sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Ecologia radical: os cupins têm os seus direitos...



AMBIENTALISMO DE PONTA

De tanto deblaterar contra o irritante catastrofismo ambientalista, estou caminhando para convencer-me de que ele merece nossa atenção. 

A natureza precisa mesmo ser preservada, e as recomendações ambientalistas serão recompensadas com florestas respirantes cheias de índios viciados em trabalho, vorazes manadas de espécies salvas da extinção, resfriamento global de entusiasmar criadores de carneiros e produtores de lã, máquinas eficientes movidas a pedal, e tantas coisas inventáveis.

Isso mesmo! Cheguei à conclusão de que a preocupação ecológica é uma necessidade, e vou batucar no meu computador verde em favor doambientalismo de ponta. A auspiciosa novidade é que meu ambientalismo de última geração está em regime matrimonial indissolúvel com atecnologia de ponta

Admira novidades tecnológicas preservacionistas, mas fica bem longe da ecologia proibidora que todo mundo conhece e detesta. Elogia avanços tecnológicos para nenhum ambientalista botar defeito, como farei hoje.

         Você já calculou quanta madeira, lenha, gás, eletricidade se consumiriam em fogões, se não houvesse o forno de microondas? Eu também não, mas não preciso de cálculos, estatísticas e outros argumentos numéricos para aplaudir quem o inventou.

Consta-me que a façanha se deve a um engenheiro da Nasa. Ele gostava da tecnologia de ponta, mais ainda do chocolate de ponta, mas as barras que ele punha no bolso do jaleco começaram a derreter inexplicavelmente. 

Logo percebeu que havia uma fonte de calor por perto, e ela foi identificada como uma microonda. Muitos anos se passaram em testes, estudos e gasto de energia mental não poluente, e finalmente o forno foi lançado no mercado. 

Mas até hoje os ambientalistas não se lembraram de homenagear nem sequer o chocolate ecológico desse engenheiro...

Desde que Edison usou a energia elétrica para ganhar dinheiro com iluminação, muitas fontes de luz poluentes e pouco eficientes foram substituídas pelas lâmpadas elétricas dele. 

Há estatísticas para tudo, e provavelmente já foi calculado quanto gás estufante se economizou, substituindo os métodos antigos por iluminação elétrica; mesmo considerando que ela desperdiça cerca de 90% da energia produzindo calor, em vez de luz. 

Nas novas lâmpadas de LED, toda a energia se transforma em luz, portanto é uma luz “verde”. Mas não conte com o aplauso dos ambientalistas para o LED, o que pode acontecer é eles protestarem em defesa dos cupins (aleluias), que precisam perder as asas junto ao calor e luz. 

Afinal, os cupins têm os seus direitos...

Uma biblioteca doméstica geralmente não ultrapassa mil livros. Considerando o peso médio de 500 gramas, ela pesaria cerca de 500 quilos, dos quais a maior parte representada por papel. Hoje você pode transportar esses mil livros no bolso e lê-los onde quiser, usando um computador menor que um livro. 

Já foram poupadas tantas árvores dessa forma, que se justifica um selo de green books para esses livros ecologicamente corretos. Pessoalmente eu prefiro o livro de papel, mas não entendo a falta de um monumento ambientalista para os inventores dessa tecnologia.

As televisões e monitores de computador antigos eram trambolhos que usavam a tecnologia de raios catódicos. Você já imaginou o que seria um aparelho desses para obter imagens de 50 polegadas ou mais? Quanto condicionador de ar, matéria prima, energia, espaço físico? Falta um aplauso improvável dos ambientalistas para a tecnologia de ponta embutida nos raquíticos telões de LCD, LED, plasma.

Quando se evidenciou a crise energética, muitas fontes alternativas conhecidas eram inviáveis, devido ao alto custo. Intensificando-se as pesquisas, aos poucos essas fontes foram barateadas. 

A energia solar para uso residencial, por exemplo, custava cerca de doze vezes mais que a energia elétrica convencional, e atualmente o custo de ambas é quase igual. 

Na Alemanha, grande parte da energia doméstica já se produz no local, sem poluição e sem custo mensal depois de instalada. Pode até dar lucro, usando-se um medidor de energia para entrada e saída.

Os ambientalistas obteriam resultados muito melhores e mais condizentes com os seus objetivos oficiais se resolvessem incentivar inventores de tecnologias e coisas ecologicamente corretas. 

Ao invés desse ambientalismo de protestos e proibições, por que não conceder algum espaço ao progresso verde? Poderiam até organizar uma nova cantilena ecológica, e os autorizo a denominá-la como sugere o título desta crônica:Ambientalismo de ponta. E o slogan: Queremos as pontas do Jacinto!

Pelo que conheço da mentalidade esquerdista, sou muito cético sobre a possibilidade de eles caírem na realidade e passarem a elogiar tecnologias limpas como essas. Se o fizerem, comprometo-me a participar do desfile num carnaval ecológico. 

Vou até encomendar um terno verde abacate, para usar no sambódromo. Ao que parece, devo agendá-lo com meu alfaiate para o dia de são nunca...


(*) Jacinto Flecha é médico e colaborador da Abim

Nenhum comentário: