Desastre
das mudanças
por Vicente Nunes
Todas
as vezes que Dilma decidiu alterar alguma coisa, o resultado foi desastroso,
sobretudo na economia
A presidente Dilma Rousseff aguçou a curiosidade dos investidores ao
registrar, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sua chapa com o seguinte
slogan: “Mais mudança, mais futuro”. A grande pergunta que todos estão se
fazendo é o que a candidata do PT à reeleição classifica como mudança. O
histórico dos quase quatro anos de seu governo mostra que, todas as vezes que
ela decidiu alterar alguma coisa, o resultado foi desastroso. Sobretudo, na
economia.
Desde que tomou posse, em janeiro de 2011, Dilma não sossegou enquanto não
colocou em prática o que batizou de nova matriz econômica. O projeto consistia
em reduzir a taxa básica de juros (Selic) ao menor patamar da história, o que
ocorreu em outubro de 2012, quando o indicador chegou a 7,25% ao ano. Ao mesmo tempo,
o governo forçou a alta do dólar. E, para completar, abriu os cofres sem
critério, combinando gastança com truques contábeis. Tudo com o intuito de
estimular o crescimento econômico.
A colheita do país, meses depois, foi uma combinação perversa de pífio
desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) com inflação nas alturas. Mas o
Palácio do Planalto não se deu por satisfeito. Mesmo com uma onda de
desconfiança varrendo a economia, sentiu-se confortável para intervir no setor
elétrico e reduzir, unilateralmente, as contas de luz.
Realmente, num primeiro momento, os consumidores puderam saborear alguns meses
de tarifas mais baratas. Contudo, por ser inconsistente, a medida teve de ser
revertida e, hoje, quase a metade dos brasileiros já está pagando energia mais
cara do que em 2012. Pior: os consumidores terão de ampliar a fatura em 2015,
devido a reajustes represados e ao fato de o país estar recorrendo a
termelétricas, que produzem energia mais cara. Atualmente, 25% de toda a carga
consumida saem dessas usinas.
Se as mudanças prometidas por Dilma seguirem na mesma direção, certamente o
resultado será preocupante. Ao não dar transparência ao programa de governo
para além de janeiro de 2015, a candidata poderá estimular o
pessimismo que está nocauteando a atividade econômica. Em seu último ano de
mandato, quando deveria ter uma coleção de boas notícias para apresentar ao
eleitorado, a petista reúne um punhado de indicadores ruins, a começar pelo
PIB, que pode encerrar 2014 abaixo de 1%.
No
limite da tolerância
Os técnicos do governo fizeram e refizeram as contas e acreditam que há, sim,
chances de a inflação estourar o teto da meta, de 6,5%, hoje. Pela manhã, em
meio à ansiedade com a partida entre Brasil e Alemanha, o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) de junho. No Ministério da Fazenda, a expectativa é de que a taxa
fique entre 0,35% e 0,40%. Caso o resultado saia no topo das previsões, a
carestia cravará 6,51% no acumulado de 12 meses. Será o 11º mês na gestão Dilma
que a inflação superará o limite de tolerância definido pelo Conselho Monetário
Nacional (CMN). Em junho do ano passado, quando o Brasil fervilhava por causa
das manifestações de ruas, prefeitos de várias capitais, entre elas São Paulo,
cancelaram os reajustes das passagens de ônibus. Isso fez com que o IPCA
daquele mês ficasse em apenas 0,03%.
Desunião
petista
» Oficialmente, o comando petista da campanha à reeleição da presidente Dilma
Rousseff prega união. Mas quem acompanhou os últimos dias de movimentação dos
escolhidos pelo partido para a empreitada percebeu sinais de forte
descontentamento com a candidata Dilma, especialmente entre a turma que
defendeu o “volta, Lula”.
Guerra
perdida
» Uma ala da campanha petista está defendendo que, para reverter o pessimismo
de empresários e investidores, a presidente Dilma revele, o mais rapidamente
possível, os principais nomes da equipe econômica do eventual segundo mandato.
Mas ela resiste, sob o argumento que não terá esses grupos do seu lado,
quaisquer que sejam os anunciados.
Correio Braziliense: 08/07/2014 - Correio Econômico
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