sábado, 18 de agosto de 2012

O adubo que vem do mar



Revista ISTOÉ


Larissa Veloso

Talvez esteja no fundo do mar o remédio contra a expansão do desmatamento para o plantio de cana-de-açúcar no Brasil. Uma das grandes queixas dos ambientalistas contra o crescimento do setor de etanol no Brasil é justamente a de que o produto não pode ser considerado ecológico se florestas são derrubadas para dar lugar a mais canaviais.

Mas uma pesquisa da Universidade Federal de Lavras (Ufla) pode elevar a produtividade das terras que já são cultivadas em até 50%, diminuindo a necessidade de novos desmatamentos. Engenheiros agrônomos descobriram que o granulado bioclástico, produzido a partir de algas calcárias, faz com que um hectare de plantação produza uma vez e meia mais açúcar e álcool (leia quadro).

O segredo está na riqueza de minerais presentes no material. Formado por até cinco mil anos de decomposição de matéria orgânica, a substância possui elementos importantes para o desenvolvimento das plantas, como cálcio e magnésio. “Podemos comparar essa camada de detritos de algas calcárias no fundo do mar ao solo de uma floresta. Lá os materiais orgânicos vão se depositando ao longo dos anos e formam uma camada fértil”, explica o engenheiro agrônomo e professor responsável pela pesquisa, Paulo César Melo.

O potencial do negócio é tão grande que já existem pelo menos cinco grupos de mineradoras interessados. Um deles, o TWB Mineração, afirma ter capacidade para extrair até sete milhões e meio de toneladas por ano. O produto ainda não é disponibilizado comercialmente, mas com a possibilidade de se criar minas no fundo do mar, a preservação ambiental é um dos pontos mais preocupantes.

“Antes de explorar essas regiões, é preciso fazer um mapeamento das áreas e um diagnóstico ambiental para determinar exatamente o quanto de vida temos ali, já que em áreas próximas à costa existem espécies que dependem exclusivamente das algas calcárias”, defende a pesquisadora do Ins­­­­tituto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Márcia Abril de Oliveira Figueiredo, que estuda o assunto há 30 anos. 

Seja para impedir mais desmatamentos ou fazer o etanol brasileiro deslanchar, ao explorar novos recursos não podemos nos esquecer da regra número 1 do planeta: toda exploração tem seu preço.


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