sábado, 19 de julho de 2014

O que esperar do emprego em 2014?


Caindo na real

Correio Braziliense - Quinta feira, 17 de julho de 2014 - José Pastore

Os brasileiros viram com muita melancolia que a sua equipe de futebol não é o que diziam os entendidos e os apostadores que viam o Brasil como o favorito na Copa do Mundo. Terminado o certame, caímos na real constatando o que já sabíamos, ou seja, que nossa vida depende mais dos empregos do país do que das bravatas dos jogadores.

Infelizmente, no campo do emprego, vamos tão mal quanto no campo do futebol. Os dados disponíveis antecipam dias difíceis para quem busca nova colocação no mercado de trabalho. Emprego depende de vendas e de investimentos. Nas duas áreas, o país patina. Vejamos por quê.

No primeiro semestre deste ano, as vendas no setor imobiliário despencaram. Há cidades como São Paulo em que as vendas caíram 50% no período. Quem tem imóvel para vender sabe que os preços estão sendo revistos para baixo e, mesmo assim, está difícil encontrar compradores capacitados. Para o campo do emprego, essa é má noticia porque a desaceleração do mercado imobiliário desestimulará a geração de postos de trabalho no setor da construção civil, o que já está acontecendo.

O setor da construção vem se desaquecendo também pelo término das obras relacionadas com a Copa do Mundo e com o grande atraso nos empreendimentos do PAC financiados pelo governo. A diminuição das vendas é igualmente preocupante no setor de veículos, que envolve muitos empregos diretos e indiretos. A prorrogação da redução do IPI sozinha já não tem a força que tinha em 2008-09 para estimular vendas e aumentar a produção, com a consequente expansão do emprego.

As últimas previsões do setor automobilístico indicam redução da produção de 10% para este ano, o que é muito grave, pois esse setor responde por 25% do PIB industrial. Os reflexos sobre o emprego já começaram. No primeiro semestre, as empresas suspenderam turnos de trabalho, deram férias coletivas, entraram em lay off e demitiram empregados.

Tais medidas vão se alastrando porque a cadeia produtiva do setor é muito longa. Quando a montadora esfria, os reflexos nas autopeças, fundições e metalúrgicas são devastadores. Por serem empresas menores, muitas delas não conseguem antecipar férias ou praticar o lay off e, por isso, simplesmente demitem empregados.

No setor do comércio, a apreensão é idêntica. As vendas caíram pelo quarto mês consecutivo e recuaram 2,1% no mês de junho em relação ao mesmo período de 2013. A Copa do Mundo trouxe mais problemas do que soluções. A coincidência do Dia dos Namorados - a terceira melhor data em faturamento para os comerciantes - com o dia de abertura do evento e os vários feriados decretados nas cidades-sede afastaram os consumidores, prejudicando o desempenho das vendas e a contratação de pessoal adicional.

O encarecimento do crédito e a inflação elevada jogaram água fria no varejo, com exceção dos televisores. No primeiro semestre, frente à igual período de 2013, as vendas acusaram redução de 1,5%. O índice de confiança dos consumidores vem caindo dia a dia nas principais praças comerciais.

O índice de confiança dos produtores também é declinante. No radar internacional, o Brasil deixou de ser a bola da vez. A confiança dos CEOs mundiais em relação ao nosso país, medido pelo YPO Global Pulse, recuou 35% em relação ao que foi em outubro de 2010.

A desconfiança reinante não decorre apenas do fiasco da Copa do Mundo, mas de situações muito objetivas, pois o país cresce pouco, a inflação é alta, a infraestrutura está em frangalhos, a produtividade é baixíssima, o cipoal trabalhista só aumenta, e os salários, contribuições e impostos não param de subir.

Por isso, vislumbro dias difíceis para o emprego ao longo dos próximos 12 meses. Apesar de as eleições prometerem injeção de ânimo no trabalho de curta duração e de o Brasil desfrutar de taxa de desemprego bastante baixa, os sinais indicados são bastante preocupantes. O próprio investimento está estagnado há vários meses. Isso se reflete na geração de empregos que, no primeiro semestre de 2014, foi 32% menor do que em 2013 e 46% menor do que em 2012.

Se levarmos em conta os fatos que estão por acontecer, a preocupação é redobrada. Lembro aqui o tarifaço dos preços públicos agendado para 2015, em especial na área de energia com graves desdobramentos para outros setores. Adiciono a ameaça de racionamento de água em São Paulo e outras regiões assim como a provável falta de energia elétrica em vários estados do país.

Oxalá o Brasil fique livre das manifestações e depredações de prédios públicos, lojas e bancos que adicionam incerteza e inibição de investimentos. Sim, porque o desrespeito ao direito de propriedade praticado nas barbas de autoridades é péssimo sinal para quem pretende investir. A conjugação desses fatos conspira contra um bom ambiente de negócios e inibe os investimentos e a geração de empregos de boa qualidade.

José Pastore é professor da FEA-USP, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomercio SP e membro da Academia Paulista de Letras.
                        

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