sábado, 31 de dezembro de 2016

"Reforma Agrária sem 'agentes'"



Reforma da Reforma Agrária


Destaque: A medida provisória vai no caminho certo, ao tirar a reforma agrária da órbita de grupelhos e partidos que usam o problema da terra como arma eleitoral. Mas isso não basta. É preciso ter coragem de assumir o fracasso da reforma agrária. O que falta é dar reais condições – jurídicas, técnicas e econômicas – para que os já assentados participem dos avanços do agronegócio, superem a pobreza e possam colaborar ativamente para o crescimento do País.
Segue editorial de O Estado de São Paulo - 31 Dezembro 2016.

Reforma agrária sem 'agentes'

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) condenou a medida provisória (MP) por meio da qual o governo de Michel Temer mudará a política de reforma agrária e de regularização fundiária. Só isso basta para concluir que se trata de uma boa iniciativa.

Na sexta-feira passada, o governo publicou a Medida Provisória 759/2016, que trata da regulamentação fundiária rural e urbana. Em linhas gerais, no que diz respeito à questão rural, o texto se presta a desburocratizar o processo de regularização das terras em assentamentos e também a facilitar as desapropriações para realizar a reforma agrária.

Segundo o governo, a meta é entregar até o final de 2018 cerca de 280 mil títulos de domínio para assentados, além de acelerar a venda de terras da União para os beneficiários do Programa Nacional de Reforma Agrária. A prioridade, segundo informou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), será dada aos 9.332 assentamentos já existentes, nos quais está cerca de 1 milhão de famílias.

Nas contas oficiais, esses 280 mil títulos representam 12 vezes mais do que o total emitido nos 13 anos de governo dos petistas Lula da Silva e Dilma Rousseff, que fizeram da reforma agrária uma de suas principais bandeiras políticas e eleitorais. Além disso, segundo o Incra, a MP garante aos proprietários de terras desapropriadas rapidez no ressarcimento, o que pode reduzir as costumeiras disputas judiciais nessa área.

Os assentados só terão direito ao título definitivo de posse se pagarem pela terra. O pagamento poderá ser feito em até dez anos, com desconto de 20% para áreas maiores e de 60% para áreas menores. Se mais tarde o titular quiser vender a terra, terá de esperar dez anos para realizar o negócio.

A MP procura também resolver uma distorção que havia levado o Tribunal de Contas da União (TCU) a suspender o processo de titulação de lotes. O TCU entendeu como irregular a distribuição de terras para funcionários públicos. Agora, os servidores estão expressamente proibidos de receber os títulos. No entanto, a medida permite que o beneficiário preste concurso público depois de ganhar a titulação.

Mas o aspecto mais significativo da MP, que ajuda a dissipar os ares ideológicos da reforma agrária, são os novos critérios de seleção dos beneficiários do programa, exatamente o ponto que mais irritou o MST. A partir de agora, cabe apenas aos municípios – com base em “parâmetros mais objetivos”, como enfatizou o Incra – organizar a distribuição de terras, dispensando a intermediação dos movimentos de sem-terra. O assentado não precisa mais estar acampado para se candidatar a um lote, ou seja, não tem de estar mais vinculado ao MST e congêneres, situação que havia transformado esses grupos sem personalidade jurídica em agentes oficiais da reforma agrária.

A única tarefa dos movimentos como o MST, como se sabe, era servir de apoio ao governo petista, usando os assentados como massa de manobra. Foi assim que o MST transformou a reforma agrária em próspero negócio imobiliário, garantindo o financiamento de invasões e dos protestos violentos Brasil afora. A medida provisória assinada por Temer acaba com essa boquinha, razão pela qual o MST protestou, dizendo que o objetivo do governo é prejudicar o movimento e “jogar o poder da seleção” dos beneficiários “para o coronel local”, além de “facilitar a venda (de terras) para os grandes proprietários nacionais e estrangeiros”.

A medida provisória vai no caminho certo, ao tirar a reforma agrária da órbita de grupelhos e partidos que usam o problema da terra como arma eleitoral. Mas isso não basta. É preciso ter coragem de assumir que, hoje, não há mais por que falar em ampliação da reforma agrária, uma vez que há cada vez menos gente interessada em trabalhar no campo. O que falta é dar reais condições – jurídicas, técnicas e econômicas – para que os já assentados participem dos avanços do agronegócio, superem a pobreza e possam colaborar ativamente para o crescimento do País.




terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Reforma da Reforma Agrária


Temer vai acelerar venda de terras da União a assentados

Sorocaba - O presidente Temer editou medida provisória para agilizar a concessão de títulos de domínio para assentados e acelerar a venda de terras da União para beneficiários do Programa Nacional da Reforma Agrária. 
A meta de Temer é entregar 280 mil documentos até o fim de seu mandato, em 2018. Serão priorizados os assentamentos já existentes - são 9.332 mil em todo o País, onde vive 1 milhão de famílias.
A MP 759/2016, em vigor, altera a política de reforma agrária. A proposta -- que ainda será analisada pelo Congresso -- prevê que o assentado pague pelo lote para receber o título de domínio. 
Os ocupantes que ainda não têm a titulação e não pagaram pelo lote terão de regularizar o pagamento para ter a posse definitiva. Os pagamentos serão parcelados em até dez anos, mas também podem ser quitados à vista. 
A MP permite que o beneficiário ocupe cargo, emprego ou função pública, desde que após sua seleção e homologação. A medida mantém a proibição para ingresso na reforma agrária de agentes públicos, mas apenas até a aquisição do lote. A medida libera o já assentado para, por exemplo, prestar concurso público ou concorrer a cargos eletivos.
http://t.dynad.net/pc/?dc=5550001892;ord=1482844092730
Critérios
A MP muda também os critérios de cadastro e seleção das famílias beneficiárias, excluindo do processo a necessidade de o assentado estar acampado, o que na prática elimina a intermediação dos movimentos sociais, como o MST, historicamente ligado ao PT. 

Família mais numerosa, família que reside há mais tempo no município do projeto de assentamento e família chefiada por mulher são algumas das prioridades das regras para escolha dos beneficiários. Caberá aos municípios a organização dos projetos de assentamento.
Além de destoar da política de reforma agrária de seus antecessores, Temer quer transformar a titulação de terras na marca da nova gestão do Incra - será a "reforma da reforma agrária". 
De acordo com o instituto, a titulação é importante por dar segurança jurídica aos assentados, além de possibilitar acesso a políticas públicas do governo. Com o documento, o assentado pode recorrer ao Pronaf e a bancos.
Novos assentamentos
Segundo o Incra, a MP define também as formas de aquisição de terras para criar novos assentamentos, embora, em momento de ajuste fiscal, a prioridade do governo seja reorganizar e regularizar os assentamentos existentes.
Neste ano, assim como em 2015, o governo federal não adquiriu terras para novos assentamentos. 
Nos últimos dias de seu governo, a presidente cassada Dilma assinou 25 decretos de desapropriação de imóveis rurais para a reforma agrária e regularização de territórios quilombolas, totalizando 56,5 mil hectares, mas o processo não avançou.
O Incra informou que os decretos assinados por Dilma não tinham previsão orçamentária. "Em 2015, a ex-presidente não assinou nenhum decreto de desapropriação para fins de reforma agrária", informou o órgão, em nota. "O congelamento dos recursos da reforma agrária não se deu no atual governo."
Segundo Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, um decreto legislativo articulado com o governo suspendeu os decretos para atender à bancada ruralista.
"Com o fim do Ministério do Desenvolvimento Agrário, as políticas públicas do ministério também foram reduzidas, sendo transformado em uma secretaria sem estrutura e orçamento para a execução de políticas para a agricultura familiar."
Críticas
Em nota divulgada pelo MST, Miguel Enrique Stédile, da coordenação nacional, afirmou que a titulação é uma "reforma agrária às avessas", que ampliará a concentração de terras.
"Hoje, os beneficiários recebem a concessão do uso da terra, podendo passá-las para os filhos, mas não podem mercantilizar porque a terra é da União", afirmou.

"Com a titulação, os assentados se tornam proprietários, porém, terão de pagar o preço de mercado atualizado das terras que receberam. Ou seja, o assentado vai ficar com a dívida e, sem infraestrutura para produzir, em pouco tempo venderá a terra." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.



sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Na agropecuária defensivo não é veneno! O Brasil vence de 5; 6; até de 7 a 0 alguns críticos


Pecuária e defensivos são vítimas de ataques e desinformação

Marcos Sawaya Jank
  
Avanços notáveis têm acontecido no tema da sustentabilidade da agricultura brasileira, seja pela aplicação mais rigorosa das leis, seja pelo uso generalizado de técnicas conservacionistas que trazem ganhos econômicos para os produtores.

Melhorou também o diálogo e a parceria entre empresas, associações, ONGs e grupos de pesquisa, como a Coalizão Brasil Clima Agricultura, Florestas e Agricultura e o Grupo Técnico da Pecuária Sustentável (GTPS), que tem desenvolvido parcerias interessantes e inovadoras.

Porém, no debate atual chamam a atenção dois mitos que continuam sendo repetidos ad nauseam, sem a necessária evidência dos fatos. O primeiro é a acusação de um persistente atraso na pecuária de corte brasileira e o outro é um suposto uso excessivo de defensivos agrícolas pela agricultura. 

Esses dois pontos foram levantados em eventos ocorridos na Conferência do Clima em Marrakech, em recente evento no Insper e agora em um artigo desnecessariamente espinhoso de Daniela Chiaretti no "Valor Econômico" de 5/12, intitulado "As bravatas de Blairo".

Utilizamos uma frase deste artigo para tratar da questão do uso de defensivos na agricultura tropical brasileira: "O Brasil é líder inconteste no uso de venenos lançados sobre o campo, colheitas, trabalhadores, índios, donos de terras, animais, solo, água, produtos agrícolas e consumidores".

Não é de espantar que o Brasil, com uma agricultura situada entre as maiores e mais produtivas do mundo, seja o país que apresenta o maior consumo de defensivos, erroneamente chamados de "veneno".

Ocorre, porém, que o correto não é comparar consumo absoluto, mas sim o relativo, por hectare ou por unidade de produto gerada. Nosso consumo médio de defensivos é de 5 kg de ingredientes ativos por hectare, bem abaixo do observado na Holanda (20,8 kg), no Japão (17,5 kg) e na Bélgica (12 kg), países que gostam de apontar o dedo contra o Brasil.

Um estudo da Kleffmann mostra que, enquanto o uso de defensivos por unidade produzida cresce 120% na China e 47% na Argentina desde 2004, no Brasil ele decresce 3%.

E, ao contrário dos países de clima temperado, que contam com o inverno e a neve para quebrar o ciclo das pragas e doenças, aqui se produz o ano todo sob clima quente e úmido, sendo que em muitos lugares fazemos duas ou até três safras na mesma área.

Especialistas afirmam que, se os defensivos não fossem utilizados, a produção agrícola sofreria uma redução da ordem de 50%, que certamente provocaria desmatamentos adicionais, além do risco de forte elevação dos preços dos alimentos.

Já em relação à pecuária de corte, não há dúvida de que existe grande disparidade na produtividade do gado e das pastagens. Mas ainda assim a evolução do campo foi fantástica: entre 1990 e hoje, a área ocupada com pastagens caiu de 188 milhões para 167 milhões de hectares, ao mesmo tempo em que o rebanho aumentou de 147 milhões para 214 milhões de cabeças, o maior do mundo. Em 2015, a produtividade chegou a 60 kg de carne/hectare, ao crescer impressionantes 143% no período.

Se os 10 milhões de toneladas de carcaça de 2015 fossem produzidos com a tecnologia do início da década de 1990, a pecuária estaria usando não 167 milhões, mas sim 400 milhões de hectares, o que acarretaria em muito desmatamento. Isso comprova que os ganhos da pecuária são evidentes, ainda que heterogêneos.

O "aprimoramento continuo" da sustentabilidade agropecuária brasileira é um fato inconteste. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas não há um único país que tenha avançado em produtividade e conservação ambiental na mesma escala que o Brasil nos últimos 25 anos.

Artigo de Marcos Jank foi publicado originalmente na Folha de São Paulo




Demarcação de territórios indígenas: um pesadelo a menos do Brasil?



Documento do governo altera regra para 

demarcar terra indígena




RUBENS VALENTE


O Ministério da Justiça tem pronto um decreto que, se colocado em prática, representará a mais completa mudança no sistema de demarcação de terras indígenas no país desde, pelo menos, a Constituição de 1988.

O texto coloca em xeque terras já demarcadas e reconhecidas por governos anteriores, ao permitir que sejam contestadas por "interessados".

Uma exposição de motivos e uma minuta de decreto, aos quais a Folha teve acesso, incorporam teses de interesse de fazendeiros e exigências contidas na PEC 215, apoiada pela bancada ruralista e combatida por índios.

Tornam ainda regra do Executivo entendimentos jurídicos de ministros do Supremo Tribunal Federal e contestados pela Funai (Fundação Nacional do Índio).

Indígenas e indigenistas, informados pela reportagem sobre a proposta, afirmaram que ela representa na prática a revogação do decreto 1.775, do governo Fernando Henrique Cardoso, que há 20 anos regula o tema.

"O objetivo está claro, esse decreto iria inviabilizar mais de 80% das terras indígenas no país, cerca de 600 territórios em processo de demarcação ou reivindicados pelos índios", disse Cleber Buzatto, do Conselho Indigenista Missionário.

A minuta do decreto adota a tese do "marco temporal", segundo a qual apenas indígenas que estavam na terra ou a disputavam judicialmente em outubro de 1988, quando da promulgação da Constituição, poderiam ter direito a ela.

Segundo essa tese, os índios que deixaram ou foram expulsos de suas terras e não as retomaram em 1988, mesmo que por meios violentos, perdem o direito de reivindicá-la.

Outra novidade é a criação de uma indenização para indígenas que tenham "perdido a terra". Na legislação do tema não há previsão de pagamento a indígenas para que deixem de reivindicar terras –o que o governo faz, como previsto na Constituição, é indenizar os fazendeiros e retirá-los de terras indígenas.

Uma terceira inovação é a necessidade de que processos de demarcação que estão em andamento tenham que incorporar "as diretrizes" do documento.

É prevista abertura de prazo de 90 dias para que "interessados" se manifestem sobre processos que já estejam homologados pela Presidência, mas sem registro em cartório, última etapa do processo de demarcação.

"É de uma gravidade que é alarmante a informação de que pode estar ocorrendo uma discussão dentro do governo sem transparência e sem clareza na motivação", disse à Folha o subprocurador geral da República, Luciano Maia.

Procurado desde a quinta (8), o Ministério da Justiça informou, por meio da assessoria, que não havia uma resposta em tempo hábil, do setor competente sobre o assunto. Em novembro, em nota enviada à Folha, a Casa Civil da Presidência afirmou que "não haverá alteração do sistema de demarcação de terras indígenas".



terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Desligaram o botão do pânico



Desligaram o botão do pânico

Péricles Capanema

Desde 2013 em Vitória, capital capixaba, as mulheres ameaçadas por ex-maridos, namorados ou companheiros dispõem de eficaz defesa, o botão do pânico, pequeno, cabe na bolsa. Com a aproximação do potencial agressor, elas apertam o botão. Um alarma soa na sala de monitoramento da Guarda Municipal. Ali, o computador indica onde está a vítima e a viatura mais próxima. 

Os guardas recebem no celular a foto do ofensor. E acodem logo. Mais de vinte homens já foram presos. Numerosas consortes, antes agoniadas, com o novo recurso, experimentam enorme sensação de segurança e tranquilidade. Constatação da juíza Hermínia Azoury: “As mulheres clamam pela medida protetiva. Elas pedem: ‘Doutora, nós precisamos muito do botão do pânico’”. A providência tem o patrocínio do Judiciário e a colaboração da Prefeitura. Em São Paulo, o prefeito João Dória pensa aplicá-la. Tende a se generalizar Brasil afora.

Viro a página. Diante de notícias recentes, tive a estranha sensação de que o Brasil está tentado a desligar o botão do pânico. Eu também acho, precisamos muito do botão do pânico, e não apenas para proteger as mulheres contra a violência. A razão é simples: o botão do pânico ligado indica vitalidade. Em qualquer campo.

O DataFolha publicou a última pesquisa para a eleição de 2018. Segundo turno: Lula 38%, Aécio 34%. Outra possibilidade: Lula 38%, Alckmin 34%. Terceiro cenário: Lula 37%, Serra 35%. Quarta hipótese: Marina 43%, Lula 34%. Marina com os três presidenciáveis tucanos: Marina 47%, Serra, 27%; Marina 48%, Alckmin 25%; Marina 47%, Aécio 25%. Lula continua o mais rejeitado entre os candidatos à Presidência (44% não vota nele de jeito nenhum).

Para o primeiro turno, o ex-presidente ampliou sua vantagem em relação à pesquisa de julho passado. Com Aécio candidato, Lula tem 25%, Marina, 15% e o tucano 11%. Em julho, Lula, 22%, Marina, 17%, Aécio, 14%. A seguir, Bolsonaro, 9%, Ciro, 5%, Caiado, 2%. Lula ganhou pontos em todos os segmentos. Destaco, entre os mais escolarizados, 13% em julho, agora, 17%. Tem 30% de intenção de votos entre os mais pobres; 34% entre os menos escolarizados e 41% no Nordeste.

Surge um novo eleitor: o partidário  de Sérgio Moro. 50% dos que escolheriam o juiz, não votariam nem em tucanos, nem no petista. Sem Moro no páreo, iriam para o voto nulo ou branco.

Sei, eleição distante, fins de 2018. O quadro pode mudar muito. A mais, os institutos de opinião pública estão com a credibilidade lá embaixo. Outro ponto, na pesquisa espontânea, Lula aparece com 9%, Bolsonaro, 3%, Aécio, 2, Marina, 1%, Moro, 1%. A maioria, 62%, não cita ninguém, indicando público desinteressado e desinformado. Há pouco os pleitos municipais evidenciaram enorme desgaste petista. Somando e subtraindo, raízes fracas, um eleitor, como a biruta, sujeito a todo tipo de ventos.

Foi inominável o que o brasileiro sofreu com o desastre petista. Lembro algumas das chicotadas, queda do padrão de vida, desemprego galopante, falta de investimento e de perspectivas. Ao lado, corrupção em quase todos os espaços da administração pública, promovida como meio de enriquecimento pessoal, mas também como método de projeto de poder e de implantação de políticas estatizantes. Com a longa e geral degradação, o Brasil que presta se sentiu enxovalhado.

Num primeiro momento, veio o atordoamento e o choque com a enxurrada suja das revelações. Com a sensação do perigo iminente, muita gente apertou o botão do pânico. Depois presenciamos o esgotamento paulatino se aprofundando, a acomodação se espraiando, a impaciência se transmutando em desagrado. Moral da história, inchou a insensibilidade diante do horror passado.


Já não se ouve em muitos lugares a estridência do alarme. O botão do pânico parece desligado. Por quê? A lógica nos empurra à conclusão: continuaram atuantes traços atávicos do temperamento público como a superficialidade, o imediatismo, a impressionabilidade doentia, a falta do hábito de decidir estaqueado em princípios. 

Já foram motivos de tragédias; agora formam solo para desastres futuros. É todo mundo? Claro que não. Mas constituem multidões. Faz falta em tantos campos a reatividade das mulheres ameaçadas de Vitória: “Doutora, nós precisamos muito do botão do pânico”. É meu slogan para 2017.


Neva no Saara! Resfriamento global?



Após 37 anos, volta a nevar no deserto do Saara
FERNANDO MOREIRA

A 'nevasca' durou meia hora | Reprodução/Facebook(Karim Bouchetata)

Fenômeno raro em aldeia argelina | Reprodução/Facebook(Karim Bouchetata)

Boa parte do Hemisfério Norte fica coberta de neve no fim de ano.
Mas o que dizer de neve no Saara? Pois aconteceu!
Pela primeira vez em 37 anos, nevou no deserto africano.
Na tarde de segunda-feira (19/12), contou o "Daily Mail", o fotógrafo amador Karim Bouchetata registrou o fenômeno na região de Ain Sefra (Argélia), situada a mil metros do nível do mar.
neve caiu por cerca de meia hora.
A neve havia sido vista pela última vez também em Ain Sefra, conhecida como Portão do Deserto, em fevereiro de 1979.
Farol transformado em 'castelo' pela natureza | Reprodução/Facebook(Joshua Nowicki - Photography)





sábado, 17 de dezembro de 2016

"Não nos pode impor tudo isso, Santidade"



Colombia: presión del papa Francisco y legítima resistencia

1.
El viernes 17 de diciembre, la reunión del papa Francisco con el presidente Santos y el ex presidente Uribe en el Vaticano, para hablar sobre los llamados acuerdos de “paz” con los sanguinarios guerrilleros de las FARC, fue aparentemente sorpresiva y seguramente arriesgada.

2.
Convocatoria aparentemente sorpresiva, al menos para Uribe, porque según sus propias declaraciones el ex presidente fue convocado a última hora mediante llamada telefónica de un alto diplomático del Vaticano. Ni siquiera había pasaje disponible. Pero hubo quienes solucionaron el problema del pasaje casi “milagrosamente”. Entonces, Uribe mal tuvo tiempo para hacer su valija y embarcar hacia Roma.

3.
Convocatoria seguramente arriesgada para la diplomacia vaticana porque, según se deduce del comunicado de la sala de prensa de la Santa Sede, quedó demasiado nítido el “apoyo” de Francisco al mal llamado “proceso de paz” con las FARC. El pontífice habría alegado “la importancia del encuentro”, de la “unidad”,  de la “reconciliación”  y de la “educación al perdón”, todo lo cual sonó casi como un tirón de orejas y una reprobación al ex presidente Uribe así como a la mayoría de los colombianos que acaba de manifestarse contraria a ese “proceso”, en reciente plebiscito. 

4.
Hasta el momento no se conocen los entretelones de esa arriesgada jugada de la diplomacia vaticana para presionar las conciencias de los colombianos a favor del semi empantanado acuerdo con las FARC . Lo que sí se conoce es la tendencia nítidamente pro izquierdista del actual pontificado en el plano político, incluyendo lo que dice respecto a Cuba comunista, tal como se ha destacado documentadamente en numerosos editoriales de Destaque Internacional ( www.cubdest.org ). Entonces, esta intervención de Francisco en los asuntos colombianos difícilmente puede ser vista e interpretada fuera de ese contexto pro izquierdista.

5.

La pregunta delicada que surge es si los católicos colombianos que votaron contra los mal llamados “acuerdos de paz” con los narco guerrilleros pueden en sana conciencia discrepar y oponerse a lo que parece ser una nítida presión del pontífice.  La respuesta es afirmativa. En efecto, en asuntos políticos y diplomáticos el papa no es infalible. Por lo tanto, se puede discrepar de él, de manera respetuosa y fundamentada, ejerciendo una legítima resistencia moral y de principios. El propio Uribe se lo dijo con franqueza a Francisco: “No nos pueden imponer todo esto, Santidad. No puede haber odios, pero sí convicciones”.

Fonte: Destaque Internacional

Ventos de restauração, presente de Natal



Ventos de restauração, presente de Natal
                                                                                    Péricles Capanema


Em artigo recente, intitulado “Cristandade”, festejei, embora admitindo eventuais senões, a consagração do Peru ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria. Na ocasião, notei: “Cristandade, realidade esquecida, enterrada, até vilipendiada. 

O progressismo católico a abomina, tantos católicos, mesmo de boa orientação, substituem o termo por outros, temerosos de empregar anacronismo não mais aceito, nem sequer tolerado em certos círculos. 

Na Grécia antiga pela pena do ostracismo o cidadão era expulso do convívio de seus pares. Cristandade parece tê-la sofrido. Fale dela em seus círculos, qualquer deles, vão torcer o nariz. Deveria ser o contrário.”

*       *       *
O presidente peruano Pedro Pablo Kuczynski tem antepassados na Polônia. E é de consagração e Cristandade na Polônia que vou tratar agora. É preciso repetir o que afirmei no outro artigo, tudo o que lembra Cristandade merece registro. E na Polônia teve outra importância que no Peru.
Cracóvia. Em 19 de novembro, ecoando prática tradicional na Igreja, infelizmente de há pelo menos algumas décadas virtualmente abandonada, os bispos da Polônia, o presidente da República [na foto, à direita de sua mãe e alguns de seus ministros], o primeiro-ministro, os presidentes da Dieta (espécie da Câmara dos Deputados), do Senado, ministros, deputados, diante de aproximadamente 100 mil fiéis consagraram a Polônia a Cristo Rei.

De passagem, estou certo e constato com tristeza: mesmo longinquamente, nada do que aconteceu na Polônia será promovido entre nós pela CNBB e por titulares do Poder Público. A última da CNBB: condenar a PEC 241, a do teto nos gastos públicos, como de hábito somando sua voz à gritaria estridente do PT, PC do B, MST e agitadores congêneres. Ao mesmo tempo, manter silêncio, pelo menos até agora, também com muito de habitual, a respeito da ampliação dos casos de aborto, autorizada pela 1ª turma do STF (até o terceiro mês da gestação já não é mais crime).
*       *       *
Volto à Polônia. O ato solene, precedido de novena de preparação, realizada no sábado em Cracóvia, foi repetido no domingo em todas as igrejas do País. Abaixo, trechos da consagração,  que começa assim:
“Ó Rei imortal de todas as épocas, Senhor Jesus Cristo, nosso Deus e Salvador. Neste ano jubileu do 1050º aniversário do batismo da Polônia, neste jubileu extraordinário da misericórdia, nós, os poloneses, colocamo-nos diante de Vós, com nossas autoridades, o Clero e o laicato, para reconhecer vosso reino, submeter-nos à vossa lei, consagrar-vos nossa Pátria e todo o nosso povo. Diante do Céu e da Terra confessamos que temos necessidade de vossa lei. Reconhecemos que só Vós tendes uma lei santa e perene para nós. Por isso, inclinando humildemente a cabeça diante de Vós, Rei do Universo, nós reconhecemos a vossa soberania sobre a Polônia e todo nosso povo vivendo na Pátria e disperso pelo mundo.”
O texto especifica em que condições ele pede a Nosso Senhor Jesus Cristo que reine. Destaco:
“Em nossos corações; em nossas famílias; em nossas paróquias; em nossas escolas e universidades; em nossos escritórios, lugares de trabalho, serviço, repouso; em nossas cidades e vilas; em toda a nação e no Estado polonês”.

Faz também agradecimentos por graças recebidas:
“Pela graça do batismo e aliança com nosso povo ao longo dos séculos; pela presença maternal e real de Maria em nossa história; pela vossa fidelidade, apesar de nossas traições e fraquezas”.

Ecoando o ensinamento tradicional de que a consagração é uma renovação das promessas do batismo, afiança: “Renunciamos ao demônio e a todas suas obras”.
A seguir enuncia compromissos (“nós nos comprometemos”), de onde retiro:
“a ordenar toda nossa vida pessoal, familiar e nacional segundo vossa lei; a cuidar da santidade de nossas famílias e da educação cristã de nossos filhos; a construir vosso reino e a defendê-lo em nossa nação”.
E termina assim:
“Aqui, a Polônia, por ocasião do 1050º de seu batismo, aceitou oficialmente a realeza de Jesus Cristo. Glória ao Padre, ao Filho, ao Espírito Santo, assim como era no princípio, agora e para sempre. Amém”.
*       *       *
O valor de uma consagração depende da pureza de intenção, da seriedade em conformar a vida privada e pública ao que as palavras significam. No caso polonês, só o futuro nos informará. Rezemos para que a nação corresponda a este favor celeste.
A cerimônia, a solenidade, a representatividade, o texto, a união do poder temporal e da Hierarquia num só movimento de religião mostram que lá permanecem vivas não apenas a convicção de que atitudes dessa magnitude dão especial glória a Deus, mas ainda a noção da enorme importância da ordem temporal cristã na salvação das almas. Ademais, evidencia adesão a seu passado cristão.
Sucedeu na Polônia uma santa insistência dos fiéis, a qual merece ser posta em relevo. Em 2008, o Episcopado desestimulou como inadequada e desnecessária consagrar o País a Cristo-Rei, resistindo a justificados e reiterados pedidos. 
Tendo como pano de fundo os ensinamentos tradicionais dos Papas, expostos em especial na Quas Primas de Pio XI, setores do Clero, do laicato e deputados católicos continuaram a campanha. Acabaram dobrando o Episcopado, que aderiu.

Em suma, os fatos autorizam esperanças de que no interior do catolicismo polonês sopram ventos de restauração cristã, prenúncio de chuva criadeira. Rorate coeli desúper et nubes pluant Justum (derramai, ó céus, o vosso orvalho e as nuvens chovam o Justo). 
Nesse século carente de bons exemplos, temos aqui um luminoso bom exemplo, belo presente de Natal.



quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Sarneyzinho agora terá de se explicar na Justiça


CNA entrará na Justiça contra Sarney Filho por 

divulgação de dados do CAR 


O presidente da CNA, João Martins, criticou hoje em coletiva de imprensa a exposição pública dos dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR), na internet. Martins disse que vai entrar na Justiça contra o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, que teria autorizado a divulgação dos dados de forma irregular. 

Para ele, a divulgação é ilegal. Ele argumentou ainda que a divulgação dá acesso a informações estratégicas e de potencial produtivo do país. “Abriu para todo mundo ver o perfil das propriedades, ver qual área mais produtiva do país. Primeiro que é um dado sigiloso”, disse.


A CNA já sinalizava desde a última semana a possibilidade. Na segunda-feira, dia 5, o presidente da Comissão de Meio Ambiente da entidade, Rodrigo Justus, reclamou que, com essa atitude, o produtor que tinha irregularidades e dividiu a informação com o governo esperando resolver o problema está com a vida exposta. "Foi um desrespeito do ministro. 

Ele está fazendo graça divulgando dados privados, isso é uma irresponsabilidade. Justus lembra que mais de 3 milhões de cadastros foram disponibilizados para download no site do Serviço Florestal Brasileiro, e que o reflexo disso não foi ponderado. “São informações que podem ser usadas negativamente até pelos competidores no mercado internacional”.

Apesar das críticas às atitudes de Sarney Filho, João Martins reafirmou a confiança do agro na gestão de Michel Temer. "Acreditamos e queremos acreditar no governo Temer", disse Martins. Para o presidente da CNA, o Ministro Sarney Filho estaria "desafinado" como restante do Governo.

Procurada pelo jornalismo da Agência Brasil, a Assessoria de Imprensa do Ministério do Meio Ambiente não se posicionou sobre o assunto.

Com informações da Agência Brasil, Canal Rural e imagem de José Cruz, da Agência Brasil. 




terça-feira, 6 de dezembro de 2016

"Moro é um bandido"



Moro é um bandido

Seis meses atrás, em 7 de junho, reproduzimos a 

conversa celerada entre Jorge Viana e Roberto Teixeira.

Releia aqui:

Para Jorge Viana, Moro é um bandido

O petista Jorge Viana, que pode ocupar o lugar de Renan Calheiros no Senado, foi grampeado numa conversa com Roberto Teixeira, advogado de Lula.
Ele chamou o juiz Sergio Moro, os procuradores da Lava Jato e os delegados da PF de "bandidos". E sugeriu uma estratégia para obstruir a Justiça:
JORGE: Talvez.. olha a minha ideia.. falei até com o DAMOUS. Talvez seja a única oportunidade que o presidente tem de por fim a essa perseguição, essa caçada contra ele. Se numa segunda-feira, por exemplo, reflitam sobre isso, ele chamar uma coletiva e comprar e estabelecer uma relação, um diálogo com seu MORO pela, ao vivo, MORO, PROMOTORES, DELEGADOS, dizendo que ele não aceita mais que ele persiga a família dele porque ele tá agindo fora da lei, os promotores fulano e ciclano estão agindo fora da lei, os delegados fulano e ciclano e quem age fora da lei é bandido e que se ele quiser agora vim prendê-lo, que venha, mas não venha prender minha mulher, prender meus netos, nem meus filhos.. E forçar a mão nele pra ver se ele tem coragem de prender por desacato a autoridade, porque aí, aí eles vão ter uma comoção no país, porque ele vai tá defendendo a família dele, a honra dele.. dizer: olha, eu estou defendendo a minha honra, você está agindo fora da lei, quem age fora da lei é bandido.. me sequestraram, me colocaram.. eu não sei, tinha que pensar algo parecido com isso e dar uma coletiva e provocar e dizer que não vai aceitar mais..
ROBERTO TEIXEIRA: Perfeito.
JORGE: Não aceita, em hipótese nenhuma.. se rebelar.. greve de fome, alguma situação.. você tem também alguma insubordinação judicial, não aceito mais ser investigado por esse bando que tá agindo fora da lei e querendo alcançar minha família, minha mulher, meus filhos e meus netos. Não aceito mais. Me prendam. Se prenderem ele, aí vão prender e tornar um preso político, aí nós fazemos esse país virar de cabeça pra baixo. Fora disso eu não vejo saída (ininteligível)
ROBERTO TEIXEIRA: É.. mas isso, mas viu, JORGE, ele anunciou isso, falou isso, ele disse que vai varrer o Brasil inteiro, vai denunciar isso o tempo todo..
JORGE: Isso não funciona.
ROBERTO TEIXEIRA: E agora..
JORGE: Não tem clima no interior do Brasil pra ele vir, pra ele andar. Ele tem que fazer uma ação ao vivo chamando coletivas, isso é mais forte do que ele fazer comício, fazer coisa.. gente, o clima tá muito ruim contra nós, não há uma comoção. Ele tem que botar a família dele, fazer a defesa e virar a fazer..
ROBERTO TEIXEIRA: Entendi.
JORGE: E fazer um confronto direto com eles. Se não fizer isso agora, não tem clima pra andar no Brasil.
ROBERTO TEIXEIRA: Perfeito.
JORGE: Esses caras tão trabalhando há muito tempo esse ambiente. (ininteligível).
JORGE: Diga: me prenda, eu estou aqui. Vou ficar nesse endereço esperando a chegada dos seus subalternos com o mandado de prisão. Se ele prender, o LULA vira um preso político e vira uma vítima, se não prender, ele também se desmoraliza. Tem que virar o jogo agora. Esse negócio de andar o Brasil, de falar, isso não vai funcionar, isso foi num passado distante. Tem clima, e isso tem que ser feito urgente, porque senão no dia 13 vai ter milhões de pessoas na rua querendo a prisão do LULA. Eu to dando um toque, eu to no andar de baixo andando e é só mais pra vocês refletirem um pouco se puder.
ROBERTO TEIXEIRA: Perfeito. Vamo, vamo refletir sim, vamo transferir isso aqui. Ele agora vai estar num ato aqui dos bancários, que ele vai agora falar pro povo, né? E..

JORGE: Eu não sei, mas você fala, diz: ó, foi uma possibilidade, LULA, existe greve de fome quando alguém se rebela e não aceita determinadas coisas, na parte judicial, porque ninguém do Supremo vai dar colhida mais ao LULA, mas tem muitas manifestações favoráveis. Se o LULA colocar como o defensor da família dele, da mulher, dos filhos e desafiar e dizer que eles tão agindo fora da lei, como agiram hoje fora da lei, quem age fora da lei é bandido e dizer: vocês são bandidos, agiram foram da lei. Só vai ter uma saída: ou o cara prende ele ou fica desmoralizado. Não aceito mais. Que o judiciário ponha um juiz isento pra me investigar, ponha um promotor isento pra me investigar, ponha é.. é.. delegado da polícia federal isento.. esse MOSCARDI veio aqui no Acre, fez uma operação contra o PT, nós denunciamos pro ZÉ EDUARDO CARDOSO, entramos com uma representação há seis anos contra esse delegado que pegou o presidente hoje. Ele é um inimigo do PT e tava lá. Agora, o presidente não tem outra oportunidade. Pra mim ele tem que fazer no máximo até segunda-feira, chamar uma coletiva e insubordinar e dizer que não aceita mais, não aceita mais e dizer: olha, vocês estão agindo fora da lei, e quem age fora da lei é bandido (ininteligível) o senhor está agindo como bandido, e o senhor não tem moral de me apurar de me investigar, eu to falando como cidadão, não é como ex-presidente, cidadão. Aqui está a constituição. Pense nisso. Reflita, porque nós não vamos ter outra oportunidade igual ao dia de hoje, não.
Fonte: O Antagonista