segunda-feira, 21 de março de 2016

A jararaca só venceu quando foi paz e amor


A jararaca só venceu quando foi paz e amor

Péricles Capanema

27 de fevereiro, comemoração do aniversário do PT no Rio de Janeiro, Lula avisou no fim do discurso: ▬ Daqui pra frente, é pão, pão, queijo, queijo. Lulinha não vai ser mais Lulinha paz e amor!

Voltava à cena o Lula próximo dos comunistas, que, em proclamações extremistas, mostrando as presas peçonhentas, perdeu três eleições presidenciais. Só venceu ao garantir  em carta aberta ao povo brasileiro manter a política econômica do governo FHC, inaugurando a fase Lulinha paz e amor.

18 de março, manifestação de apoio ao PT, Dilma e Lula na avenida Paulista, de novo o chefão petista recolocou a máscara antiga: ▬ Vim para cá pensando como falar sem ficar nervoso. Tem muita gente pensando que eu vou atacar. Na hora em que a companheira Dilma me chamou [...] veja o que aconteceu comigo, eu virei outra vez Lulinha paz e amor. Eu não vou lá para brigar.

A guinada aconteceu logo depois de Lula ser anunciado do palanque, de forma solene, como o cavaleiro da esperança, o título de Luiz Carlos Prestes, no meio do mar de camisas vermelhas, onde tremulavam sem número as bandeiras da foice e do martelo.

O que teria acontecido? Um primeiro ponto, arquivou bravatas, voltou à política possível. O PT está fraco politicamente, a rejeição das ruas é altíssima, estão esboroando as alianças partidárias. O Datafolha de 19 de março dá rejeição de 57% para Lula, a maior entre todas as pesquisas; na mesma direção, 68% dos brasileiros querem o impedimento da presidente Dilma. Um fraco tenta acordos, não agride adversários.

Outro ponto chama a atenção, a mudança clara do quadro nos últimos dias. Entre as forças decisivas do Brasil, na política, na economia, no âmbito religioso, nos órgãos de classe, rapidamente está se construindo o consenso de que a saída necessária e provisória da atual crise é o impedimento da Presidente. Coisa que nunca se viu, entidades de classe, às centenas, estão se manifestando publicamente pelo fora Dilma. E, em especial, dois sintomas indicam atmosfera nova: a OAB, até agora, de fato, embora com disfarces, força auxiliar do lulopetismo, em votação esmagadora, apoiou o impeachment. O segundo, a CNBB, de triste trajetória governista, calou-se. Hoy por hoy, como dizem os espanhóis, já vivemos no pós-Dilma.

No situacionismo, continuam arreganhos e estrebuchamentos; são compreensíveis e até imprescindíveis para o PT. Um deles foi a declaração boçal de Eugênio Aragão, o novo ministro da Justiça: ▬ Cheirou vazamento de investigação por um agente nosso, a equipe será trocada, toda. Cheirou. Eu não preciso ter prova. ▬ É o petismo em seu lado totalitário, harmônico com o mar de vermelho na avenida Paulista e as bandeiras da foice do martelo. E assim, posto o clima atual, o governo, até por jogo de cena, vai continuar esperneando.

Estrebuchar, passar a impressão de que não entregou os pontos, tem razão importante, ajuda a manter acesos os ativistas. A direção partidária precisa dar carne para o tigre, sob pena de os mais ardidos caírem  na inanição. Com um problema: dá problemas o tigre rugir demais.

No caso, temos dois problemas concomitantes, de difícil harmonização, ambos decisivos para o futuro do PT: desmobilizar os opositores e mobilizar a militância. E o partido precisa solucionar ambos aceitavelmente, sob pena de sucumbir. Não custa lembrar, o PT não é partido comum, é seita ideológica, no horizonte político brasileiro em boa medida ocupa o lugar vago pelo antigo Partidão; como o velho PCB, precisa nutrir os setores ardidos. Nesse quadro, até os políticos petistas de mais relevância, confrontados com o “senhor Fato”, recordando a expressão de Ulysses Guimarães, já devem estar com a atenção mais posta no pós-Dilma que na situação atual. E, logicamente, seu propósito deve ser manter acesa a militância, atrair simpatizantes e não perder muito eleitorado. Para conseguir os três fins, o provável é enorme encenação de partido preocupado com os pobres, porta-voz das causas progressistas, injustiçado por perseguição implacável de elites insensíveis. Além disso, em auditórios escolhidos, destemida e afirmativa defesa das teses extremistas, as que provocam aclamações delirantes.


E volto, se carregar fora da medida a agressão aos sentimentos públicos dominantes, endurecerá o polo duro do antipetismo e, congruentemente, favorecerá seu aumento. Aí pode queimar chances de progresso por décadas. Dessa forma, a menos que sejam idiotas, e não são, os estrategistas do PT buscarão meios de evitar que a presente exasperação antipetista, de si lava passageira, se transforme em pedra, obstáculo permanente. O Brasil que presta, o que pretende? Quanto mais pedra, melhor.

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