sábado, 12 de janeiro de 2019

Desdobramentos do cenário político-ideológico nacional




Desdobramentos do cenário 

político-ideológico nacional


Ronaldo Ausone Lupinacci*
Nestes dias confusos de 2019 o futuro nos preocupa. Por isso, estou empenhado em discernir os possíveis desdobramentos do atual cenário nacional, que conserva em boa parte a efervescência oriunda da polarização político-ideológica verificada nos meses que antecederam as eleições de 2018. Não é fácil a tarefa. De qualquer forma, para avançar nas prospecções mostra-se necessária a reflexão sobre algumas realidades.
A principal “realidade” corresponde ao comunismo, com suas diversas variantes, ainda que muitos assim não entendam. O comunismo é uma seita filosófica imperialista que conta com diversificado aparato cultural, publicitário, político-partidário e organizacional. A eficácia de tal aparato pode ser medida pelo fato de que o comunismo se apoderou, ao longo do século passado, de inúmeros países, alguns dos quais detentores de grande peso no equilíbrio de forças mundial, como é o caso da Rússia e da China. Os valores metafísicos da seita consistem na igualdade absoluta e na liberdade moral completa para os seres humanos.
Para atingir tal quimérica igualdade seria necessário suprimir a propriedade individual dos bens; porém como a supressão do direito de propriedade encontra oposição na imensa maioria da sociedade, os comunistas cercearam as liberdades estabelecendo ditaduras ferozes nos países por eles conquistados. Veja-se atualmente o que ocorre na Venezuela e na Nicarágua. Além disso, afora a afinidade do comunismo com a libertinagem (“permissivismo”), volta-se também contra a instituição natural da família, por ser esta a principal fonte permanente de desigualdades.
Na década de 80 do século passado o comunismo – sem alterar suas metas últimas do coletivismo autogestionário – optou pela revolução cultural destinada a modificar as mentalidades, os costumes para numa fase posterior – depois de destroçado o senso moral dos povos – implantar o coletivismo dos bens. Trocou a luta armada pela guerra psicológica implementada através da propaganda desenvolvida nos meios de comunicação social, e, pela ação de seus agentes espalhados nas escolas, organizações profissionais e agrupamentos religiosos[1].
Esta substituição de diretrizes foi pormenorizada e repetidamente proclamada pelos comunistas e suas forças auxiliares, notadamente os partidos socialistas da Espanha e da França.
Aqui no Brasil a nova orientação foi adotada pelo PT e seus satélites (PSOL, PC do B, etc.). Assim se explica que no primeiro mandato presidencial de Lula tivesse sido seguida a política macro-econômica ortodoxa, com o que o governo injetou dose cavalar de sonífero na população, deixando-a anestesiada pela ilusória bonança econômica. A agenda da revolução cultural foi tocada com lentidão a fim de que a sociedade não se apercebesse do jogo, o que de fato aconteceu.
Este artifício de despistamento prosseguiu até quase o final do primeiro governo de Dilma Roussef. Em 2013 eclodiram os primeiros sinais do descontentamento difuso que ia tomando conta da sociedade com o avanço do programa socialista. O processo de enfraquecimento do governo esquerdista se acentuou, e, prosseguiu até o “impeachment” da presidente.
Iniciada a movimentação preparatória das eleições de 2018 emergiu uma extensa afirmação dos tradicionais valores religiosos, morais e cívicos que circulavam de forma mais ou menos latente na maioria silenciosa. Tal afirmação teve como instrumentos as redes sociais através das quais as pessoas podiam se comunicar livremente, expressando suas ideias.
Este movimento desde logo enfrentou a hostilidade ostensiva dos grandes grupos de mídia que passaram a atacar diuturnamente o candidato Jair Bolsonaro, o único que havia encampado em seu programa a restauração daqueles valores. Afora possíveis antipatias em relação a Bolsonaro, o alvo de tal campanha consistia exatamente na maioria silenciosa a ser intimidada e desorientada.
Como era de se esperar, algumas iniciativas do novo governo despertaram a ira das esquerdas, que se aproveitaram para caçar pretextos destinados a fomentar a intriga, a maledicência, a incompreensão (posse de armas, acordo de Paris, oposição à ideologia de gênero, entre outras). E, para levar água ao moinho das esquerdas contribuíram provocações, bravatas e inconsistências oriundas de setores do governo. Esta é a segunda realidade.
Bolsonaro e aqueles que o apoiam precisam ter presente que os adversários irão utilizar todos os artifícios disponíveis para a sabotagem da nova administração, visando a desestabilização do País. Quererão, sobretudo, indispor a opinião pública contra o Governo e obstruir a implantação de providências saneadoras.
Em outras palavras, o comunismo com suas novas fachadas na Rússia, na China e alhures, e, disperso em postos chaves da sociedade ocidental não vai se conformar em perder o Brasil uma segunda vez (como em 1964), tanto mais em razão da tendência ao conservadorismo revigorada em diversos pontos do planeta, e, do peso do nosso País na geopolítica regional e mundial (“Para onde for o Brasil, irá a América Latina” disse com razão um importante líder cujo nome não me recordo)[2].
Plínio Correa de Oliveira, o principal pensador católico brasileiro ao longo do século XX, em adendo à sua obra “Revolução e Contra-Revolução” advertiu que – frente às dificuldades de expansão – o comunismo iria concentrar suas investidas não sobre seus companheiros de viagem e simpatizantes, mas sobre os neutros irredutíveis e sobre os adversários através de duas linhas de ação: a) iludir e adormecer os neutros irredutíveis (centristas), e; b) dividir a cada passo, desarticular, isolar, aterrorizar, difamar perseguir e bloquear os adversários (direitistas). Parece-me, portanto, que na atual situação do Brasil o comunismo irá intensificar tais linhas de ação da guerra psicológica revolucionária, pois as vias da revolução armada, e, do golpe de estado se mostram pouco transitáveis.
Confesso que este texto pode se mostrar árido uma vez que condensa a resultante de um enorme conjunto de fatos relatados pelo noticiário do dia a dia e de difícil síntese. Mas, para ilustrar a  argumentação com um único episódio me reporto ao ataque à embaixada brasileira em Berlim, pichada com dizeres “antifacistas”[3].
Ora, parece claro que o comunismo está mobilizando seus agentes até no exterior para denegrir a imagem do Brasil, atribuindo falsamente ao nosso governo coloração fascista, ideologia já sepultada no lixo da História, silenciando inclusive sobre o caráter socialista do fascismo. Nota-se o objetivo de isolar o Brasil e indispô-lo com as democracias liberais existentes no mundo[4]. E, deste modo preparar pressões políticas e econômicas, e ao mesmo tempo amedrontar o setor conservador nacional, propenso a ceder tais pressões.
Portanto o desdobramento que se apresenta mais provável é do acirramento entre as posições do nosso governo e de seus apoiadores, e, as posições das esquerdas manobradas pelo comunismo em inúmeras questões tais como a da moral sexual, do porte de armas, do combate à criminalidade, das populações indígenas, da reforma agrária, da política externa, da desestatização, da liberação da economia. Vale a pena lembrar que o comunismo mais de uma vez ameaçou incendiar o País.
O novo governo deve prosseguir em seu programa de saneamento sem se envolver em polêmicas inúteis que só se prestam a fornecer pretextos à demagogia dos adversários. Basta fundamentar solidamente seus propósitos. E, não cair nos vícios da “velha política” que se quis sepultar em 2018.
* O autor é advogado e pecuarista
[1] https://www.traditioninaction.org/bev/029bev10-12-2002.htm
[2] https://www.traditioninaction.org/HotTopics/j086_Stalin_1.htm
[3] https://veja.abril.com.br/mundo/embaixada-brasileira-em-berlim-e-vandalizada/
[4] https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/01/comite-de-relacoes-exteriores-dos-eua-repreende-relacao-de-pompeo-com-bolsonaro.shtml


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