Boi que engorda mais rápido dá lucro a pecuaristas pelo Brasil
Gado da raça nelore criado no Polo de Pesquisa Alta Mogiana, em Colina, SP
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Pierre Duarte/Folhapress
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MARCELO TOLEDO
DE RIBEIRÃO PRETO
DE RIBEIRÃO PRETO
O
lucro que o pecuarista Alaor Ávila Filho tira de cada hectare de sua fazenda em
Goiás aumentou dez vezes.
O
segredo, diz Ávila, 44, é o boi 777 — um sistema de produção que reduz de três
para dois anos o tempo em que o gado fica pronto para o
abate.
Desenvolvido
pela Apta (agência de tecnologia dos agronegócios da Secretaria de Agricultura
paulista), o sistema já é adotado hoje em oito Estados e se baseia em uma
combinação de genética, nutrição e pasto.
O
nome é boi 777 porque o ciclo até o abate é dividido em três etapas nas quais,
em cada uma, o animal ganha sete arrobas (105 quilos) de peso de carcaça (carne
e ossos).
A
média nacional de produção de gado é de 4 arrobas por hectare/ano, enquanto no
novo sistema chega a 20.
PRODUTO GOURMET
Os
bezerros já nascem com perspectiva de bom desenvolvimento, pois foram gerados a
partir de vacas de procedência, também suplementadas.
Ao
longo do desenvolvimento, o animal recebe doses crescentes de suplementos, como
zinco, potássio e fósforo. Segundo pesquisadores, os elementos melhoram a saúde
bovina e não afetam a carne. "Nada usado é diferente de um processo mais
tardio", diz Fernando Garcia, do departamento de apoio à produção e saúde
animal da faculdade de veterinária da Unesp de Araçatuba.
O
resultado do processo é uma carne mais macia, saborosa e de cor mais clara, já
que o boi é abatido mais cedo. O destino são frigoríficos que abastecem
açougues gourmet, restaurantes finos e o mercado internacional.
A
engorda precoce tem feito com que os abatedouros incentivem a sua adoção.
Gerente
de compra do frigorífico Minerva, Fabiano Tito Rosa diz que a empresa adota, há
um ano, um programa de orientação, assistência e adiantamento de recursos para
pecuaristas produzirem animais nos moldes do 777. O projeto é desenvolvido em
parceria com a Apta.
"Alguns
mercados exigem animais jovens, por questão de qualidade e protocolo contra a
vaca louca. Preciso de animal de carne com pH baixo, que não escurece e não
endurece", diz ele.
Segundo
Rosa, 40 pecuaristas, com 15 mil cabeças de gado, já fazem parte do programa. O
frigorífico exporta 75% de sua produção.
MAIS LUCRO
"Até
30 anos atrás, a terra era barata. Comprava e jogava o animal lá. Era um
salve-se quem puder. O 777 me permitiu ser competitivo com atividades como cana
e soja", disse Ávila Filho, dono da fazenda Panorâmica do Turvo, em
Indiara (GO), que adotou o sistema em 2013.
Seu
lucro líquido por hectare atingiu R$ 2.272 no período 2014/15, ou 11,3% do
valor do hectare de terra na região. Segundo o fazendeiro, cuja produção é
certificada para exportação, no sistema tradicional o lucro seria de R$ 200.
Fora
os custos de manutenção da propriedade, a estimativa de produtores é que o
gasto até o animal ser abatido chegue a R$ 2.500 no sistema 777, ante os até R$
600 da produção convencional.
A
rentabilidade, no entanto, compensa, diz Ávila.
Segundo
a Apta, o custo maior não torna o sistema inacessível a pequenos produtores. A
agência atende até a pecuaristas que abatem 30 animais por ano.
Por
ser um órgão público, ele fornece informações sem custo e agenda visitas
assistidas. Ao longo deste ano, deve oferecer também cursos.
Desenvolvido
desde 2008, o método 777 também traz vantagens ao ambiente, porque reduz o
ciclo de vida do gado no pasto, afirma o pesquisador Flavio Dutra de Resende,
da Apta.
Coordenador
de pecuária da Agroconsult, Maurício Palma Nogueira diz que o sistema está se
difundindo num momento propício, já que o lucro dos pecuaristas tem caído nos
últimos 20 anos.
"Na
década de 1980, compravam-se até quatro bezerros com o dinheiro de um boi.
Agora, dá no máximo dois."
O
veterinário Hyberville Neto, da Scot Consultoria, diz que o "novo"
boi precisa de investimentos adicionais, "mas o sistema torna mais
eficientes recursos como terra e mão de obra. Gera mais gado, usa melhor o
curral e reduz a depreciação".
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