segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Depois das eleições a luta continua




Depois das eleições a luta continua


Ronaldo Ausone Lupinacci*
Somos por natureza inclinados a pensar no futuro, talvez pelo instinto da sobrevivência. Isso tanto mais se nota quando acontece um fato muito relevante, que tem importantes consequências a curto, médio e longo prazo. As eleições de 2018 se enquadram na categoria de fato relevante porque apontam para mudança radical (ou quase tanto) dos rumos na vida do País. Daí sermos tentados a especular sobre quais mudanças advirão.
A lógica sugere que elas serão conexas às circunstâncias que determinaram os resultados das eleições. Importa, pois, examinar aquelas circunstâncias e os resultados que se verificaram.
Jair Bolsonaro foi eleito com elevada votação. Não gozava de maior notoriedade, apesar de mais de duas décadas na atividade política. Não estava filiado a partido político influente. Não dispunha de recursos financeiros. Foi, permanentemente, hostilizado pelos grandes conglomerados de comunicação. Proferia discurso substancialmente diferente daquele usual nos meios políticos. 
O que o teria levado a tão meteórica e triunfante ascensão? A meu ver, exatamente o discurso que ecoou favoravelmente em vasta parcela da opinião pública, já rompida com o “establishment” político desde pelo menos 2013. Segundo o “brasilianista” Thimothy J. Power, professor da Universidade de Oxford, Bolsonaro soube extrair das conversas de “sala de jantar” o pensamento conservador que vinha fermentando no Brasil.
Como o próprio Bolsonaro admitiu, e, aliás, parece haver um consenso a respeito, sua eficaz propaganda circulou preponderantemente pelas redes sociais e pela ação boca-ouvido. 
A sintonia entre o candidato e o eleitorado esteve situada em ideias a respeito da religião, da família, da segurança, da moralidade, da liberdade de empreender, do repúdio aos tributos extorsivos, do repúdio a comportamentos libertários (como o desrespeito a professores), da convicção que a prosperidade depende do respeito ao direito de propriedade, entre outros assuntos. 
Como nota tônica prevaleceu o repúdio às seitas anticristãs, notadamente o comunismo. Em síntese, e, em linhas gerais, venceu o ideário da chamada direita liberal ou conservadora. Caíram as principais oligarquias (PT, PSDB e PMDB).
Ao mesmo tempo em que Bolsonaro foi guindado à Presidência da República, seus correligionários obtiveram inesperado êxito na composição dos Parlamentos, a demonstrar que desta vez o voto não foi personalista, mas motivado por razões ideológicas. Este aspecto sugere que não foi Bolsonaro quem arrastou o eleitorado, mas exatamente o contrário: foi o eleitorado quem arrastou Bolsonaro e os candidatos com ele afinados.
Este forte movimento de opinião pública expressa sinais de consistência, carrega, também, algumas debilidades nas quais não vou me deter. Esta força tenderá a influenciar as iniciativas nas áreas dos Poderes Executivo e Legislativo, e, ao mesmo tempo, se opor às propostas dos adversários políticos ou ideológicos. No conjunto ficará reduzido o espaço de manobras das esquerdas, salvo no Poder Judiciário, por enquanto. 
E, é, exatamente no Poder Togado, que vejo a principal ameaça de avanço do processo revolucionário. Neste sentido foi sintomática a fala do Ministro Barroso, do Supremo Tribunal Federal, na qual a pretexto de proteção aos direitos fundamentais, afirmou a existência de consenso no tribunal “em favor das mulheres, dos negros, dos homossexuais, das populações indígenas, de transgêneros, da liberdade de expressão”, em outras palavras, de minorias que segundo a teoria neomarxista compõe o novo proletariado, substituto dos operários e camponeses como aríete da luta de classes.
Afora o ativismo judicial, sobretudo provindo do STF, pode-se formular a hipótese de recrudescimento da agitação por organismos manipulados pelas esquerdas tais como o MST, a Via Campesina, CONTAG, CPT e CIMI, sindicatos, entidades estudantis e outras minorias organizadas como as ONGS ambientalistas. 
Entretanto, este mecanismo – que no passado funcionava eficazmente para promover a discórdia, a revolução social, a guerra civil e o golpe para tomada do poder – hoje parece bastante desgastado. Uma terceira via de assalto ao Brasil pelas esquerdas parece-me que pode vir de fatores externos. 
Não se pode excluir a possibilidade que diante do fracasso de suas forças internas, as esquerdas movam suas peças de xadrez no tabuleiro externo, seja para promover estrangulamento econômico, segundo se infere de matéria publicada no jornal comunista China Daily, seja para promover uma intervenção na Amazônia com fundamento em falsas teses ambientalistas, ou ainda alguma outra iniciativa para desestabilizar a América do Sul, como tentaram com a Guerra das Malvinas em 1982. 
Esta hipótese poderá parecer cerebrina às pessoas que desconhecem o enorme peso que o Brasil tem no cenário internacional, mas foi ratificada pelo destaque que se deu no exterior aos resultados das eleições de 2018.
É previsível que a mídia mantenha a guerra de desinformação que moveu ao eleitorado de Bolsonaro, ainda que de modo velado. A guerra psicológica revolucionária se serve de armas tais como a mentira sob as diversificadas formas de calúnia, difamação, intrigas para perturbar e desorientar os espíritos. Concretamente, isso se daria com o intuito de engrossar a oposição civil ao novo governo. 
Para exemplificar vem à lembrança a falsa acusação feita recentemente à Colômbia (desmentida pelas respectivas autoridades) de que estaria montando um plano para, com o Brasil, fazer guerra à Venezuela.
Em resumo, a guerra incruenta para afastar as esquerdas do poder não terminou, pois elas não se conformaram à derrota, e estão, agora, urdindo seus novos planos para recuperar o terreno perdido. Neste ambiente de paz armada teremos de batalhar para que o os novos dirigentes do Estado consigam realizar as reformas indispensáveis ao saneamento moral, cultural, político e econômico. 
Restabelecer o respeito à família, extirpar a corrupção, eliminar o déficit público, estimular a liberdade de empreender até agora sufocada pela burocracia, suprimir impostos extorsivos e confiscatórios, reprimir o crime em todas as suas formas, restaurar a disciplina nas escolas, recolocar a política externa no eixo histórico, implantar reforma política séria, privatizar empresas estatais, melhorar os serviços públicos em geral, e tantas outras providências desejadas pela maioria silenciosa que elegeu os políticos sintonizados com as principais propostas de Jair Bolsonaro.
É preciso considerar, também, que estaremos sujeitos a decepções. Afinal, o elemento político nacional não irá se regenerar de uma hora para outra. Ademais, alguns são partidários do quanto pior melhor, e, a cegueira de boa parte do eleitorado lhes assegura sobrevivência. Por outro lado, nada de grandioso se faz de repente. 
Teremos de pagar o preço da paciência e da espera. Plinio Corrêa de Oliveira disse que se o PT chegasse ao poder o Brasil levaria 50 anos para consertar os estragos…
Por tudo isso a luta continua, apesar dos naturais anseios de distensão que se seguem aos períodos conturbados na vida nacional. O maior perigo reside em baixar a guarda.
* O autor é advogado e pecuarista.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Brasil, protetorado da China?




Tempestade à vista

Péricles Capanema

Em 1º de novembro o China Daily, jornal estatal, em página editorial sobre as eleições no Brasil advertiu: “Não há dúvida que os interesses nacionais têm grande importância nas relações internacionais. Mas hoje a segurança nacional tornou-se prioridade top em alguns países. E assim, caso Bolsonaro, líder da extrema direita, ponha em prática diplomacia extremista e desencadeie fricções comerciais, teremos que pensar seriamente a respeito”. É aviso sério. A China não deixa dúvidas, reclama a continuação da situação presente. Sabe que para muitos no Brasil ela lesa interesses da segurança nacional.

Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em 2017, o comércio entre os dois países alcançou 75 bilhões de dólares. Exportamos sobretudo commodities (ferro, soja, petróleo, carnes), com pouco valor agregado (economia com empregos piores), importamos em especial produtos manufaturados, com alto valor agregado (economia com empregos melhores). É relação clássica entre potência colonizadora e região colonizada.

Já em fins do século 20, o Brasil enfatizou relações com a China. Na malfadada era petista, a orientação aprofundou-se perigosamente. Os dois desgovernos (2002-2016) depreciaram como parceiros a Comunidade Europeia, os Estados Unidos e o Japão e privilegiaram a China comunista – entre 2001 e 2016, o comércio bilateral pulou de 3,2 para 66,3 bilhões de dólares. Nesse período (mesmo durante o governo Temer), empresas estatais chinesas compraram colossais nacos de ativos brasileiros em especial na área de energia, mineração, siderurgia, transportes, agronegócio, entre outros. Teremos ouvido a esquerda esgoelar contra o imperialismo norte-americano no Brasil. As alegações furadas são as de sempre: exploração, lesão a interesses estratégicos e perigo à segurança nacional. Estavam em jogo capitais privados, com interesses privados. Jamais esbravejou contra o imperialismo chinês. Pelo contrário, favoreceu seu domínio. E são capitais públicos, quem manda neles é a razão de Estado.

Nunca é demais recordar (já tratei do assunto em artigos anteriores, mas não tenho o direito de me cansar), os órgãos de divulgação falam em geral de investimentos chineses, capital chinês aplicado no Brasil, presença de empresas chinesas na economia brasileira. Vão por aí afora. Nunca sublinham o óbvio – ou apenas em raríssimos casos –, não estamos sendo objeto de meras inversões de capitais chineses, de si, bem-vindos, não fosse a circunstância incompreensivelmente silenciada, sobre a qual, mais uma vez, a seguir, ainda comentarei.

Alguns homens públicos frisam, a China pode comprar no Brasil, não pode é comprar o Brasil. Observação correta, contudo, deixa de lado o mais venenoso, que abaixo veremos. Sobre isso devemos berrar em cima dos telhados, mesmo que sejamos como São João, voz que clama no deserto.

Quem está comprando porções gigantescas da economia brasileira não é um Estado como outro qualquer. Os compradores são estatais chinesas, cujos diretores, em geral membros do Partido Comunista Chinês–PCC, são indicados pelo governo de Pequim, controlado de alto a baixo, até nas minúcias, pelo comunismo. Entram ainda no rol como compradores que preocupam, empresas chinesas de economia mista, com controle do Estado, e grupos econômicos chineses, com forte presença estatal, o que os coloca na prática como dóceis seguidores dos interesses do governo chinês. Dando um passo a mais na explicação, o capital privado chinês é bem-vindo (como de qualquer outro país), o domínio do PCC sobre a economia brasileira não o é.

Em outra perspectiva, não é a China, como nação antiga e em expansão, que está comprando o Brasil, de fato, verdade translúcida, por meio de órgãos e empresas do governo, é o Partido Comunista Chinês. Todas essas empresas seguirão os interesses políticos do comunismo chinês, cuja política na região agora está apoiando a Venezuela e procurando minar a influência norte-americana.

Neste caminho, o Brasil, dentro de anos, sei lá quantos, na prática, confessada ou inconfessadamente, perderá as condições de agir como nação soberana, e se transformará em inominado, mas efetivo protetorado chinês. Seremos peões dos interesses chineses. Nenhum patriota quer isso, nenhum órgão com missão precípua de defender a integridade e soberania da nação tem o direito de a tal realidade fechar os olhos.

Momento atual. O Brasil ao se ligar intensamente à China e descurar Estados Unidos, Comunidade Europeia e Japão, caiu numa armadilha. Dela só podemos sair aos poucos, sob pena de dilacerar carnes e quebrar ossos. De outro jeito, muitos setores da produção e empregos dependem em graus diversos da intensidade de relações econômicas com a China. Sensatez no rumo, gradualismo enérgico, mas clareza nos olhos, é o que se espera do governo Bolsonaro que aqui vai singrar no meio da tempestade. Do êxito da navegação dependerá em boa medida o futuro próximo como país próspero e o porvir remoto de nação soberana com grandeza cristã.