domingo, 21 de dezembro de 2014

2015 desafiador: agronegócio preparado?


Quem enfrentará bem 2015?

Jose Roberto Mendonça de Barros

O agronegócio é, sem dúvida, o segmento mais preparado para 2015. Não há um desequilíbrio estrutural entre oferta e demanda e os preços podem melhorar no futuro próximo

O cenário para o próximo ano se afigura como desafiador. O volume de incertezas ainda é muito grande e vão desde a natureza do ajuste prometido pela nova equipe econômica até a crise internacional, passando pelas consequências, políticas e econômicas, do Petrolão. 


Será possível extrair algo de mais firme para a construção de cenários para setores e empresas? 

É o que tentamos fazer a seguir. 

Em primeiro lugar, precisamos destacar algumas variáveis que devem, com boa probabilidade, ter tendências definidas em meio a atual volatilidade. 

As mais relevantes são: 

Bom crescimento nos Estados Unidos; fraco na Europa, Japão, exportadores de Petróleo e muitos emergentes. 

Preços baixos de commodities. No caso das agrícolas, o consumo continua forte e as cotações refletem mais do que tudo a grande safra americana.  

Isto posto, os preços podem se recuperar adiante por flutuações da oferta (como está acontecendo com o trigo, dadas as dúvidas quanto ao efeito da seca na produção russa). 

Nos metais e minérios, a queda de demanda veio para ficar por um bom tempo e os preços devem seguir baixos, dado o excesso de capacidade produtiva. 

Finalmente, por queda de demanda e elevação da oferta (sem redução de produção por parte da Opep), os preços do Petróleo não só deverão seguir baixos, como poderão cair ainda um pouco mais. 

Valorização do dólar, alta nos juros americanos e elevação do custo de colocação de papéis de empresas brasileiras no exterior. 

Desvalorização adicional do real. 

Crédito muito mais seletivo; elevação do custo do passivo externo. 

Elevação de alguns tributos, como parte do programa de ajuste. 

Oportunidades. Onde estarão algumas oportunidades? Quais setores mais bem defendidos? 

A lista que se segue, evidentemente, é sugestiva e não extensiva. 

Em primeiro lugar, as exportações industriais estão estimuladas em decorrência da forte desvalorização cambial (que, ao longo do próximo ano, poderá ser ainda maior). Leva tempo e exige esforço, mas não tenho dúvidas que a indústria vai exportar mais. 

Por exemplo, as vendas externas de bens de capital cresceram, em dólares, algo como 13% de janeiro a outubro deste ano, em relação ao ano passado. 

Embora passando por uma situação difícil, temos no Brasil muitas indústrias eficientes e produtivas (particularmente multinacionais), que, com o câmbio, poderão exportar. 

No caso dos bens de capital, boa parte do crescimento dos embarques se deu em direção aos Estados Unidos e à Europa. 

Ao mesmo tempo, está aberta a porta para a nacionalização de componentes e partes, especialmente no setor automotivo, onde temos muitas novas plantas e produtores. 

O agronegócio é, sem dúvida, o segmento mais preparado para 2015. Não há, como mencionado, um desequilíbrio estrutural entre oferta e demanda e os preços podem melhorar no futuro próximo. A rentabilidade deve cair um pouco em grãos, mas os últimos cinco anos foram magníficos. 

Além disso, a desvalorização do real afeta positivamente toda a receita, mas nem toda a despesa (por exemplo, salários e outros serviços), o que melhora as margens. 

Mais ainda, por conta do Petróleo, muitos insumos caíram em dólares (a uréia no golfo caiu mais de 20%), o que mitiga um pouco a elevação do custo de importação. 

Mesmo o Etanol, tão machucado, deve melhorar com a espera da reintrodução do imposto ambiental, a Cide, e o enfraquecimento do real. Exceto pelo clima, o ano deverá ser bom. 

Nos últimos meses, a nafta petroquímica caiu bem mais que o Petróleo, dada a grande oferta de propano, derivada da crescente produção do "shale gas" nos Estados Unidos, entre outros fatores. 

Como a petroquímica brasileira se baseia na nafta, muitos segmentos estão sendo beneficiados. Em particular, a produção de eteno e a cadeia do plástico recebem um merecido alivio nos custos. 

Ainda no setor químico, a crise hídrica está implicando numa enorme demanda de produtos para tratamento de água, saneamento e tratamento de efluentes, buscando o reúso do produto. Os investimentos nestes segmentos irão crescer bastante e extrapolarão 2015. 

Outro complexo importante que deve continuar a desempenhar bem é o de saúde, indústria farmacêutica, higiene, beleza e farmácias. Nesta área o envelhecimento da população traz maiores demandas e tanto o setor público quanto empresas e famílias gastam cada vez mais para atender suas necessidades. 

O mercado de trabalho vem desacelerando e não esperamos crescimento real na massa salarial para o ano que vem. Com isso, o consumo de bens mais dispendiosos, como carros e outros bens duráveis são claramente prejudicados. 

Ao mesmo tempo, os bens não duráveis acabam relativamente beneficiados, uma vez que a reorganização dos orçamentos familiares acaba dando mais atenção à alimentação e outros setores não duráveis. 

Finalmente, queria chamar a atenção que, em situações como a que estamos vivendo, existe um processo natural de consolidação, uma vez que empresas alavancadas acabam tendo dificuldades, podendo ser absorvidas por aquelas com maior fôlego financeiro e disposição para crescer em momentos difíceis.

OESP, 21 de dezembro de 2014


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