terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Quem não atrapalha, já ajuda.



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de Jacinto Flecha

COM – SEM – APESAR DE

         Nos tempos longínquos em que abrilhantei com minha presença a faculdade de medicina, um professor mencionou doenças que se resolvem com o médico, sem o médico e apesar do médico. Mostrou depois a utilidade de umas e outras. Não pretendo trair segredos profissionais, mas quem conhece piadas sobre médicos não ignora a importância dos honorários...

         Saio correndo deste assunto, pois não me convém golpear interesses corporativistas, além disso minhas flechas estão hoje reservadas para o campo. Para qual campo? Ora, para o campo mesmo, o campo propriamente dito. Explico-me, antes que as flechas se voltem contra mim.

         Todos conhecemos o êxito do agronegócio brasileiro, cuja colheita recorde de 180 milhões de toneladas está chegando para engordar as raquíticas estatísticas do governo. A balança comercial (diferença entre exportação e importação) tem sido salva pela expansão da agropecuária, constante desde que se descartou a reforma agrária.

         Que relação tem a atividade agropecuária com a definição sibilina do meu professor? Aplique uma à outra, e veja o resultado: Nosso primitivismo agropecuário se resolveu com o governo, sem o governo e apesar do governo. Muito enigmático? Vamos esclarecer ponto por ponto.

         Com o governo – Não é justo atribuir todo esse progresso ao empreendedor rural. Grande parte se deve ao profissionalismo e dedicação da Embrapa, cujos técnicos competentes desenvolvem pesquisas de ponta para aumentar a produtividade e a qualidade dos produtos do campo. 

Sendo a Embrapa uma entidade do governo, ao governo cabe uma parte desse êxito, certo? A qual governo? Pergunta importante, pois o governo de dez anos atrás quis obrigar a Embrapa a sepultar pesquisas de ponta e despejar adubo na antiquada agricultura de subsistência. Ainda bem que não conseguiu...

         Outra iniciativa elogiável dos sucessivos governos são os empréstimos para a produção. Vitais para a atividade rural, são para o governo um negócio bancário cercado de todas as garantias, além de lucrativo em juros e impostos. Um favor útil, sem dúvida, mas muito interesseiro; e que precisa, aliás, ser melhorado e ampliado.

         Sem o governo – Mesmo sendo o grande beneficiário do lucro que o agronegócio lhe dá de mão beijada, o governo deixa esses empreendedores à própria sorte: Malha rodoviária deteriorada; deficiência ou ausência de assistência médica; escolas rurais inexistentes ou em condições precárias; incentivo a invasores, com posterior leniência na reintegração de posse – tudo isso desestimula os empreendedores, gera prejuízos e encolhe o único benefício que o trabalhador rural honesto realmente procura: bom emprego.

Apesar do governo – A ação do governo no setor rural produtivo é uma sequência de tiros no pé, com penalização persistente aos empreendedores e prêmios a quem não merece: Exigências ambientalistas draconianas; legislação trabalhista só aplicável a gabinetes luxuosos de burocratas brasilienses; indústria de multas arbitrárias e exorbitantes; confisco de propriedades para torná-las improdutivas nas mãos de índios urbanos indolentes, manobrados por ONGs; expropriação de produtores para entregar terra a aventureiros rotulados de quilombolas, mesmo contrariando a lei, que exige continuidade no uso da terra reivindicada. Após remoção injusta de proprietários legítimos, o governo deixa assentados nelas (ou deitados) os índios urbanos e falsos quilombolas.

Obstáculos ou doenças são equivalentes, na medicina e no campo, desde que se entenda metaforicamente alguns deles: Ervas daninhas, mau tempo, micróbios, predadores, vírus, profissionais desqualificados, criminosos. Nos dois casos, a solução é remover os obstáculos ou causadores de doenças. Nos dois casos, essa faxina traz lucro e progresso.

Será que alguém no governo entende esta linguagem tão simples? Poderiam entendê-la facilmente, se não estivessem encharcados de ideologia tão ultrapassada. Minha fraca esperança é que acordem para esta norma de vida criada pela sabedoria popular: Quem não atrapalha,  já ajuda.

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