quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Índios: Crise da Igreja, crise do Brasil


Crise da Igreja, crise do Brasil

Padre David Francisquini


 
Com a perceptibilidade própria de um profeta, José de Anchieta, o Apóstolo do Brasil, assim vaticinou o papel de nosso país no concerto das nações sul-americanas: “A terra em que sopra o Sul conhecerá o Teu nome, e ao mundo austral advirão os séculos de ouro, quando as gentes brasílicas absorverem Tua doutrina”. Com efeito, pode-se dizer que o Brasil nasceu à sombra da Cruz e com ela cumprirá a sua missão.

Qual pêndulo que move a engrenagem que marca as horas da História, desde seu nascedouro o Brasil teve de enfrentar lutas, guerras, batalhas de toda ordem para manter-se fiel à sua vocação. Ora contra os calvinistas franceses que desejavam implantar aqui a França Antártica, ora contra os holandeses tomados de ódio ao catolicismo, ora opondo-se à resistência de nativos que tentavam formar uma corrente contrária à evangelização.

Fiel ao mandato de Portugal – que apesar de pequenino se destacara como nação propagadora da fé e do império –, Pedro Álvares Cabral, sob a égide da Cruz de Malta, avistou o Monte Pascoal no litoral da Bahia e ali aportou, chamando a terra descoberta de Vera Cruz, e, depois, Terra de Santa Cruz. O Brasil nasce sob o influxo da Cruz e diante dela foi celebrada a primeira Missa.

Os indígenas se avolumavam em torno de grande cruzeiro e do franciscano, e seguiam juntamente com os descobridores os movimentos do rito sagrado da Missa, que renovava de modo incruento o sacrifício da Cruz. A partir de então começaram a chegar evangelizadores para difundir a fé, os bons costumes e a doutrina deixada por Jesus Cristo, povoando a nova terra de cristãos para a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

O objetivo principal dos evangelizadores era fazer dos silvícolas novos cristãos e com isso lhes conceder a maior nobreza que um homem pode receber nesta terra. Batizavam, aproximavam as crianças e os jovens dos sacramentos da confissão e da eucaristia, da assistência frequente à Santa Missa, ensinavam hinos aos índios, que assim alimentavam sua piedade e sua fé, ministravam o catecismo, enfim, pregavam o Evangelho de Jesus Cristo.

Os ministros de Deus se preocupavam em ensinar, formar e educar os indígenas na santa religião, para que pudessem viver bem nesta terra e depois conquistar o Céu. Recurso de grande importância enquanto instrumento da propagação da fé e da boa doutrina, bem como para saber portar-se com nobreza e distinção no convívio social, foi a representação de pequenas peças de teatros promovidas por Anchieta.

Com tal obra de apostolado, os evangelizadores criavam um ambiente psicológico para que os índios pudessem compreender o esplendor e a grandeza do nome cristão. Além da religião, eles procuravam constituir povoados por onde passavam, a fim de contribuir para a vida social civilizada, mesclando-se portugueses e indígenas pelo laço do matrimônio indissolúvel. Os missionários procuraram extirpar a poligamia, a libertinagem, o infanticídio, o canibalismo, as superstições e os cultos satânicos.

Os autóctones começaram a viver de maneira digna e nobre. Com isso, em todos os lugares foram constituídos igrejas, capelas, basílicas, mosteiros, casas religiosa e conventos, onde todos podiam cultuar o verdadeiro Deus. Pode-se compreender que por tão grandes feitos o Papa Leão XIII, em 1892, na encíclica “Quarto abeunte saeculo” (Transcorrido o quarto século), tenha qualificado de “façanha mais grandiosa que hajam podido ver os tempos”.

Com efeito, as sementes lançadas pelos evangelizadores da religião cristã vicejaram e frutificaram ao impregnar a atmosfera de uma brasilidade sacralizada que só a Igreja Católica podia proporcionar. Ou seja, os brasileiros foram agraciados por um clima de bênção, de bondade, de doçura, de bem-estar, de harmonia, de equilíbrio, de valor, de empreendimento e de esperança, sem lhes faltar vigor e espírito de luta.

Nóbrega e Anchieta foram os expoentes da verdadeira evangelização que fez do Brasil a maior nação católica do mundo. Há muita felicidade em ser brasileiro e muito bem-estar entre os que aqui escolheram para residir e viver. Anchieta e Nóbrega estão nas antípodas da ‘nova evangelização’ empreendida pelo Conselho Indigenista Missionário-CIMI, que não faz senão descaracterizar a identidade e o temperamento nacionais.

Na verdade, tal evangelização não evangeliza, pois seus “missionários” fazem parte de um movimento revolucionário católico-progressista incrustado no seio da Igreja, o qual não visa mais converter, e sim incrementar a luta de classe, violar os mandamentos ‘não roubarás’ e ‘não cobiçarás as coisas alheias’; numa palavra, visa apenas esborrifar gases venenosos do ateísmo marxista. Não seguem a filosofia de Jesus Cristo, mas a de Marx.

Em seu célebre livro Tribalismo Indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil do Século XXI, Plinio Corrêa de Oliveira denuncia o desvirtuamento e a meta da nova evangelização, ao afirmar que “em nossos dias, uma poderosa corrente missionária [...] visa precisamente o contrário: proclama o estado dos silvícolas como a própria perfeição da vida humana, opõe-se à integração dos silvícolas na civilização, afirma o caráter secundário – quando não a inutilidade – da catequese, e não poupa crítica à ação dos grandes missionários de outrora, nem mesmo a de Nóbrega e Anchieta, os quais o Brasil todo venera”.
E prossegue o atilado e combativo líder católico: “Do fundo de nossas selvas, esses neomissionários lançam apelos em prol da luta de classes, que desejam ver corroendo, até às entranhas o Brasil civilizado. O estudo do pensamento dessa corrente neomissiológica é indispensável para quem queira conhecer a grande crise da Igreja no Brasil e compreender de que maneira essa crise tende a contagiar o país, transformando-se, de crise da Igreja, em crise do Brasil”.
Dom Tomas Balduíno, que foi bispo de Goiás e presidente do CIMI, chegou a apregoar: “A convicção profunda dos missionários ligados à Igreja é que estes povos (e eu estou pensando, por exemplo, nos povos indígenas) são os verdadeiros evangelizadores do mundoNós, os missionários, não vamos a eles como quem leva uma doutrina ou uma evangelização que o Cristo nos trouxe e confiou, e que nós revestimos com ritos civilizados e cultos”.

Prossegue Dom Balduíno: “
Vamos a eles sabendo que o Cristo já nos antecedeu no meio deles, e que lá estão as ‘sementes do Verbo’. Temos a convicção de que eles vivem o Evangelho da Boa-Aventurança. E de que por isso se impõe a nós uma conversão às suas culturas, sabedores de que a Boa Nova do Evangelho se encarna em qualquer cultura”.

Que o leitor tire as suas próprias conclusões.


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