriamente de esquerda, mesmo no terreno moral, como favorecimento do casamento homossexual, facilidades para o aborto, dificuldades maiores para a família tradicional, o povo o rejeitará. Por quê? A eleição favoreceu a esquerda, é verdade, mas não evidenciou migração da opinião pública para a esquerda.

Mostrou apenas que não teme favorecê-la para obter o que deseja. Caiu a rejeição à esquerda nesta eleição, sem aumentar o apoio e a simpatia. Continuando frágil a sustentação esquerdista, AMLO tem pouco espaço de manobra, precisará pisar em ovos para não se isolar. E medidas muito radicais lançarão rapidamente a opinião pública contra ele.

Futuro? Dependerá de como vai reagir o povo mexicano. Mas não só.  Não convém irritar em demasia o vizinho do Norte, para lá vão 80% das exportações mexicanas. Tem a respeito proposta potencialmente explosiva: a aproximação com a China. Obrador manifestou intenção de investir 5% do PIB em infraestrutura (a porcentagem atual é 2,6%). Não existe dinheiro.  Saída: “A China está muito interessada em investir em projetos mexicanos”. Caminhará por aí? Como reagirão os Estados Unidos?

Em resumo, o programa do novo governo será sempre retroceder no rumo da esquerda na economia, nos costumes, nas leis. Dois fatores podem minorar o desastre: reações vivas nos Estados Unidos e na opinião pública interna.

Falava do Brasil. Aqui também a eleição pode ser resolvida com base na exasperação justa contra a corrupção e a violência, na ânsia de que acabe a impunidade. Não custa lembrar, apenas 15% dos homicídios têm autoria esclarecida. No roubo à mão armada, de 1 a 2%. A mais, estima-se que a maioria dos assaltados nem vá à delegacia, sabe que não vai adiantar nada. A elucidação do crime do colarinho branco está no mesmo patamar.

Três lições: eleição de Jânio, de Collor e de Obrador. É pouco, para dizer o mínimo, votar apenas com esteio na exasperação emocional contra a corrupção, violência e impunidade, contra “tudo o que está aí”. Moral da história, escorraçar marajás a vassouradas pode até ser bom começo, mas não garante porto seguro.

Faltam três meses para aportar, o barco está na tempestade. Se houver desorientação na hora de escolher o porto, teremos retrocessos pela frente. Como no México, mesmo com a opinião pública com fortes traços conservadores, por falta de rumos, o povo pode acabar sufragando o populismo, a demagogia, candidatos de esquerda.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Brasil 2018: o petismo e a tática da confusão




Brasil 2018: o petismo e a tática da confusão

♦  Marcos Machado

Não é necessário ter “bola de cristal” ou pertencer aos altos círculos dos conciliábulos políticos ou financeiros para concluir que a atual palavra de ordem das esquerdas brasileiras é criar a confusão.
         Depois de 13 anos amordaçando o Brasil autêntico pelas mãos pouco limpas do lulopetismo, a esquerda foi finalmente desbancada do poder com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, o qual foi uma consequência direta das monumentais manifestações populares iniciadas em 2013.
Diante do irrevogável “tchau querida”, a esquerda não pode senão seguir o conselho dos revolucionários e das hostes de satanás de todos os tempos: criem e espalhem a confusão, turvando as águas e favorecendo as pescarias suspeitas.
         Essa tática da esquerda não é nova. Muitos inimigos da Igreja e da civilização cristã têm-na utilizado ao longo dos séculos. Com ligeiras atualizações, reproduzo uma penetrante análise do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira mostrando que a confusão é tática comunista.
Numa situação de inferioridade — como aquela em que se encontra hoje o petismo —, a palavra de ordem é: criar a confusão.
‘“Eu vou fazer uma confusão! Vou fazer todas as pessoas pensarem em outras coisas, dizerem outras coisas, cogitarem de outros assuntos, brigarem entre si por outras causas, esquecendo um pouco as razões [que nos levaram ao impeachment, esquecer os crimes do petismo] e criar um pandemônio tal que ninguém se entenda […]. Para quem não vence, a confusão é o melhor meio. Porque aí, dentro da confusão, leva a conseguir o que não conseguiria normalmente por uma votação honesta”.
O nosso contra-jogo é este: denunciar a confusão. “Tudo quanto está acontecendo não é senão uma confusão, que conduz a tornar instáveis todas as instituições, tornar precária a solidez de todas as organizações, e facilitar a hora em que uma chacoalhada derrube o prédio que já está rachado”.
Está descrita a tática da esquerda brasileira nestes últimos meses, e nada indica que ela tenha outra arma a utilizar para tentar retomar as rédeas do País. Visto também o nosso contra-jogo: saiamos a campo e denunciemos a tática petista da confusão — que visa provocar o desânimo, o cansaço e a perda da esperança no futuro do Brasil.
Vamos recordar, pois, os grandes males que o petismo causou ao Brasil. “Animar, esse dever urgente”. Com esse título, escrevia Plinio Corrêa de Oliveira um artigo na “Folha de S. Paulo”, mostrando que “a luta contra esse pessimismo gratuito [lançado pela tática da confusão] deve ser um dos empenhos mais contínuos dos que reagem contra o comunismo; porque dissipar as trevas do desânimo me parece um dos principais deveres do momento”.
E quais seriam, então, as razões de esperança para nós, brasileiros, diante de tanta confusão? A primeira e mais importante é que todo brasileiro tem a cognição de que este ainda será um grande Pais! Por sua extensão territorial, pelas riquezas naturais com que o dotou a Providência, pelas riquezas de alma de nosso povo — uma rara e feliz combinação de intuição, universalidade e bondade —, o Brasil ainda será um grande País.
Edificar o novo Brasil é o grande desafio desta geração que se levantou contra o despotismo de governos esquerdistas. Porque esquerdista, o petismo leva em seu bojo uma acentuada nota antibrasileira. Se não fosse a ação do clero de esquerda e de elementos de projeção na CNBB, o petismo jamais teria alcançado o poder no Brasil. Confessaram-no Frei Betto e o próprio Lula, ao afirmarem que os líderes da esquerda atual saíram das sacristias. Revolvam-se os arquivos dos jornais e encontraremos Dom Cláudio Hummes nas greves do ABC. E também outros bispos esquerdistas promotores da invasão de propriedades particulares.
Enquanto o brasileiro é dado à cordialidade, à bondade e à compreensão, o petismo, pelo contrário, é rebarbativo, prega a invasão, acirra a luta de classes. Quantos antigos terroristas pertencem aos quadros do PT? Algum deles já fez o mea culpa? Portanto, querer impor aos brasileiros a mentalidade petista é atentar gravemente contra a alma nacional, é atentar contra os fundamentos cristãos de nossa nacionalidade.
Podemos classificar os crimes petistas em três graus:
·         Em âmbito individual: desvios de verbas, propinas, enriquecimentos ilícitos, vários militantes condenados pela Justiça brasileira.
·         Mais recentemente começam a sair a público os desvios financeiros de alcance mundial. O bem documentado artigo de Aiuri Rebello no site da UOL (1-6-18), sob o título “Brasil fez manobras irregulares para emprestar dinheiro com desconto para outros países” — melhor diríamos: “Manobras irregulares do PT para favorecer Cuba, Venezuela e países africanos de esquerda” —, mostra como os 13 anos do governo PT depauperaram os cofres brasileiros em favor da esquerda nas Américas e na África.
·         Mais grave e mais profunda nos parece ser a ação do petismo enquanto destruidor da alma brasileira, em outras palavras, destruidor da honra, do brio, da nossa reputação no concerto das nações.
Os fatos mostram que a tática atual da esquerda é criar a confusão. O fruto da confusão é desanimar a reação conservadora que sai às ruas. Nosso contra-jogo é denunciar a tática da confusão e animar a reação conservadora, recordar as potencialidades do Brasil e nossa missão providencial: ainda seremos um grande País. Para isso nos ajudem a Divina Providência e Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil.

Brasil e México perderam de goleada



Brasil e México perderam de goleada

Péricles Capanema

A eleição de Andrés Manuel López Obrador (AMLO) representou derrota acachapante para todos os povos da América Latina. Repito, não só o México perdeu (estamos diante de um grande país, não é uma Nicarágua, um El Salvador); todos perdemos de goleada. O caudilho eleito assume em 1º de dezembro, e só nos resta esperar prevenidos o pior, pois sentiremos logo efeitos deletérios da atuação de AMLO.

Parafraseio dito conhecido: diga-me quem te elogia e te direi quem és. O político mexicano está sendo festejado por líderes representativos de políticas de esquerda que sempre trouxeram miséria e sofrimento para seus povos. E há muita mentira pelo meio. Primeiro, os elogios. Depois, as mentiras.

Evo Morales afirmou que o triunfo de Obrador escreverá “nova página na história da dignidade e soberania latino-americana”. Nicolás Maduro saudou-a como “o triunfo da verdade sobre a mentira”. Dilma Rousseff imagina, a eleição “será uma vitória não apenas do México, mas de toda a América Latina”. Cristina Kirchner, no mesmo diapasão, o triunfo de Obrador “é uma esperança não apenas para o México, mas para toda a região”. Chega... O tom é o mesmo nos milhares de congratulações e manifestações de alegria dos diferentes quadrantes da esquerda, desde a mais carnívora, até a mais herbívora. Raul Castro, Maduro, Evo Morales sentem que a situação deles melhorou. Melhorou também a de Lula no Brasil. Se estão satisfeitos, coisa boa não vem por aí, fico triste.

Falo agora a respeito das mentiras. Muita gente vem dizendo que é o primeiro triunfo da esquerda no México. Santo Deus! Lá a esquerda está no poleiro desde começos do século 20. E vou deixar de lado o século 19. Aqui reside boa parte dos motivos pelos quais o México não vai para a frente. Empantanou no retrocesso e afundou no atraso, apesar de condições potencialmente favoráveis, como a riqueza de petróleo.

Está todo mundo esquecido de que o México foi o país escolhido por Leon Trotsky para se asilar (1937), de que o governo mexicano nunca rompeu com F. Castro? Por anos, foi o único país latino-americano a manter relações com o ditador. O PRI, no poder de 1929 a 2000 por meio da ditadura efetiva, da fraude e da corrupção, é membro da Internacional Socialista. Tudo isso deixa sequelas.

Apesar da história incontroversa, o site do PT, em artigo celebrando a vitória de López Obrador, descaradamente proclama: “Sua vitória põe fim a um domínio de quase 90 anos da direita e centro-direita na política mexicana”. Na verdade, apenas de 2000 a 2012 o México teve governos com propensão liberal na economia.

Repito o óbvio, a esquerda vem infelicitando o México há décadas. Ninguém padece impunemente o infortúnio de governos de esquerda. E com isso, a carga de coletivismo, burocratização da vida, intervencionismo, estatismo, corrupção lacera fundo os ombros do povo mexicano. Tudo o indica, tais mazelas vão se agravar nos seis anos à frente, período do mandato de López Obrador.

Só um exemplo. A reforma agrária mexicana, medida xodó de todo tipo de esquerda, começou forte na década de 10 do século 20. Esse disparate entre nós deu seus passos iniciais bem mais tarde, com a criação da SUPRA (Superintendência de Reforma Agrária) em 11 de outubro de 1962 no governo João Goulart. Depois se agravou muito com os desastres em série que conhecemos.

No México, de 1911 a 1992 (71 anos com espada de Dâmocles sobre os produtores) o governo expropriou mais de 100 milhões de hectares de terras, o equivalente a dois terços das terras agriculturáveis. Melhorou a situação do campo? Não, como aqui, foi desastre ininterrupto, dinheirama dilapidada, fracasso de 70 anos. Hoje, parte dos camponeses foge espavorida rumo aos Estados Unidos (onde ninguém pensa em reforma agrária), para trabalhar lá como mão de obra barata, ganhando muito mais que no seu país natal, em que foram presenteados pela reforma agrária ‘redentora’. Acontece o mesmo em Cuba, agora na Venezuela. Os pobres tentam delas escapar, chicoteados pela fome e desesperança, têm horror dos efeitos das políticas sociais generosas de seus redentores socialistas. Debandam atraídos pela esperança de dias melhores nas egoístas sociedades capitalistas.

Queria falar de outra coisa ainda. A revolução mexicana, da qual Obrador é herdeiro confesso, perseguiu a Igreja, roubando-lhe terras, nacionalizando propriedades, fechando conventos, proibindo culto público e educação religiosa, vestes talares nas ruas, assassinando padres, freiras e fiéis. Foi das mais furibundas manifestações do ódio religioso nas Américas. Perseguidos, morreram como mártires ou soldados cerca de 30 mil cristeros durante a insurreição dos católicos inconformados (a reação cristera). Muitos deles foram beatificados ou canonizados pela Igreja.

Entre todos, avulta-se a figura do sacerdote jesuíta Miguel Pro, fuzilado. Tombou bradando “Viva Cristo Rei”. São dele os extratos de uma poesia-oração a Nossa Senhora das Dores que transcrevo abaixo:

Deixai-me viver a Seu lado, minha Mãe
Para fazer companhia a sua solidão
Eu não quero no caminho da minha vida
Desfrutar da alegria de Belém, adorando o Menino Jesus
Eu não quero desfrutar em sua humilde casa de Nazaré
Eu quero em minha vida
O desprezo e a zombaria do Calvário
Quero, ó Virgem dolorosa, estar perto de ti, em pé.

Beato Miguel Pro, rogai por nós, ajudai o México, sua pátria em perigo, enormemente necessitada de sua intercessão.


segunda-feira, 2 de julho de 2018

Vaticano e a agenda verde anticristã











O ecologismo em seu nascedouro se manifestou como uma nova religiosidade que eleva a natureza à categoria de divindade de tipo panteísta.

Esse substrato visceralmente anticristão é habilidosamente ocultado para o grande público. Para esse, os militantes do ecologismo radical apresentam uma careta simpática de defensores da natureza.

Mas em seus ambientes fechados e em seus escritos restringidos a conversa é outra: o panteísmo. Em algumas circunstâncias deixam transluzir esse fundo.

Foi o que se verificou por ocasião de recente encontro dos grandes potentados das multinacionais do petróleo com o Papa Francisco e altas personalidades do Vaticano.

A surpresa geral não foi pequena, pois esses dirigentes do negócio mundial dos combustíveis fósseis são apresentados pela propaganda “verde” como os piores responsáveis de uma futura morte do planeta.

Por outro lado, o pontificado do Papa Francisco adotou uma política acintosamente oposta a esses líderes do capitalismo. E se engajou numa política que vai de mãos dadas com a propaganda ecologista radical, e que está expressa na encíclica ‘Laudato Si’.

Porém, no referido encontro verificou-se que em lugar de oposição há um fundo de cooperação. E para fazer o que?

O site italiano “La Nuova Bussola Quotidiana” que acompanha atentamente o andamento das políticas vaticanas com olho crítico apontou o princípio geral que inspiraria esse conjunto macrocapitalista formulado por Steven C. Rockefeller em 1997

“Se as religiões querem ter um papel construtivo como membros da nova comunidade mundial que está emergindo, devem reconstruir sua visão do mundo e da ética à luz do pensamento ecológico”.

Mons. Cristian Contreras, bispo de Melipilla, Chile,
ajoelhado diante do altar pagão com sacrifícios oferecidos por bruxo andino
à Pachamama (“Mãe Terra”, ou Gaia). 17 de janeiro 2015.
Imagem de uma igreja que se adapta à imposição ecologista de S.Rockefeller.
Steven C. Rockefeller, segundo o site italiano, é o patriarca da quarta geração de uma histórica dinastia americana que dominou o desenvolvimento da indústria petrolífera. E não só isso.

De acordo com o site que citamos, as palavras desse potentado dos negócios planetários exprimem um programa, aliás visceralmente anticatólico.

Porque a Igreja de Jesus Cristo jamais poderá reformar “sua visão do mundo” como pediu o Sr. Rockefeller. Essa lhe foi revelada por Deus e lhe foi confirmada pelo próprio Filho de Deus como o mais preciosos depósito a custodiar.

Tampouco poderá “reconstruir sua ética à luz do pensamento ecológico”. Pois essa ética se baseia nos Mandamentos da Lei de Deusrevelados a Moisés, e no ensinamento contido na Bíblia, na Tradição e no Magistério da Igreja.

Porém, a política vaticana há algumas décadas e especialmente no atual pontificado parece ter aceito proceder à “reconstrução” exigida pelo Creso sob ar de “modernização”.

Tornou-se assim explicável o referido ‘summit’ a portas fechadas na Pontifícia Academia das Ciências.

O encontro transcorreu nos dias 8 e 9 junho tendo como tema “A transição energética e o cuidado de nossa casa comum”, sob a perspectiva da encíclica do papa Francisco “Laudato Si”.

Desde a publicação dessa encíclica em 2015 acontecem regularmente no Vaticano encontros de alto nível visando a aplicação das propostas do documento pontifício rigidamente a portas fechadas.

Não há debate nem sinodalidade, nem participação, modos de proceder promovidos pelo atual pontificado.

“Não – escreve a “La Nuova Bussola Quotidiana” – aqui se quer simplesmente promover uma agenda, e toda a Igreja é convidada a se mobilizar sobre os temas do ambiente especialmente as mudanças climáticas”.

Sintomático da adoção dessa plataforma anticristã, segundo o site citado, foi a Jornada da Criação promovido em Turim, pela Congregação do Padres Barnabitas, com apoio da Conferência Episcopal Italiana, com o tema “Retorno ao manicômio: o negacionismo climático na era de Trump”. 

Francisco I em Puerto Maldonado, Amazônia peruana em janeiro 2018.
A "nova igreja amazônica" não visa tirar os índios do paganismo,
nem do primitivismo, nem da superstição.
Está em andamento um novo e imenso plano que rompe com Jesus Cristo.
O relator foi o falsário, mas ainda ativo fundamentalista do aquecimentismo, Michael Mann. A diocese de Turim e os padres Barnabitas, louvaram-no por vituperar como doido filonazista a quem põe em dúvida a mudança climática antropogênica.

O encontro foi combinado por Mons. Marcelo Sanchez Sorondo, presidente da Academia das Ciências, pelo cardeal Peter Turkson, chefe da nova Congregação vaticana para a promoção do desenvolvimento humano e a Universidade americana de Notre Dame.

Da parte das macroempresas do petróleo participaram delegados da Exxon Mobil, Eni, BP, Royal Dutch Shell, Pemex, a norueguesa Equinor e sociedades de investimento.

A instrução de Steven C. Rockefeller citada, escreve o site italiano, inspira uma grande sintonia entre a Santa Sé e a ONU, a ponto de a política vaticana achar que a liderança da República Universal partilha as mesmas posições da Santa Sé.

Dessa maneira, a diplomacia vaticana se abre ao projeto de as religiões – e sua convergência no ecumenismo – se encaminham para uma “conversão ecológica”.

O ponto central dessa seria a tomada de consciência de que o homem é parte de uma “comunidade de vida” que abraça animais e vegetais segundo está assinado na ‘Carta da Terra’ da Rio-92 e está referendado na encíclica ‘Laudato Si’.

Assim, conclui o site italiano, a Santa Sé está acertando o passo à uma ideologia profundamente anticristã.

O protótipo dessa “nova Igreja” verde-vermelha já está sendo modelado no projeto de constituir uma Igreja amazônica integrada com a natureza e a cultura – incluídas as superstições – das tribos locais mais degradadas.