quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Mato Grosso do Sul: CIMI no banco dos réus....


Em CPI, especialistas alegam que Cimi perdeu característica missionária

CPI do Cimi realiza primeira oitiva nesta terça-feira, dia 13 - Foto: Wagner Guimarães

O sociólogo e jornalista Lorenzo Carrasco e o jornalista Nelson Barretto, convidados para palestrar na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Cimi, foram unânimes em dizer na tarde desta terça-feira (13) que o Conselho Indigenista Missionário perdeu sua característica principal, que é de evangelizar e dar assistência aos povos indígenas.

De acordo com Carrasco, enquanto o Cimi toma como vitória o fato de trabalhar há décadas para que os indígenas possam preservar sua organização social, língua, costumes, crenças e tradições, o sectarismo imposto se traduz em prejuízo não só a eles, mas a toda a nação.

Ele defendeu a tese de que tanto o Cimi quanto a Funai (Fundação Nacional do Índio) não se interessam em integrar os indígenas com o restante da sociedade.
"As principais vítimas são os próprios indígenas, por falta de políticas públicas que impedem a convivência deles com o restante do povo brasileiro. A miséria dos indígenas é vista como folclore", disse.

Carrasco questionou o fato do Cimi e demais ONG's nacionais e internacionais de apoio aos povos indígenas só trabalharem em cima do assistencialismo, e não se voltarem ao empreendedorismo.

Para ele, o Cimi "manipula os indígenas contra os interesses dos próprios indígenas", que em sua grande maioria querem o desenvolvimento, e não a segregação.

Lorenzo Carrasco afirma que esse trabalho realizado pelo Cimi e outras organizações da mesma natureza é prejudicial à nação, pois todos os projetos desenvolvimentistas esbarram em litígios de terras consideradas indígenas.

O sociólogo negou já ter prestado serviços a entidades ligadas ao agronegócio em Mato Grosso do Sul. "Não presto assessoria ao agronegócio. Se procura algo errado, não encontrará. Sou conhecido pelos meus estudos", contestou.

Ao agradecer as informações repassadas pelo sociólogo, a presidente da CPI, deputada Mara Caseiro (PTdoB), disse que a palestra foi essencial para compreender o "modus operandi" do Conselho Indigenista Missionário.

"Contribuiu e muito para entender qual a doutrina, o real objetivo, o que pensa o Cimi. Imagino o que o senhor não tem passado esses anos todos. Imagino a pressão, pois aqui, com a CPI, também estamos sofrendo muita pressão", afirmou.

Para o jornalista Nelson Barretto, o Cimi se diz católico, mas não age como tal. Para ele, é impossível cristianizar sem civilizar, ou seja, tornar os indígenas tão capazes, estudados e competitivos quanto qualquer outro cidadão não índio.

"A doutrina dos novos missionários é contrária ao ensinamento católico. Eles acham que a vida tribal é mais interessante. Ao invés de segregar, temos de integrar o índio à sociedade. Não adianta impor aos índios uma política assistencial, é preciso trabalhar para que os indígenas se tornem empreendedores", disse.

O jornalista insinuou que esse tipo de doutrina, imposta pelo Cimi e outras organizações da mesma natureza, deixa a sociedade impregnada com esse tipo de pensamento, visto como ele como equivocado. Ele também criticou o governo federal por permitir a guerra no campo.

"Não é possível um estado ser assolado por 98 invasões. Vem o ministro da Justiça aqui, faz um papelão, como um homem despreparado, prepotente", afirmou, referindo-se ao ministro José Eduardo Cardozo, que esteve em Mato Grosso do Sul, fez promessas, mas não resolveu a questão.

Além da deputada Mara Caseiro, também participaram da sessão desta tarde os deputados Paulo Corrêa (PR), relator da CPI, Marquinhos Trad (PMDB), vice-presidente, Onevan de Matos (PSDB) e Pedro Kemp (PT), membros da comissão.

De acordo com a deputada, os próximos depoentes devem ser o antropólogo Edward Luz, o padre Ricardo Carlos, da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), o delegado de Polícia Federal Alcídio de Souza Araújo, e os produtores rurais Ricardo e Jucimara Bacha e Vanth Vanni Filho. A ordem ainda será definida pelos membros da comissão.


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