Movimento lança dois novos bonecos: “Enganô” e
“Petralovski”. Ou: Recolha a tropa, Janot, e se atenha aos autos
Por: Reinaldo Azevedo
Começa a
ficar claro que Ministério Público Federal está com uma leitura política da
realidade que, no fim das contas, absolve politicamente o PT
Bonecos que fazem alusão crítica a
Janot e Lewandowski, do movimento Nas Ruas
Os movimentos de rua — e foram eles que levaram a Câmara a aceitar a
denúncia contra Dilma e o Senado a abrir o processo contra a presidente —, mais
uma vez, estão à frente da média da imprensa na percepção do que está em curso.
Sempre foi assim, não é mesmo? Enquanto setores expressivos do jornalismo
insistiam em dar espaço para meia dúzia de bocós que queriam golpe militar, as
ruas, de verdade, queriam o impeachment segundo as regras do jogo.
Enquanto os
“especialistas” do jornalismo duvidavam que Dilma seria afastada, as ruas nunca
hesitaram.
O movimento Nas Ruas me manda a imagem de dois bonecos que passaram a
frequentar a Avenida Paulista, junto com o Pixuleco: o “Enganô”, que faz alusão
ao Rodrigo Janot, procurador-geral da República, e o Petralovski, que remete ao
presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski.
Acho que não é preciso expor, vamos dizer assim, as reservas a
Lewandowski. Pode até ser um exagero meter-lhe uma estrela no peito, mas não
chega a ser segredo que suas concepções mais gerais de mundo estão bastante
adequadas ao universo mental petista.
No julgamento de uma das ações que
buscavam paralisar a tramitação do impeachment, o ministro discursou em favor
de uma inexistente soberania do Supremo para decidir se Dilma será ou não
cassada. Como se sabe, a Constituição diz que os juízes num processo de crime
de responsabilidade são os senadores. PONTO!
Qual é a treta com Janot?
E com Janot? Qual é a treta? Notem:
toda pessoa decente quer que todos os corruptos paguem por seus crimes. Mas os
movimentos que levaram milhões às ruas em favor da deposição de Dilma começam a
perceber que o sr. Rodrigo Janot se move com o que parece, a esta altura, ser
uma agenda.
Um estrangeiro que não tivesse acompanhado o escândalo e conseguisse ler
a imprensa brasileira teria algumas certezas inquestionáveis:
a: o PMDB foi o coração do petrolão;
b: o PMDB comandou o governo mais corrupto da história;
c: Eduardo Cunha é o chefe inconteste do petrolão;
d: nada há, até agora, que justifique uma denúncia contra Dilma;
e: nada há, até agora, que justifique uma denúncia contra Lula;
f: o PT foi um parceiro menor na administração do petrolão.
Ora, é a maior coleção de mentiras jamais contada sobre o caso.
Militância política
Infelizmente, resta evidente que o Ministério Público Federal, ao lado
do meritório trabalho de investigação que fez em muitos casos, resolveu operar
também com a política. Aponto esses desvios aqui no meu blog desde sempre.
Infelizmente, eu estava certo.
Ocorre que a militância passou a ser, agora,
mais desabrida. Com os holofotes no mais das vezes acríticos que lhes garante a
imprensa, procuradores falam abertamente em refundar a República e não têm
receio nenhum de conceder entrevistas que buscam intimidar até o Supremo.
Ou Deltan Dallagnol, o loquaz coordenador da Lava-Jato, não o fez duas
vezes enquanto Teori Zavascki decidia sobre o destrambelhado e injustificado
pedido de prisão de Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney?
O irrequieto
procurador deu a entender, com todas as letras, que a Teori só cabia uma
decisão correta: dizer “sim” à pretensão do Ministério Público. O ministro
consultou a lei e disse “não”.
Dallagnol e pares seus estiveram em Londres para um seminário sobre a
Lava-Jato. Ele e Paulo Roberto Galvão concederam uma entrevista ao Globo. Mais uma vez se
manifesta aquele viés de salvadores do mundo e almas messiânicas tocadas pelo
desejo de purificar a Terra.
Numa de suas respostas, afirmou Dallagnol:
“Sem entrar no caso concreto, eu diria que a corrupção não tem cor, não
tem partido. Ela existe há séculos no Brasil. Apenas na década de 90 tivemos 88
casos de corrupção só na área federal. O nosso compromisso é apurar corrupção
envolva quem for de modo cego, apartidário, técnico e imparcial. Esse é o
compromisso que temos com a sociedade.”
De todas as teses até agora expostas, essa é a mais profundamente
petista. Já escrevi aqui que a Lava-Jato fala, muitas vezes, com o sotaque do
PT da década de 80. Ora, essa avaliação desconsidera a particularidade do
assalto petista ao estado: foi também uma forma de conquista do estado; não foi
só o roubo aos cofres públicos; tratou-se também do sequestro da democracia.
A escolha das palavras diz muito do que vai hoje no MPF: “uma apuração
de modo cego”. Os olhos vendados da Justiça significam apenas que ela não
distingue nem protege este ou aquele. Mas não se pode ser tão cego a ponto de
não enxergar os limites institucionais.
A seleção de alvos que vem fazendo o Ministério Público e a forma como
articulou a delação do senhor Sérgio Machado puseram a instituição a
serviço de uma tese: a deposição do governo Temer para a realização de novas
eleições, o que poderia levar hoje o país para o buraco.
E, no buraco, não se consegue nem combater a corrupção.
É bom o Ministério Público Federal deixar a política de lado. As ruas já
perceberam. Elas apoiam o combate à corrupção, não os impulsos de candidatos a
tiranos virtuosos. Porque isso não existe.
Recolha a tropa, Janot, e se atenha aos autos.
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