segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Bolsonaro deve rever a criação da Serra do Sol





Bolsonaro deve rever a criação da Serra do Sol



Jair Bolsonaro deve rever a criação da reserva Raposa/Serra do Sol, que toma boa parte do território de Roraima, registra o Valor.

“É a área mais rica do mundo. Você tem como explorar de forma racional. E, no lado dos índios, dando royalties, e integrando o índio à sociedade”, disse ele.

Fonte: O Antagonista

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Lições inesperadas da China



Lições inesperadas da China

Péricles Capanema

Bret Stephens, reputado colunista, em 29 de novembro escreveu no New York Times, a China declinará rapidamente, como aconteceu com o Brasil. O jornalista lembrou, em 2009 o The Economist previu um novo poder global, o Brasil, que logo estaria na quinta posição econômica do mundo, ultrapassando Reino Unido e França. E São Paulo seria a quinta cidade mais rica do mundo. Foram palavras vazias do semanário inglês; hoje o Brasil patina para sair do que talvez seja a pior recessão de sua história.

Vai suceder parecido com a China, avisa Stephens. E faz uma boutade, tendo como pano de fundo o conhecido adágio “Quos vult Jupiter perdere, prius dementat” (Júpiter, a quem quer perder, antes enlouquece). Na versão de Stephens: “Os deuses, quando querem destruir um país, enaltecem-no antes como país do futuro”. Recorda, foi assim com União Soviética nas décadas de 50 e 60, Japão nos anos 70 e 80, União Europeia nos anos 90 e na primeira década do século 21.

Bret Stephens alinha razões para o declínio chinês. A primeira delas, a liberalização econômica é insuficiente, o controle estatal é enorme. Isso nunca dá certo. Segunda, realidade largamente oculta, existem milhões de trabalhadores forçados (escravos, em outra linguagem). O articulista recorda como sintoma gritante mensagem desesperada encontrada em bolsa vendida pela Walmart, confeccionada numa prisão de Yingsham no sul da China: ali os detentos padecem 14 horas diárias de trabalho, entremeadas de surras. Depois de afirmar que tiranias não favorecem o progresso econômico (lembra que em 2020 o controle estatal chinês será minucioso), o jornalista norte-americano empilha outros dados que fundamentam sua previsão de declínio chinês.

Em 2014, estimativa do grupo suíço UBS, fuga de capitais de 324 bilhões de dólares. 2015, 676 bilhões. 2016, 725 bilhões. O que é isso? Medo do futuro. Mais, a dívida pública e privada é gigantesca: 34 trilhões de dólares. Outros sintomas: 46% dos chineses ricos querem emigrar, a maioria para os Estados Unidos. Mais uma vez, insegurança quanto ao futuro. Finalmente, põe em dúvida a credibilidade de estatísticas chinesas, ningué conhece ao certo o que acontece lá. Termina prognosticando, a China é tigre ferido. E poucas vezes um tigre ferido é plácido.

O ataque ao modelo chinês veio de jornalista Prêmio Pulitzer (2013), antes colunista do Wall Street Journal, agora no New York Times. O governo chinês julgou necessária resposta contundente. Escalou para o contra-ataque Ding Gang, articulista do Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista chinês, o que ele fez, publicando crítica ácida no Global Times.

Interessam-nos especialmente as razões da diferença entre o Brasil e a China, destacadas pelo chinês. Fala de cátedra: “Trabalhei na Europa, Estados Unidos, Ásia e América do Sul por quase vinte anos. Morei no Brasil por três anos e sei bem por que a economia brasileira se enfraqueceu”.

Segundo o virtual porta-voz do PCC, a razão principal é o sistema de crenças diferente dos dois países. Ao explicar, esmiuçar os motivos, falará em cultura e tradição. De modo diverso, costumes baseados em princípios. Nada mais tradicional enquanto análise, passa longe do marxismo, mas foi a única justificação plausível encontrada por ele para fazer frente ao bombardeio de Stephens.

Afirma o membro do PCC: “Talvez os brasileiros e o autor [Stephens] acreditem no mesmo deus [em minúscula no texto], mas este não é, de forma alguma, aquele deus em quem os chineses creem. O deus mencionado por Stephens não é funcional para a China, nem existe no sistema de crenças do povo chinês”.

Entra na análise: “Por que o Brasil nunca teve um sistema manufatureiro forte e sofisticado? Mais, por que decaiu e caminha no rumo oposto?”.  Isto é, aos poucos deixa de ser país industrializado e volta a ser fornecedor de matéria-prima. Responde: “Não é questão de economia ou de instituições, é de cultura”.

Trombeteia: “Os brasileiros não são aplicados nem trabalham duro como os chineses. E nem poupam para a geração seguinte, como os chineses. Apesar disso, querem para si os mesmos benefícios sociais existentes em países desenvolvidos”.

Melhorando, a educação chinesa tradicional forma pais preocupados com o futuro dos filhos, gerações habituadas ao trabalho, que não se agarram ao Estado. A educação brasileira moldaria pessoas preguiçosas, que almejam viver de benesses estatais, torna os pais irresponsáveis.

Ding Dang então alardeia: “A cultura dominante no Brasil faz o país inadequado para a economia manufatureira. Sem industrialização, é impossível o desenvolvimento sustentável. Por isso, o Brasil depende de matérias-primas e commodities”. E pontifica sobre o motivo principal para a pobreza do Brasil: “é a tradição cultural do país”. Para ele, Bret Stephens esqueceu dois pontos em seu olhar sobre a China: cultura e tradição. E são os aspectos principais no raciocínio econômico. O desenvolvimento chinês tem como base a tradição cultural chinesa e estimulará o desenvolvimento das potencialidades do país.

Para que o país se industrialize, resume Ding Gang, a cultura é o fator mais importante. “Isto inclui como o povo considera o trabalho, a situação da família, a educação das crianças e a acumulação da riqueza”. Família, educação infantil, formação de patrimônio. O que trará, com o tempo, garante ele ainda “felicidade familiar e pessoal”. De passagem, reconhece o óbvio, mas não se importa: “Pode parecer racista diferenciar tipos de desenvolvimento com base na cultura”.

Vida morigerada, hábitos de poupança, responsabilidade familiar, educação infantil séria. Em suma, sanidade da família, cadinho da cultura nacional, o grande fator de progresso de um povo. Para Ding Gang, a China não fracassará porque a tem. E o Brasil já fracassou, porque não a tem ou tem pouco. Se Ding Gng atormentasse o leitor com embaralhados argumentos marxistas, todo mundo ia achar que era apenas mais uma saraivada de disparates. Fundamentou sua defesa em terreno diverso, o que é muito revelador. De passagem, se um conservador brasileiro escrevesse sobre o mesmo assunto um décimo do que o comunista chinês apregoou, receberia pedradas de todos os lados. Como é comunista chinês quem escreveu, garanto já de saída, todos vão se calar.


terça-feira, 4 de dezembro de 2018

O INCRA precisa mudar de nome





Do novo governo só reclamo que cumpra as promessas consoantes ao bem comum. Solicito, contudo, uma providência simples para o bem do Brasil. Mais que pedido, é sugestão enraizada na força das coisas simbólicas.
O INCRA precisa mudar de nome. Seria medida de enorme simbolismo. Tantas vezes o impacto de providência de tal tipo vale mais que fatos de outra natureza, muda o clima, determina rumos. Seria fato prenunciativo, sugeriria intenções de construção e progresso. O INCRA é retrocesso macabro.
O MST, companheiro, parceiro e cúmplice do INCRA por anos sem fim, conheceu bem o poder dos símbolos. Fazia questão que as autoridades enfiassem na cabeça o boné vermelho dos bandoleiros e agitadores do campo brasileiro, cuja ação tantas vezes foi qualificada, com pertinência, de terrorista. Até mesmo e repetidamente por Jair Bolsonaro. Recentemente, advertiu o presidente eleito: 

“Quando você vê o pessoal do MST invadindo propriedades, depredando, matando animais, tocando fogo em prédio, você fica indignado com isso. Temos de ter uma relação bastante dura, para esses que vivem fora da lei sejam enquadrados. Muitas vezes os proprietários entram com ação judicial de reintegração de posse, ganham na Justiça, mas os governadores não cumprem a ordem por questões ideológicas. Toda ação do MST e do MTST devem ser tipificadas como terrorismo. A propriedade privada é sagrada”.

Por trás, não foi raro, essas ações eram combinadas nos escritórios do INCRA, com participação de gente do INCRA. Hoje se cala isso. Mas é fácil verificar, é só perguntar aos agredidos Brasil afora como as coisas aconteciam.
Aliás, tenho boa companhia em minha proposta de mudar o nome do INCRA. O deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), médico ortopedista, indicado para o ministério da Saúde do próximo governo, tem grandes planos para a pasta. Qual é a primeira medida proposta por ele? Simbólica. Quer mudar o nome do Mais Médicos para Mais Saúde. Com isso, expulsa do programa a fedentina castropetista. 
Ótima profilaxia, desinfeta. Declarou o Dr. Luiz Henrique: “Era um dos riscos de se fazer um convênio e terceirizar uma mão de obra tão essencial. Pareceu-me muito mais um convênio entre Cuba e o PT e não entre Cuba e o Brasil. Era um risco para o qual a gente já alertava de início. Improvisações costumam terminar mal. Não deveria ter esse nome. Deveria se chamar Mais Saúde”.
Proponho o mesmo com o INCRA. Mudem o nome, INCRA fede. Vamos desinfetar. Perguntem a qualquer produtor rural, desde os muito pequenos até os grandes, que já tiveram contato próximo com as traficâncias do órgão, e a resposta será sempre nessa linha: “Catinguento, por mim podiam fechar essa porcaria”.
Vou apenas transcrever agora a opinião de Xico Graziano, especialista reputado, ex-presidente do INCRA:
“Devastador. Assim classifico o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre os assentamentos de reforma agrária no Brasil. Foram identificados 479 mil beneficiários irregulares. Escandaloso. Esbórnia agrária. Foi nesses termos que a ‘Folha de S. Paulo’ tratou o assunto em editorial (edição de 8-4-16), afirmando que tamanho desvio ‘não surge do nada, só se constrói, anos a fio, com a omissão ou a conivência de servidores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA)’. 

Triste conluio do governo do PT, com a parceria do MST e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG). A malandragem é assustadora: foram identificados 248,9 mil assentados com local de moradia diferente do lote concedido; 23,2 mil já contemplados antes pela reforma agrária; 144,6 mil funcionários públicos; 61,9 mil empresários; 1.017 políticos titulares de mandato eletivo, sendo 847 vereadores. Sem-vergonhice. Tétrico. 

O TCU aponta 37,9 mil pessoas mortas na lista dos beneficiários da reforma agrária. Entre os vivos, 19.393 cadastrados são donos de veículos de luxo, como Porsche, Land Rover e Volvo. Picaretagem pura. Há tempos alguns de nós, estudiosos da reforma agrária, denunciamos os desvios do processo de distribuição de terras. Vem de longe a existência de um ‘mercado de terras’, em que se vendem, se compram e se arrendam lotes nas barbas do INCRA. Tudo proibido, mas rola fácil. Propina descarada. A cada análise crítica, os ideólogos da chamada ‘esquerda agrária’ bradam contra nossos alertas. Para nos desqualificar, acusam-nos de defensores do agronegócio. 

Eles, os puros, defendem a ‘agricultura familiar’ e, mais recentemente, a ‘agroecologia’. Caiu a máscara. Já mostrei anteriormente como uma série de convênios governamentais destina milhões às organizações agrárias ligadas ao esquema da corrupção no campo. Dinheiro público na veia do ‘exército vermelho’, aquele que Lula diz comandar. 

Basta acessar meu site www.xicograziano.com.br e conhecer a lista completa das ONGs, com os respectivos valores que receberam nos últimos 10 anos. Definitivamente, acabou a utopia da reforma agrária. Pouco importa as razões do passado, ou a ideologia. Na sua existência real, é triste perceber a falência do modelo estatal-distributivista da terra. Pior, mancha nossa história verificar sua trágica degeneração. Não basta suspender a distribuição de terras pelo INCRA. Será apenas um remendo. Há muita sujeira escondida debaixo do tapete. Podridão agrária”.

Quer saber, o que revelou o relatório do TCU ainda foi só a ponta do iceberg. A reforma agrária no Brasil, desde o começo com a SUPRA janguista, é uma coleção quase inconcebível de disparates, desacertos, desperdício de dinheiro público, roubalheira. Prejudicou os produtores, piorou a situação para quem precisava de emprego, em geral foi engano para os que receberam parcelas. 
O Brasil sofreu muito com os delírios mitomaníacos dos setores obcecados com a reforma agrária, inimigos da realidade e escravizados ao fanatismo ideológico. É preciso acabar logo com o absurdo para o bem de todos. Chega de retrocesso e gatunagem.
Mudar de nome é só o começo, mas vale muito, sinaliza vontade do rumo novo, com o abandono definitivo da trilha em que se torrava dinheiro público a rodo e só causava desgraça.
Outro ponto. O INCRA tem apaniguados de partidos e restos renitentes de petismo, indicações políticas (menos do que nas gestões Lula-Dilma, mas o disparate continua em Brasília e nas superintendências regionais). Essa turma além de especializada em embolsar, só dá prejuízo.
 Ojo!, dizem os espanhóis, cuidado com as más surpresas. Os produtores rurais e os brasileiros de bem se lembram da visita, tetricamente simbólica, 1º de junho de 2016, de Zé Rainha, outros dirigentes da FNL (Frente Nacional de Lutas) — xerox do MST — acompanhados de Paulinho da Força ao presidente Temer. Era o aviso de que a jararaca ainda tinha veneno nas presas.
Depois do bom golpe simbólico, todos sabem, será necessário modificar rapidamente a legislação e transformar o órgão renovado em real servidor dos produtores e dos que trabalham no campo, ou seja, promotor da segurança jurídica, indutor de emprego e renda, imã de investimentos. Aí ajudará de fato os pobres.
Por fim, volto ao início: nada mais desanuviador que de saída mudar o nome do avantesma que, linha auxiliar de agitadores bem treinados, foi carrasco do produtor e instrumento diligente de políticas persecutórias que impediram a melhoria das condições da vida no campo. Sem a maldição da reforma agrária, teríamos hoje o Brasil mais próspero e melhores empregos no campo.
O nome novo? Que lembre um ou vários dos valores seguintes: propriedade rural, produção, emprego, investimento. O governo tem bons técnicos em propaganda. E a medida sinalizaria oxigênio nos pulmões, traria felicidade ao campo.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Brasil, protetorado da China? II





Péricles Capanema

Jack Ma é o chinês mais rico do mundo, afirmam notícias de há pouco; asseveram, depois de 2014, pela primeira vez, ele voltou a estar no topo. De qualquer forma, há anos figura sempre entre os cinco chineses mais ricos. Sabemos, é instável a posição em tais listas, sobe e desce ao sabor das cotações nas bolsas. Na tabela da Forbes para 2018 que consultei na rede, Jack Ma aparece como o segundo, 20º na classificação mundial, com patrimônio de 39 bilhões de dólares.

Posso considerar, para efeitos deste artigo, Jack Ma como o chinês mais rico da Terra. Grande símbolo midiático, ninguém mais que ele representa o capitalismo chinês, do qual é apresentado como o mais fulgurante ícone. Nasceu em 1964, muito menino presenciou a Revolução Cultural na China que foi de 1966 a 1976.

A fortuna de Jack Ma tem como base o site de e-comércio Alibaba, fundado pelo magnata em 1999, num quarto do apartamento em que morava. Hoje, sociedade anônima, da qual possui 9% das ações, o Alibaba tem 250 milhões de compradores ativos e é responsável por 60% do volume das entregas na China. Em setembro de 2018 Jack Ma anunciou que irá se retirar do dia-a-dia das operações de seu império econômico para se dedicar à filantropia. Abandona o proscênio principal, ponto final na carreira de executivo.

Vou virar a página. Dois meses depois do anúncio de Jack Ma, em 27 de novembro, o diário oficial do Partido Comunista Chinês (O Diário do Povo) anunciou que Jack Ma é membro do Partido Comunista Chinês (PCC), desmentindo alegações que circulavam de que o tycoon seria mero homem de negócios.

Por que o jornal do PCC de forma repentina e inesperada revelou o fato? As especulações variam, das principais falarei abaixo. A relação de 100 pessoas que ajudaram o processo de reformas e abertura promovido pelo PCC publicada por O Diário do Povo incluiu ainda Pony Ma (no rol da Forbes, acima mencionado, aparecia como o chinês mais rico do mundo e estava em 17º lugar entre os bilionários mundiais) e Robin Li, também bilionário chinês, mas a publicação comunista não declara serem ambos membros do PCC (dá a entender, claro). A reportagem de O Diário do Povo afirma que Jack Ma ajudou os objetivos do comunismo de muitas maneiras dentro da China, bem como em países da Ásia e da Europa.

Qual o motivo da revelação aparentemente extemporânea? A maior parte dos analistas de assuntos chineses propende a achar que a matéria de O Diário do Povo, aviso aos navegantes, faz parte de nova política do governo chinês que procura exercer maior controle sobre o setor privado. Recentemente o PCC determinou, toda empresa privada que tenha como empregados pelo menos três membros do PCC, com eles deve constituir uma célula (célula partidária) no seu interior. Se não tiver os três membros, devem os comunistas das empresas próximas se juntar até atingir o mínimo de três. E aí constituir a célula de fiscalização. A finalidade é “guiar e supervisionar a empresa para que cumpra estritamente todos os regulamentos e leis nacionais”. 75% das empresas privadas já estão aplicando a mencionada diretriz.

O PCC tem 89 milhões de membros num país de 1,4 bilhão de habitantes. Não custa lembrar, a situação da China assemelha-se em raiz à política posta em vigor por Lenine em 1921 (a Nova Política Econômica) que vigorou até 1928, quando Stalin a suprimiu. Comportava apoio ao capital estrangeiro, suspensão das desapropriações, estímulo à propriedade privada, práticas de mercado livre, formação de uma tecnocracia que dirigiria a economia. Os comunistas chineses não inventaram a roda.

Convém recordar seu mais importante documento, publicado recentemente, a constituição do PCC, em que expõe princípios e programa, aprovada em 24 de outubro de 2017 em congresso nacional. Trago abaixo pequenos extratos (em verdade, leninismo, o documento completo pode ser consultado com facilidade na rede). Reitero, é o que existe de mais moderno sobre o comunismo chinês: “O Partido Comunista da China é a vanguarda da classe operária chinesa, do povo chinês e da nação chinesa. O mais alto ideal do Partido e seu objetivo final é a realização do comunismo. O Partido Comunista Chinês utiliza o marxismo-leninismo, o pensamento de Mao Tsé Tung [...] como guias para a ação. O marxismo-leninismo revela as leis que governam o desenvolvimento da história. O pensamento de Mao Tsé tung é a aplicação e desenvolvimento do marxismo-leninismo na China. Sob o pensamento de Mao Tsé Tung, o Partido Comunista Chinês dirigiu o povo chinês, fundou a República Popular da China, uma ditadura democrática do povo”.

Ao longo de 28 páginas, expõe princípios, a estratégia gradualista, as condições para ser membro do PCC. É documento minucioso, explicativo, ninguém vai poder alegar, o PCC não mostrou a que vinha e não avisou. Está tudo lá, princípios e estratégia, em letra de forma. Como Adolfo Hitler colocou tudo em letra de forma no “Mein Kampf”. E depois aplicou à Alemanha o que havia escrito no livro.

Outro nome para meu texto, talvez até mais apropriado, embora menos chamativo, seria circunspecção, olhar com atenção em torno de si. A cada dia, recebemos da realidade advertências novas, fatos inesperados que nos esbofeteiam como socos de Cassius Clay. Alguém imaginava que o chinês mais rico do mundo era comunista, seguia disciplinadamente a orientação da cúpula do PCC? Para todos os ingênuos e apressados, era tão-somente o modelo acabado do tycoon capitalista.

Não estou obcecado, procuro o contrário, que todos vejam (recordo outra etimologia, obcaecare, tornar cego, ob, à frente; ao fugir obstinadamente da realidade, muita gente se torna cega). Nem sou catastrofista. Estou agindo no rumo contrário, buscando evitar a catástrofe, e aí apontando a pirambeira no caminho. E nem vou repetir razões já por mim expressas vezes sem conta.

Acho que deve haver comércio com a China, é sensato aproveitar oportunidades comerciais, temos que considerar sempre necessidades e conveniências da economia brasileira, mas é imperioso, para mantermos de fato a soberania e possibilidades de futuro digno para filhos e netos que saiamos gradualmente da armadilha – dependência excessiva e suicida da economia chinesa –, fruto sobretudo da política entreguista do período lulopetista. Como? Em especial, martelo, fortalecendo laços econômicos com Estados Unidos, Japão e Europa. Sem o apoio dos Estados Unidos, muito dificilmente escaparemos da enrascada na qual nos metemos por dessiso, irreflexão e leviandade.

De novo, só reclamo circunspecção, olho aberto para o que acontece em torno de nós. A desatenção é autodestruidora, irá certamente nos atirar na condição vergonhosa, talvez não confessada, de protetorado chinês.