domingo, 4 de janeiro de 2015

Rússia, Venezuela, Cuba e a queda do petróleo



As surpresas de um petróleo mais barato

El País // MOISÉS NAÍM

 

(Resumo do Blog)

A crise do petróleo de 1974 mudou o mundo. Até março daquele ano, o preço do petróleo havia quadruplicado: o barril passou de 3 para 12 dólares. O mundo está a ponto de descobrir que a considerável, repentina e absolutamente inesperada baixa atual do preço do petróleo poderá ser tão perturbadora como essa crise de 1974.
Algumas das repercussões da queda do preço do petróleo em todo o mundo: Rússia.
1)      O dia 15 de dezembro foi uma segunda-feira negra: a Bolsa de Moscou experimentou um retrocesso de 11% e o rublo caiu 13%, o que significa que uma quarta parte do valor em dólar das empresas com ações se evaporou em um só dia.
O Banco Central respondeu elevando as taxas de juros de 10,5% para 17%. Essa dolorosa medida continua sendo insuficiente para frear a rápida e enorme queda das reservas e a veloz desvalorização da moeda provocadas pela diminuição das receitas do petróleo (75% das exportações totais e 50% da receita pública do país), a maciça fuga de capitais e as sanções econômicas pelo conflito ucraniano.
O temor, claro, é que o beligerante Vladimir Putin semeie a cizânia no exterior para distrair a atenção da difícil situação na Rússia.
2)     Na Venezuela, a economia já estava mergulhada no caos quando o barril do petróleo se encontrava na faixa dos 120 dólares. Agora que os preços caíram para menos de 60 dólares, o Governo, conhecido pela corrupção endêmica e desastrada gestão, está perdendo o controle.
Assim mesmo, o presidente Nicolás Maduro afirmou várias vezes que a precária situação se deve a uma conspiração internacional e reagiu redobrando os ataques contra os que o criticam (como eu) e a repressão contra os políticos da oposição.
O desastre financeiro da Venezuela foi um fator importante na histórica mudança nas relações entre Estados Unidos e Cuba anunciada por Barack Obama e Raúl Castro em 17 de dezembro.
3)     A arruinada economia de Cuba se mantém flutuando graças, em grande medida, às enormes subvenções de Caracas desde que Hugo Chávez chegou ao poder em 1998.
No entanto, ultimamente ficou evidente que sustentar a economia cubana na corda de salvamento da Venezuela era uma aposta arriscada demais. A caótica situação econômica e política da Venezuela torna cada vez mais difícil que se mantenham os acordos firmados entre ambos os países nos últimos 15 anos.
Sem dúvida, a frágil situação da economia venezuelana levou os dirigentes de Cuba a se mostrarem mais dispostos a aceitar um descongelamento das relações com os Estados Unidos que certamente estimulará o comércio e o investimento na ilha.

Por conseguinte, o barateamento do petróleo também foi, de forma muito indireta, mas poderosa, um fator que contribuiu para que se ponha fim a uma política estancada e ineficaz em vigor havia mais de meio século. (...)


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