terça-feira, 22 de setembro de 2015

A Igreja não tem mandato divino para falar sobre questões científicas


Cardeal Pell: “A Igreja não tem mandato divino para falar sobre questões científicas”
Luis Dufaur

Entrevistado pelo jornal econômico Financial Times, no mesmo dia em que cardeal Pell, Arcebispo de Sydney e “ministro da Economia” do Vaticano apresentou a posição das contas da Santa Sé, ele falou a propósito da encíclica Laudato si. O purpurado esclareceu que “a Igreja não tem mandato do Senhor para se pronunciar sobre questões científicas”, segundo noticiou o site Vatican insider. 
O Financial Times entendeu que o cardeal se distanciou assim da “revolucionária encíclica do Papa, que pede uma ação global contra a mudança climática”. O cardeal afirmou sobre a Laudato si: “Há partes que são belíssimas. Mas a Igreja não tem competência especial em matéria de ciência. Nós acreditamos na autonomia da ciência”.
Na mesma ocasião, o Cardeal Pell concedeu entrevista ao site Crux sobre outro aspecto da Encíclica: o agudo anticapitalismo da Laudato si, acentuado pela subsequente viagem pontifícia à América do Sul. “O mercado está longe de ser perfeito, mas temos assistido a níveis historicamente sem precedentes de prosperidade atingidos por causa da disseminação global do capitalismo e pelo aumento da liberdade para os mercados. O crescimento na China e na Índia, por exemplo, é real e maravilhoso”, defendeu o “ministro de Economia” designado pelo Papa Francisco.
Ele afastou-se assim do anticapitalismo ecoado em diversos parágrafos da Laudato si. Não podemos nos considerar garantidos no ‘Primeiro Mundo’, mas nas linhas gerais atingimos um bom nível de vida e não podemos esquecer isso”, acrescentou o cardeal.
            O site Crux, de tendência anticapitalista, observou que o Papa Francisco usou na América Latina uma retórica carregada do que ele próprio qualificou de “falhas do sistema capitalista”, ao que o cardeal respondeu que isso podia ser atribuído a “fracassos pontuais” na América do Sul, como na Argentina. 

De fato, se há falhas pronunciadas na economia argentina, elas não devem ser atribuídas ao capitalismo, mas ao socialismo populista que avança na nação platina, associado às diversas correntes da Teologia da Libertação – entre elas a teologia do povo, do Papa Francisco –, apesar de desacordos pontuais entre uma tendência e outra.


O purpurado também refutou aspectos negativos da “Igreja pobre para os pobres”, enfatizada pelo Papa. “Uma das melhores maneiras de elevar os pobres consiste em melhorar a economia. Mas se somos desorganizados, incompetentes e, além do mais pobres, não seremos capazes de auxiliar quem quer que seja”, completou com lucidez cardeal australiano.

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