Padre David
Francisquini
Com a perceptibilidade própria de um profeta, José de Anchieta, o Apóstolo do Brasil, assim vaticinou o papel de nosso país no concerto das nações sul-americanas: “A terra em que sopra o Sul conhecerá o Teu nome, e ao mundo austral advirão os séculos de ouro, quando as gentes brasílicas absorverem Tua doutrina”. Com efeito, pode-se dizer que o Brasil nasceu à sombra da Cruz e com ela cumprirá a sua missão.
Qual pêndulo que move a engrenagem que
marca as horas da História, desde seu nascedouro o Brasil teve de enfrentar
lutas, guerras, batalhas de toda ordem para manter-se fiel à sua vocação. Ora
contra os calvinistas franceses que desejavam implantar aqui a França Antártica,
ora contra os holandeses tomados de ódio ao catolicismo, ora opondo-se à
resistência de nativos que tentavam formar uma corrente contrária à
evangelização.
Fiel ao mandato de Portugal – que
apesar de pequenino se destacara como nação propagadora da fé e do império –,
Pedro Álvares Cabral, sob a égide da Cruz de Malta, avistou o Monte Pascoal no
litoral da Bahia e ali aportou, chamando a terra descoberta de Vera Cruz, e,
depois, Terra de Santa Cruz. O Brasil nasce sob o influxo da Cruz e diante dela
foi celebrada a primeira Missa.
Os indígenas se avolumavam em torno de
grande cruzeiro e do franciscano, e seguiam juntamente com os descobridores os
movimentos do rito sagrado da Missa, que renovava de modo incruento o
sacrifício da Cruz. A partir de então começaram a chegar evangelizadores para
difundir a fé, os bons costumes e a doutrina deixada por Jesus Cristo, povoando
a nova terra de cristãos para a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
O objetivo principal dos
evangelizadores era fazer dos silvícolas novos cristãos e com isso lhes
conceder a maior nobreza que um homem pode receber nesta terra. Batizavam,
aproximavam as crianças e os jovens dos sacramentos da confissão e da
eucaristia, da assistência frequente à Santa Missa, ensinavam hinos aos índios,
que assim alimentavam sua piedade e sua fé, ministravam o catecismo, enfim,
pregavam o Evangelho de Jesus Cristo.
Os ministros de Deus se preocupavam em
ensinar, formar e educar os indígenas na santa religião, para que pudessem
viver bem nesta terra e depois conquistar o Céu. Recurso de grande importância
enquanto instrumento da propagação da fé e da boa doutrina, bem como para saber
portar-se com nobreza e distinção no convívio social, foi a representação de
pequenas peças de teatros promovidas por Anchieta.
Com tal obra de apostolado, os
evangelizadores criavam um ambiente psicológico para que os índios pudessem
compreender o esplendor e a grandeza do nome cristão. Além da religião, eles
procuravam constituir povoados por onde passavam, a fim de contribuir para a
vida social civilizada, mesclando-se portugueses e indígenas pelo laço do
matrimônio indissolúvel. Os missionários procuraram extirpar a poligamia, a
libertinagem, o infanticídio, o canibalismo, as superstições e os cultos
satânicos.
Os autóctones começaram a viver de
maneira digna e nobre. Com isso, em todos os lugares foram constituídos
igrejas, capelas, basílicas, mosteiros, casas religiosa e conventos, onde todos
podiam cultuar o verdadeiro Deus. Pode-se compreender que por tão grandes
feitos o Papa Leão XIII, em 1892, na encíclica “Quarto abeunte saeculo”
(Transcorrido o quarto século), tenha qualificado de “façanha mais grandiosa
que hajam podido ver os tempos”.
Com efeito, as sementes lançadas pelos
evangelizadores da religião cristã vicejaram e frutificaram ao impregnar a
atmosfera de uma brasilidade sacralizada que só a Igreja Católica podia
proporcionar. Ou seja, os brasileiros foram agraciados por um clima de bênção,
de bondade, de doçura, de bem-estar, de harmonia, de equilíbrio, de valor, de
empreendimento e de esperança, sem lhes faltar vigor e espírito de luta.
Nóbrega e Anchieta foram os expoentes
da verdadeira evangelização que fez do Brasil a maior nação católica do mundo.
Há muita felicidade em ser brasileiro e muito bem-estar entre os que aqui
escolheram para residir e viver. Anchieta e Nóbrega estão nas antípodas da
‘nova evangelização’ empreendida pelo Conselho Indigenista Missionário-CIMI,
que não faz senão descaracterizar a identidade e o temperamento nacionais.
Na verdade, tal evangelização não
evangeliza, pois seus “missionários” fazem parte de um movimento revolucionário
católico-progressista incrustado no seio da Igreja, o qual não visa mais
converter, e sim incrementar a luta de classe, violar os mandamentos ‘não
roubarás’ e ‘não cobiçarás as coisas alheias’; numa palavra, visa apenas
esborrifar gases venenosos do ateísmo marxista. Não seguem a filosofia de Jesus
Cristo, mas a de Marx.
Em seu célebre livro Tribalismo
Indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil do Século XXI, Plinio
Corrêa de Oliveira denuncia o desvirtuamento e a meta da nova evangelização, ao
afirmar que “em nossos dias, uma poderosa corrente missionária [...] visa
precisamente o contrário: proclama o estado dos silvícolas como a própria
perfeição da vida humana, opõe-se à integração dos silvícolas na civilização,
afirma o caráter secundário – quando não a inutilidade – da catequese, e não
poupa crítica à ação dos grandes missionários de outrora, nem mesmo a de
Nóbrega e Anchieta, os quais o Brasil todo venera”.
E prossegue o atilado e combativo líder
católico: “Do fundo de nossas selvas, esses neomissionários lançam
apelos em prol da luta de classes, que desejam ver corroendo, até às entranhas
o Brasil civilizado. O estudo do pensamento dessa corrente neomissiológica é
indispensável para quem queira conhecer a grande crise da Igreja no Brasil e
compreender de que maneira essa crise tende a contagiar o país,
transformando-se, de crise da Igreja, em crise do Brasil”.
Dom Tomas Balduíno, que foi bispo de
Goiás e presidente do CIMI, chegou a apregoar: “A convicção profunda dos
missionários ligados à Igreja é que estes povos (e eu estou pensando, por
exemplo, nos povos indígenas) são os verdadeiros evangelizadores do mundo. Nós,
os missionários, não vamos a eles como quem leva uma doutrina ou uma
evangelização que o Cristo nos trouxe e confiou, e que nós revestimos com ritos
civilizados e cultos”.
Prossegue Dom Balduíno: “Vamos a eles sabendo que o Cristo já nos antecedeu no meio deles, e que lá estão as ‘sementes do Verbo’. Temos a convicção de que eles vivem o Evangelho da Boa-Aventurança. E de que por isso se impõe a nós uma conversão às suas culturas, sabedores de que a Boa Nova do Evangelho se encarna em qualquer cultura”.
Que o leitor tire as suas próprias
conclusões.
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