sábado, 4 de fevereiro de 2017

Cuide-se Brasil: terrorismo à vista



Salpicão terrorista

Péricles Capanema

Não estou tratando do prato de frango, cenoura, ervilha, milho verde, maçã, tanta coisa mais. Falo de um salpico (pingo de lama) grande, que pode emporcalhar o Brasil inteiro. Piora situação já terrível.

Vamos ao caso. As FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), organização guerrilheira de inspiração marxista, tem no tráfico das drogas sua principal fonte de financiamento. São narcoguerrilheiros. Com o governo colombiano dita organização conduz para ela vantajoso processo de pacificação por meio do qual passará a influir na vida política do país, a mais de conseguir perdão para crimes que vem cometendo desde 1964.

Contudo, circulam notícias, entre 5% e 10% de seus guerrilheiros (são estimativas, fala-se que o total das FARC chega perto dos 7 mil), portanto entre 350 e 700 discordariam do rumo das negociações. Discordância autêntica? Combinada? Não é aqui o momento de analisá-la. Afirma-se ainda que entre os desmobilizados existiriam centenas, talvez milhares, de ociosos. Desempregados, digamos.

Um pulo, passo agora para o Primeiro Comando da Capital (PCC). Teria 30 mil “batizados”, isto é, “soldados”, dos quais 9 mil no Estado de São Paulo. E seu agora adversário Comando Vermelho (CV) tem 20 mil “soldados”. Podem voltar a se aliar. Também aqui não entro na análise de dados, só mostro a enorme envergadura de tais números.

Feito o introito, chamo a atenção para notícia estampada no Wall Street Journal, 1º de fevereiro, por muitos considerado o mais sério jornal dos Estados Unidos. O PCC está contratando guerrilheiros das FARC para intensificar o tráfico da cocaína e facilitar o controle de mercados.

O diário nova-iorquino transcreve palavras de Luís Carlos Villegas, ministro da Defesa da Colômbia: “O PCC está oferecendo empregos para as FARC”. Com isso, receberia, além da mão de obra, armas e técnicas de guerrilha de que anda necessitado.

Lincoln Gakiya, promotor público paulista, estudioso do tema, adverte: “O PCC é obcecado com treinamento militar. Está procurando metralhadora ponto 50, capazes de derrubar helicópteros e de perfurar carros blindados”.

Altos funcionários dos ministérios da Defesa e das Relações Exteriores do Brasil e da Colômbia se reunirão em Manaus a partir do dia 2 de fevereiro para compartilhar informações sobre como o PCC está trabalhando para incorporar guerrilheiros a seus quadros.

Na América Central, estudiosos apontam para a situação de “Estado falido” da Guatemala, Honduras e El Salvador, o Triângulo do Norte, próximo ao México, onde atuam poderosas organizações do narcotráfico. Aproveitando-se das estruturas estatais débeis, tais máfias se infiltraram em especial nos corpos de segurança e justiça.

Hoje controlam grandes áreas, compraram funcionários, fundaram empresas de fachada, entre as quais algumas de segurança. Nas áreas controladas, executam funções típicas de governo (entre outras, manutenção da ordem e assistência social). Situação parecida temos em favelas cariocas e em vários outros pontos do Brasil.

Nesses três países, policiais corruptos, a mando do narcotráfico, executam pessoas. Honduras, Venezuela, Belize, El Salvador e Guatemala são os cinco países do mundo com maior taxa de homicídios. A média mundial é de 6,2 mortes por 100 mil habitantes. Honduras, 90,4; Venezuela, 53,7, Belize, 44,7, El Salvador, 41,2; Guatemala, 39,9.

“O motivo principal de tantas mortes violentas é o crime organizado”, explica Angela Me, pesquisadora das Nações Unidas e coordenadora da pesquisa. Para comparação, Brasil, 29,1; Suíça, 1; Japão, 0,44. A presença insidiosa e corruptora do crime organizado no país inteiro, agora possivelmente facilitada pelos pontos de apoio e know-how das FARC, pode rapidamente empurrar o país para situação parecida com a do Triângulo do Norte.

Cerca de um mês atrás tratei em artigo divulgado por vários veículos do mesmo problema. Então escrevi: “Os choques entre as gangues do narcotráfico – 27 facções conhecidas da Polícia – ameaça não apenas o sistema prisional brasileiro, mas o próprio futuro do Brasil. Na América Central já há países virtualmente dominados pelos chefões do tráfico”.

Era fácil prever o que já começa a acontecer: “As FARC, organização guerrilheira narcomarxista, controlava aproximadamente 40% da produção colombiana. Têm bases na Amazônia, enviam drogas até para o Paraguai, de onde entram no Brasil. Como ficará esse tráfico após a pacificação em curso? Como agirão os grupos dissidentes das FARC, que continuam trocando cocaína por dinheiro e armas”?

Constatava: “As fronteiras brasileiras são pouco policiadas, o Brasil é o segundo mercado consumidor de cocaína no mundo e provavelmente o maior consumidor de drogas, cuja base é a cocaína, o crack entre elas.[...] Segundo documento do Departamento de Estado dos Estados Unidos o governo brasileiro ‘não tem a capacidade necessária para conter o fluxo de narcóticos através de suas fronteiras’”.

E concluía: “Ainda não tratei do amadorismo. [...] Basta ler os jornais, ouvir notícias, assistir noticiários e nos agride por todos os lados, a irreflexão, a superficialidade, o desconhecimento dos temas em pauta.


Autoridades, supostos especialistas, jornalistas, gente de toda laia estão opinando com pouca ou nenhuma ciência, com escassa ou nula experiência. Que falem os entendidos dos livros e da labuta, o assunto é sério demais para ser assim ventilado”. De lá para cá, a situação só se agravou. Daí o alerta renovado.

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