terça-feira, 27 de janeiro de 2015

“Consternação e indignação” em Dilma pela execução de traficante



Pena de vida

Ruy Castro

Rio de Janeiro A execução do brasileiro Marco, condenado à morte por tráfico de drogas segundo leis constituídas de um Estado soberano, a Indonésia, provocou “consternação e indignação” em Dilma.

Consternação e indignação que não demonstrou diante dos estrangeiros degolados pelas leis de exceção de um não-Estado, o Estado Islâmico, com quem, para constrangimento internacional, ela propôs “dialogar”. Houvesse um embaixador brasileiro junto aos degoladores, Dilma o teria chamado de volta?

Assim como não se pode ser a favor da pena de morte, vale perguntar se Dilma se consterna ou fica indignada pelas multidões de brasileiros condenados à pena de vida — haverá outra maneira de definir a situação dos habitantes das cracolândias? 

Se a presidente nunca passou perto desses aglomerados subumanos, existe um a menos de dois quilômetros do Palácio do Planalto, em Brasília, e com o número regulamentar de zumbis, estropiados, grávidas e crianças. 

Dilma deveria inspecioná-lo para ter uma amostra de como vivem pessoas afetadas pelo produto que Marco vendia na Indonésia e tantos vendem por aqui.

Uma alternativa seria visitar alguma clínica séria de tratamento de dependência química. Há várias no Rio, em São Paulo e, espero, em Brasília. Nelas, uma das primeiras lições é a da quebra da prepotência — a consciência de que se é impotente diante da droga e que a única saída é ficar longe dela.


Folha de S. Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

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