segunda-feira, 1 de junho de 2015

Agropecuária: alerta para os próximos resultados


Setor atenua PIB negativo 

Nayara Figueiredo

Nas estimativas da CNA, o PIB do agronegócio, avaliado dentro da porteira, deve ter variação positiva entre 1,5% e 2% no ano


O avanço de 4,7% do setor agropecuário na variação trimestral do Produto Interno Bruto (PIB), contra o período imediatamente anterior, aliviou o resultado geral - negativo em 0,2% - mas já é esperada uma desaceleração para o desempenho do campo no segundo semestre.

Analistas e representantes do setor ouvidos pelo DCI chegaram ao consenso de que o resultado positivo em patamares elevados dificilmente será mantido, pois a mensuração de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reflete um momento em que os insumos estavam mais baixos e a safra de grãos registrou um novo recorde, estimado em mais de 200 milhões de toneladas. 


Agora, a pressão do dólar alto deve ter forte impacto sobre os custos de produção.

O levantamento do instituto, divulgado na última sexta-feira (29), destaca os ganhos da agropecuária, uma vez que a indústria e os serviços tiveram recuos de 0,3% e 0,7%, respectivamente, no mesmo período de avaliação.

No setor

"Apesar da queda nas principais commodities, o câmbio compensou a margem de renda do produtor até o momento. Para o restante do ano a situação tende a ficar bem mais crítica. 


Os insumos importados virão mais caros, o frete é maior, a energia elétrica já sofreu um incremento de 150% em regiões com amplo uso de irrigação como o Rio Grande do Sul e o diesel ainda onera as operações dentro da propriedade", explica o superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Lucchi.

Consideradas todas estas variáveis negativas, o executivo acrescenta que o custo de produção vai estar extremamente alto e pode ser que o dólar não esteja com tanta força no ano que vem, a ponto de incrementar a receita em níveis proporcionais ao desembolso do produtor rural.

"Teremos um ano difícil pela frente em função de que as commodities entraram num processo de preços declinantes", comenta Luiz Cornacchioni, diretor executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), em nota.

Outro aspecto que preocupa Cornacchioni é a forte queda nos investimentos apontada pela mesma pesquisa do IBGE. "Isso significa investimentos insuficientes para, por exemplo, ampliar e modernizar a infraestrutura de transporte e logística, que é fundamental para o escoamento da safra", complementa. Isso porque, diante deste cenário, uma das formas de se manter no mercado é através de aportes que garantam ganhos de produtividade na lavoura e redução de custos variáveis.

Sobre o tema, o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gustavo Diniz Junqueira, ressalta a importância do crédito rural paralela à cautela que vem sendo vista no setor.

"Um exemplo claro foi a Agrishow [Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação], que teve retração de quase 35% nas vendas. Essa cautela do agricultor pode repercutir em uma área de plantio menor com 100% de tecnologia", afirma Junqueira.

Na feira, realizada na última semana de abril, houve o primeiro resultado negativo em 22 edições. O clima de incertezas sobre as definições do governo federal para o Plano Agrícola e Pecuário (PAP) da safra 2015/2016 inibiu e segue travando as apostas para 2015.

Avaliação e projeções

Na análise da coordenadora do IBGE, Rebeca Palis, os produtos que devem ter influência positiva no setor de agropecuária neste ano são a soja, arroz, mandioca e fumo, que tendem a provocar aumento de produção da lavoura.

Lucchi, da CNA, explica que a cadeia de carnes não conseguiu o mesmo desempenho dos grãos na divulgação atual porque o único segmento que não tem tido problemas na relação entre a oferta e demanda é a pecuária de corte. Suínos, aves e leite tiveram valores depreciados no início deste ano, fato que ofuscou a cadeia na avaliação geral.

Para o economista da GO Associados, Alexandre Andrade, a cana-de-açúcar também pode ser favorecida pelo aumento na demanda de etanol, obtido após "a aplicação de política realista nos combustíveis". Feijão, algodão, café, milho e laranja podem sentir efeitos maiores ao longo do ano.

Nas estimativas da CNA, o PIB do agronegócio, avaliado dentro da porteira, deve ter variação positiva entre 1,5% e 2% no ano. "Mesmo com patamares menores, vamos continuar ajudando a economia nacional", lembra Lucchi.

É em função desse desempenho que o agro "precisa continuar recebendo crédito e financiamento adequados capazes de garantir mais produção e produtividade, além de manter a contribuição decisiva do agronegócio na manutenção do superávit da balança comercial", enfatiza o presidente da CNA, João Martins.

DCI, 1 de junho de 2015


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