sexta-feira, 19 de junho de 2015

Para meditação de Francisco I




Terceirização

Antonio Delfim Netto

A população brasileira tem uma enorme virtude: é extremamente generosa. Por isso mesmo, é contra a aritmética e a história, como revela a preocupante e acalorada discussão sobre o projeto de lei que pretende regular a “terceirização” do trabalho.

É preocupante porque, de fato, o emprego de todo cidadão que pode e quer trabalhar, o direito a uma remuneração razoável que lhe permita sustentar a sua família, são a essência da sociedade civilizada. 

É necessariamente acalorada porque vai ao cerne dos interesses da “elite” sindicalista ergófoba montada no imposto sindical. Ela sabe que o seu poder depende do controle da “entrada” dos trabalhadores nos diferentes setores do sistema econômico. 

Sua situação é delicada. Tem que fingir que é “vanguarda” mas precisa combater o inexorável avanço da tecnologia que é o gerador das mudanças das condições que alteram as posições relativas dos trabalhadores.

Destroem-se empregos. Criam-se outros que exigem novos conhecimentos e habilidades. Isso tem custos sociais e riscos econômicos que, evidentemente, devem ser enfrentados por políticas públicas de solidariedade social sem comprometer o aumento da produtividade total do trabalho que é o que induzirá a passagem da organização obsoleta para a nova que responde ao avanço da tecnologia.

Vamos combinar: os nossos luddistas repetem dois séculos de fracassos dos sindicatos de inibir o avanço da tecnologia. Eles deveriam preocupar-se em aumentar a apropriação pelo trabalhador nos ganhos da produtividade, em lugar de combatê-la. 

Os argumentos contra a terceirização (sujeita aos controles da proposta do projeto de lei) são opiniões ideológicas de alguns intelectuais, na maioria funcionários públicos bem instalados em carreiras confortáveis e de partidos exóticos, ambos apoiados no “fundo de comércio” de um socialismo “idealizado” que não é alternativa viável para o horrível capitalismo “real” que nos oprime.


Com todos os seus inegáveis defeitos, o capitalismo real, com sua destruição criadora, produziu um desenvolvimento material e humano muito maior do que o socialismo “real” criado por intelectuais quando tiveram oportunidade...

Folha de S. Paulo

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