Aécio tenta arrumar a casa
Péricles Capanema
O Estadão de 11 de
outubro último publicou entrevista de arrumação da casa do senador Aécio Neves,
presidente nacional do PSDB. O líder tucano começa confessando, a oposição
enérgica contra o petismo da última campanha não foi a primeira escolha dos
dirigentes partidários. Achavam eles, alguma coisa mais boazinha cairia melhor
no goto do público: “Foi uma campanha que começou com um discurso até sedutor
de terceira via, que é até algo adequado e razoável”. Terceira via, vejam só,
aproveitar o melhor dos dois lados, tererê, tererê, um meio termo entre a
política petista e o quê? Claro, o fantasma do neoliberalismo. Erraram feio, o
povo, nada seduzido, queria outra coisa, nitidez e rumo contra o que estava no
poder. Virou as costas, a campanha ameaçava ir a pique. Aí mudaram rápido o
tom, o eleitorado gostou, começou a dar ouvidos. Aécio é cândido: “A dinâmica
da campanha [...] e as circunstâncias políticas permitiram que o PSDB voltasse
a falar com a sociedade”. De outro jeito, não estava conseguindo falar antes.
Evitaram assim fiasco eleitoral e saíram da campanha como a grande força
oposicionista, tendo no bolso o tantas vezes decisivo argumento do voto útil.
Parece que no início adiantou pouco a
retificação de rota. O uso do cachimbo faz a boca torta; parte boa dos tucanos
de proa perde eleitorado, mas não perde o vezo, a recaída foi rápida. Um
sintoma importante foi a declaração de Serra em Harvard, abril último: se
ufanava de estar “mais à esquerda que o PT”, a quem chamou de “reacionário”.
Outro sintoma, FHC, começo de agosto, em declarações divulgadas pela agência Deutsche
Welle, mimava Lula. Tem “muitos méritos”, história pessoal
“impressionante”, “é um líder popular”. E trotou alegre na política de
preservação: “Não se deve quebrar esse símbolo, mesmo que fosse vantajoso para
o meu próprio partido”.
Políticos mais jovens do PSDB sem o
vezo dos velhos aliados das políticas vermelhas, precisando urgentemente de
voto para consolidar a carreira, reagiram vivamente; se for para ganhar
eleições, não dava para continuar com namoricos suicidas na frente de um
eleitorado que exigia de forma crescente energia contra os desmandos da
esquerda no Brasil. Aécio de novo (já apagou esse fogo algumas vezes nas
últimas semanas) entrou em campo para rearrumar as tropas e declarou na
mencionada entrevista: “O PSDB resgatou a polarização. É o grupo político em
condições de encerrar o ciclo perverso do PT”. Polarização deixou de ser nome
feio, ficou até bonito. Foi além, reiterando denúncia gravíssima: “Nós não
disputamos contra um partido político, disputamos contra uma organização
criminosa que se apoderou do Estado e estabeleceu um terrorismo”.
Os tucanos vão continuar caminhando
nessa direção? Sei lá. Sei apenas que corresponde ao que exige um eleitorado
exasperado, onde, no meio de ebulição emocional, cada vez mais deitam raízes as
posições de princípio. Parece que agora muitos dirigentes tucanos se deram
conta, se quiserem ser, com chances eleitorais, o grupo político em condições
de encerrar o presente ciclo perverso, precisam deixar de fumar o cachimbo da
paz com as esquerdas. O eleitorado está achando muito feia essa boca torta.
(fonte: blog do Péricles Capanema)
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