Em CPI,
especialistas alegam que Cimi perdeu característica missionária
CPI do Cimi realiza primeira oitiva nesta terça-feira, dia 13 - Foto: Wagner Guimarães
O sociólogo e jornalista Lorenzo Carrasco e o
jornalista Nelson Barretto, convidados para palestrar na CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) do Cimi, foram unânimes em dizer na tarde desta
terça-feira (13) que o Conselho Indigenista Missionário perdeu sua característica
principal, que é de evangelizar e dar assistência aos povos indígenas.
De acordo com Carrasco, enquanto o Cimi toma como
vitória o fato de trabalhar há décadas para que os indígenas possam preservar
sua organização social, língua, costumes, crenças e tradições, o sectarismo
imposto se traduz em prejuízo não só a eles, mas a toda a nação.
Ele defendeu a tese de que tanto o Cimi quanto a
Funai (Fundação Nacional do Índio) não se interessam em integrar os indígenas
com o restante da sociedade.
"As principais vítimas são os próprios
indígenas, por falta de políticas públicas que impedem a convivência deles com
o restante do povo brasileiro. A miséria dos indígenas é vista como
folclore", disse.
Carrasco questionou o fato do Cimi e demais ONG's
nacionais e internacionais de apoio aos povos indígenas só trabalharem em cima
do assistencialismo, e não se voltarem ao empreendedorismo.
Para ele, o Cimi "manipula os indígenas contra
os interesses dos próprios indígenas", que em sua grande maioria querem o
desenvolvimento, e não a segregação.
Lorenzo Carrasco afirma que esse trabalho realizado
pelo Cimi e outras organizações da mesma natureza é prejudicial à nação, pois
todos os projetos desenvolvimentistas esbarram em litígios de terras
consideradas indígenas.
O sociólogo negou já ter prestado serviços a
entidades ligadas ao agronegócio em Mato Grosso do Sul. "Não presto
assessoria ao agronegócio. Se procura algo errado, não encontrará. Sou
conhecido pelos meus estudos", contestou.
Ao agradecer as informações repassadas pelo
sociólogo, a presidente da CPI, deputada Mara Caseiro (PTdoB), disse que a
palestra foi essencial para compreender o "modus operandi" do
Conselho Indigenista Missionário.
"Contribuiu e muito para entender qual a
doutrina, o real objetivo, o que pensa o Cimi. Imagino o que o senhor não tem
passado esses anos todos. Imagino a pressão, pois aqui, com a CPI, também
estamos sofrendo muita pressão", afirmou.
Para o jornalista Nelson Barretto, o Cimi se diz
católico, mas não age como tal. Para ele, é impossível cristianizar sem
civilizar, ou seja, tornar os indígenas tão capazes, estudados e competitivos
quanto qualquer outro cidadão não índio.
"A doutrina dos novos missionários é contrária
ao ensinamento católico. Eles acham que a vida tribal é mais interessante. Ao
invés de segregar, temos de integrar o índio à sociedade. Não adianta impor aos
índios uma política assistencial, é preciso trabalhar para que os indígenas se
tornem empreendedores", disse.
O jornalista insinuou que esse tipo de doutrina,
imposta pelo Cimi e outras organizações da mesma natureza, deixa a sociedade
impregnada com esse tipo de pensamento, visto como ele como
equivocado. Ele também criticou o governo federal por permitir a guerra no
campo.
"Não é possível um estado ser assolado por 98
invasões. Vem o ministro da Justiça aqui, faz um papelão, como um homem
despreparado, prepotente", afirmou, referindo-se ao ministro José Eduardo
Cardozo, que esteve em Mato Grosso do Sul, fez promessas, mas não resolveu a
questão.
Além da deputada Mara Caseiro, também participaram
da sessão desta tarde os deputados Paulo Corrêa (PR), relator da CPI,
Marquinhos Trad (PMDB), vice-presidente, Onevan de Matos (PSDB) e Pedro Kemp
(PT), membros da comissão.
De acordo com a deputada, os próximos depoentes devem
ser o antropólogo Edward Luz, o padre Ricardo Carlos, da UCDB (Universidade
Católica Dom Bosco), o delegado de Polícia Federal Alcídio de Souza Araújo, e
os produtores rurais Ricardo e Jucimara Bacha e Vanth Vanni Filho. A ordem
ainda será definida pelos membros da comissão.
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