sábado, 20 de junho de 2015

Sinto-me constrangido


Presidente, constrangedor é o seu governo!

 Percival Puggina

Como brasileiro, sinto-me constrangido. Cheguei da Inglaterra na semana passada. Sem exceção, todas as perguntas que me fizeram sobre o Brasil, em estações de trem, no metrô e no comércio, se referiam aos escândalos e à perda de credibilidade do governo. 
Algo assim é incompreensível no Reino Unido porque lá o regime proporciona condições para que maus governos caiam naturalmente, dentro da norma constitucional.
 Após as manobras restritivas e antidemocráticas em que o governo de Nicolas Maduro envolveu o grupo de senadores brasileiros que visitavam o país, a presidente Dilma avaliou que a iniciativa da oposição colocou seu governo numa "armadilha", criando "constrangimento" para o Brasil. 
O Planalto sustenta que a viagem foi uma intromissão em assuntos internos da Venezuela.
Ah! Então não é o governo venezuelano que deve ficar constrangido com o fato de manter oposicionistas presos, há mais de ano, sob a acusação de estimular manifestações contra o regime bolivariano? 
Não é o governo de Maduro que deve corar diante da percepção internacional de que implantou uma ditadura sobre seu povo, fechando jornais, impedindo a livre manifestação das ideias, executando manifestantes durante gigantescas manifestações de rua? 
Não é a senhora, presidente, que deve ficar constrangida por sua atitude ao sequer receber as esposas de Daniel Ceballos e Leopoldo Lopez? 
Não a constrange a distância entre o nada convincente discurso local pela democracia e pelos direitos humanos e a afetuosa relação que mantém com as duas mais perversas e desastrosas ditaduras da América Ibérica?
Lembre-se bem do que seu governo fez quando as instituições paraguaias - em procedimento lisa e transparentemente constitucional - destituíram o presidente Lugo. Seu governo enviou observadores. 
Esses observadores deram palpite sobre os acontecimentos. A intromissão de seu governo culminou com a expulsão do Paraguai do Mercosul. Essa manobra escusa visou, na verdade, a atender o pedido de ingresso, no bloco, da "democrática" Venezuela, que vinha sendo vetado pelo Senado paraguaio. 
Em 2009, fora a vez de Lula proporcionar um tremendo escarcéu quando da destituição do hondurenho Manuel Zelaya, após sucessivas afrontas à Constituição do país.
As prisões cubanas ainda mantêm presos alguns dos dissidentes que foram recolhidos na onda repressiva de 2003. Passaram-se 12 anos! 
Sucessivas visitas de dirigentes e governantes petistas enfrentaram com silêncio conivente e sem qualquer constrangimento, os apelos dos familiares dos presos por uma atitude solidária do Brasil.
Nada! Agora, a presidente não se constrangeu com as manobras para bloquear o tráfego dos senadores em direção ao presídio, nem com a emboscada armada pelos camisas vermelhas de Maduro. 
Ela se considera vítima de uma armadilha e constrangida pela viagem de solidariedade que promoveram.


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