terça-feira, 8 de julho de 2014

Mais mudança, mais futuro???


Desastre das mudanças
por Vicente Nunes 

Todas as vezes que Dilma decidiu alterar alguma coisa, o resultado foi desastroso, sobretudo na economia


A presidente Dilma Rousseff aguçou a curiosidade dos investidores ao registrar, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sua chapa com o seguinte slogan: “Mais mudança, mais futuro”. A grande pergunta que todos estão se fazendo é o que a candidata do PT à reeleição classifica como mudança. O histórico dos quase quatro anos de seu governo mostra que, todas as vezes que ela decidiu alterar alguma coisa, o resultado foi desastroso. Sobretudo, na economia.

Desde que tomou posse, em janeiro de 2011, Dilma não sossegou enquanto não colocou em prática o que batizou de nova matriz econômica. O projeto consistia em reduzir a taxa básica de juros (Selic) ao menor patamar da história, o que ocorreu em outubro de 2012, quando o indicador chegou a 7,25% ao ano. Ao mesmo tempo, o governo forçou a alta do dólar. E, para completar, abriu os cofres sem critério, combinando gastança com truques contábeis. Tudo com o intuito de estimular o crescimento econômico.

A colheita do país, meses depois, foi uma combinação perversa de pífio desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) com inflação nas alturas. Mas o Palácio do Planalto não se deu por satisfeito. Mesmo com uma onda de desconfiança varrendo a economia, sentiu-se confortável para intervir no setor elétrico e reduzir, unilateralmente, as contas de luz. 

Realmente, num primeiro momento, os consumidores puderam saborear alguns meses de tarifas mais baratas. Contudo, por ser inconsistente, a medida teve de ser revertida e, hoje, quase a metade dos brasileiros já está pagando energia mais cara do que em 2012. Pior: os consumidores terão de ampliar a fatura em 2015, devido a reajustes represados e ao fato de o país estar recorrendo a termelétricas, que produzem energia mais cara. Atualmente, 25% de toda a carga consumida saem dessas usinas.

Se as mudanças prometidas por Dilma seguirem na mesma direção, certamente o resultado será preocupante. Ao não dar transparência ao programa de governo para além de janeiro de 2015, a candidata poderá estimular o pessimismo que está nocauteando a atividade econômica. Em seu último ano de mandato, quando deveria ter uma coleção de boas notícias para apresentar ao eleitorado, a petista reúne um punhado de indicadores ruins, a começar pelo PIB, que pode encerrar 2014 abaixo de 1%.

No limite da tolerância
Os técnicos do governo fizeram e refizeram as contas e acreditam que há, sim, chances de a inflação estourar o teto da meta, de 6,5%, hoje. Pela manhã, em meio à ansiedade com a partida entre Brasil e Alemanha, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho. No Ministério da Fazenda, a expectativa é de que a taxa fique entre 0,35% e 0,40%. Caso o resultado saia no topo das previsões, a carestia cravará 6,51% no acumulado de 12 meses. Será o 11º mês na gestão Dilma que a inflação superará o limite de tolerância definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Em junho do ano passado, quando o Brasil fervilhava por causa das manifestações de ruas, prefeitos de várias capitais, entre elas São Paulo, cancelaram os reajustes das passagens de ônibus. Isso fez com que o IPCA daquele mês ficasse em apenas 0,03%.

Desunião petista
» Oficialmente, o comando petista da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff prega união. Mas quem acompanhou os últimos dias de movimentação dos escolhidos pelo partido para a empreitada percebeu sinais de forte descontentamento com a candidata Dilma, especialmente entre a turma que defendeu o “volta, Lula”.

Guerra perdida
» Uma ala da campanha petista está defendendo que, para reverter o pessimismo de empresários e investidores, a presidente Dilma revele, o mais rapidamente possível, os principais nomes da equipe econômica do eventual segundo mandato. Mas ela resiste, sob o argumento que não terá esses grupos do seu lado, quaisquer que sejam os anunciados.

Correio Braziliense: 08/07/2014 - Correio Econômico

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